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Carla Antonelli: "Temos todos de lutar pela nossa igualdade e pela dos outros"

Carla Delgado, conhecida por Carla Antonelli, a primeira deputada transexual de Espanha, actriz e activista pelos direitos das pessoas LGBT, estará este Sábado, em Lisboa, para uma tertúlia subordinada ao tema “Políticas Trans: Qual o futuro?

Em entrevista exclusiva ao site de notícias e cultura LGBT, dezanove.pt, Carla Antonelli explica, a partir da sua experiência de vida de cidadã, o que a traz a Portugal, mais concretamente ao Centro LGBT, em Lisboa, este Sábado, 7 de Julho, a partir das 21 horas.

 

dezanove: Deixe um convite a quem ainda não sabia ou ainda não decidiu que pode este Sábado ouvi-la falar da sua experiência e das políticas trans.

Carla Antonelli: Em primeiro lugar tenho de agradecer à associação ILGA Portugal pelo convite e por esta oportunidade. Venho cá sobretudo partilhar. Partilhar as experiências do meu país e desta maneira nos possamos enriquecer: portugueses e espanhóis. Portugal também viu aprovada a sua Lei de Identidade de Género. Agora é ver o que temos e o que faz falta. Sobretudo nesta altura em que se fala muito de crise haverá sempre alguém que nos vai dizer que há coisas mais importantes a fazer. É precisamente isso que importa combater. A última coisa que devemos fazer é secundarizar as nossas próprias discriminações e fazerem-nos acreditar nisso. Temos de dizer não. Porque direitos e as outras questões podem acontecer ao mesmo tempo. A grande questão aqui é que temos todos de lutar pela nossa igualdade e pela dos outros.

 

Esta semana que passou soube-se que o recurso que o Partido Popular espanhol interpôs com vista à anulação da lei do casamento entre pessoas do mesmo em Espanha foi considerado inconstitucional. Como foi viver essa angústia de sete anos dentro do movimento LGBT?

Soubemos no dia 30, dia do Orgulho LGBT de Madrid, que tal iria acontecer e a notícia mitigou a nossa angústia. Ao longo de sete anos desdobramo-nos em inúmeras iniciativas de visibilidade tertúlias, debates, vídeos e quando o PP foi eleito governo a angústia aumentou. A Direita e a Igreja conseguem usar verdadeiros discursos de ódio para discriminar.

 

A Argentina aprovou em Maio a primeira lei de identidade de género despatologizante do mundo. Será esta lei a ideal ou uma lei que torna o acesso demasiado facilitado e simples a quem quer mudar de identidade?

Vamos por partes: Em Espanha a lei conseguiu a utopia. A lei conseguiu que não fosse preciso a cirurgia nos genitais para mudar o nome no registo. Às outras leis cabe melhorar o que existe e por isso são bem-vindas. Tal como a lei portuguesa complementou a espanhola. E isso é bom. Não há que ser alarmista quando as leis se expandem. Esse é o raciocínio de quem não quer as leis. Ao legislador cabe ver que a lei seja cumprida e não deixar de a fazer com receio que haja casos esporádicos de inadequação. Isto é, não é pelo incumprimento de duas pessoas que vamos impedir o acesso a outras mil.

 

O que é que as leis de identidade de género na Península Ibérica (2006 e 2011, em Espanha e Portugal respectivamente) trouxeram às pessoas transexuais?

Dignidade. Isso é o mais importante. Ter acesso ao mercado laboral da mesma forma, ter um bilhete de identidade que represente a pessoa, que não a faça passar por situações humilhantes ao arrendar uma casa ou quando se candidata à universidade, por exemplo.

 

Quando foi eleita afirmou que iria assumir o compromisso de legislar para além da T[ransexualidade], mas para todos os madrilenos. Tem denunciado inúmeros casos de injustiças e tem a cargo várias áreas. Fale-nos um pouco do seu trabalho enquanto deputada do PSOE para a região autónoma de Madrid.

Tenho a meu cargo o tema das Famílias, Menores e Assuntos Sociais, sou responsável por uma comissão da Telemadrid [canal regional espanhol] e pela celebração do Dia Internacional de Luta contra a Homofobia e Transfobia entre vários outros assuntos.

 

Os madrilenos abordam-na com mais frequência agora que é deputada e a lei que reconhece a sua identidade existe? O que mudou?

Ter participado na campanha eleitoral e ter ido às pequenas aldeias de mil e tal pessoas falar para os avozinhos, que pela primeira vez ouviram uma mulher transexual a falar foi o melhor que pude fazer pela normalização da transexualidade. Foi efectivamente sair das fotos das revistas e ir ter com as pessoas. A grandeza da democracia é que as pessoas transexuais passaram de golpeadas e maltratadas nas esquadras de polícia no tempo do Franquismo para hoje sermos vistas de frente. E isso sim, pode fazer-se através de um parlamento que nos lembra que podemos, e devemos, estar presentes em todos os âmbitos do tecido social pela normalização.

 

Mais respostas de Carla Antonelli serão publicadas em breve no dezanove.pt

 

Paulo Monteiro

 

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