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"Dias antes de fazer 24 anos ele soube que estava infectado"

São dois ex-namorados na casa dos 20 anos que tiveram uma noite para recordar os bons velhos tempos. Um estava infectado com VIH o outro não. Por momentos tiveram sexo sem preservativo. No dia a seguir foram fazer os testes e ficaram os dois a saber que um era positivo e o outro negativo.

 

Uma entrevista do dezanove a D., um leitor devidamente identificado que prefere manter o anonimato, no Dia Mundial de Luta Contra a SIDA.

dezanove: Estava consciente quando fez sexo sem preservativo?
D: Não tenho forma de desculpar isso. Tinhamos bebido imenso, nem me lembro bem da noite. Quando nos deitámos na cama enrolámo-nos e realmente houve penetração. Foram apenas uns segundos porque quando reparei que não tinha posto preservativo empurrei-o. Foram segundos sem desculpa. O problema maior foi quando vi que tinha sangue dele...

 

dezanove: Depois disso, falaram do assunto?
D: Claro! Queria ir fazer os testes, tipo, agora! Estava em pânico. Ele dizia-me que não, que não era preciso: não tinha estado com ninguém e tinha um teste negativo recente.
 
dezanove: Mas não foi bem assim...
D: Não, lá consegui convencê-lo a ir fazer o exame, quase obrigado. Fomos ao centro de testes no Príncipe Real [CheckpointLx] e aí é que o caldo se entornou. Ele fez, eu não porque tinha feito nessa semana. Esperei, esperei e voltei a esperar. Depois mandou-me uma mensagem para ir lá dentro. Quando entrei no gabinete ele estava sem casaco e com as mangas da camisa arregaçadas. Percebi que tinhamos ali um problema.
 
dezanove: E depois?
D: Depois foi choradeira, foi raiva, foi sair dali e ir para o Hospital Santa Maria. 
 
dezanove: Como foram recebidos?
D: Não costumo usar o Serviço Nacional de Saúde. Foram fantásticos. Tive de contar a história a várias pessoas, a chorar cada vez que abria a boca e todos, sem excepção, queriam ajudar-nos. Estivemos lá umas quatro ou cinco horas, mas fizemos exames, esperamos os resultados e tivemos umas três consultas. Sempre separados. Comecei a tomar uma medicação.
 
dezanove: Que tipo de medicação?
D: Uma profilaxia de prevenção. Basicamente ajuda a travar a infecção e bloqueia o vírus. Não serve como pílula do dia seguinte, é o que me perguntam logo. Serve para... eu acho que para nos entreter. Mas dizem que ajuda a prevenir. Eu tomei todos, de seis em seis horas, durante 20 e tal dias. Foi uma tortura. Aquilo tem imensos efeitos secundários: parecia um zombie, com diarreias e vómitos. Sentia-me grávido (risos).

 

dezanove: Agora parece falar disso com alguma ligeireza...
D: Mas é agora. Eu ria-me na altura, mas de nervoso. Tive de ser seguido por um psicólogo porque desatava a chorar no trabalho. Quando me faziam rir vinha-me à cabeça: "Ri-te, ri-te que daqui a um mês choras". Não disse a ninguém com vergonha. Guardei tudo para mim. Confesso que nunca tive tanto medo. Não me podia matar! Não ia ser conhecido como "aquele amigo que se suicidou". Mas também não queria viver com VIH. 
 
dezanove: Mas isso não é uma sentença de morte, sabe disso?
D: Para quem não tem é. E na altura é como se fosse. Olho para o meu 'ex' e é verdade. As coisas compõem-se. Ele nem vai ter de tomar nada porque está tudo muito no início. Mas a dúvida de ter ou não ter. Aquela sensação de impotência ia-me deixando louco.
 
dezanove: E agora como se sente?
D: Agora já fiz os últimos testes. São negativos, graças a Deus e a todos os anjinhos. 

 

dezanove: Qual é o seu sentimento em relação a ele?
D: Tenho pena. Tenho simplesmente pena. Dias antes de fazer 24 anos ele soube que estava infectado. Não desejo isso a ninguém, mas no fim de contas ele quase me transmitiu VIH. Custa-me ver alguém que já me foi querido assim. Sinto-me impotente. Hoje ainda não percebo porque me mentiu. Eu podia estar infectado porque ele me mentiu. Pergunto-me se fará isso a outros ou se foi alguém que lhe fez isto.
 
 

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