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Alice Moderno e Maria Evelina: Especulações sobre uma possível história de amor

Pesquisar sobre a vida de uma personalidade pode ser misteriosamente difícil quando se fala de Alice Moderno. A escassa e pouco acessível informação aliada às informações contraditórias são um amontoado de becos sem saída e inversões de marcha.

Depois de uma semana de avanços e recuos, hoje, 8 de Março, também quero reescrever a história à minha maneira.

 

Alice Moderno nasceu em Paris em 1867 e muda-se para os Açores com a família ainda antes dos 20 anos. É conhecida por ter sido a primeira mulher a frequentar o liceu (hoje Liceu Antero de Quental), por usar cabelo curto e por fumar em público.

Foi escritora, jornalista e empresária. Fundou e dirigiu jornais onde partilhava as suas convicções e ideais. Foi acérrima defensora da igualdade de direitos e protectora dos animais, tendo fundado a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais. Socialmente influente, movia-se no meio da cultura e interessava-se por política. De ideais feministas e republicanos, fez parte da Liga Republicana de Mulheres Portuguesas, impulsionou e estimulou a instrução a crianças do sexo feminino.

Quem escreveu sobre a sua vida amorosa, menciona a relação que teve com Joaquim Araújo, cônsul em Itália, com quem se correspondia e iria(?) casar se este não tivesse falecido.

No seu primeiro romance dedicado ao falecido avó, Alice Moderno diz esperar poder um dia descansar junto a ele no jazigo da família em Père Lachaise.

 

Maria Evelina de Sousa, natural de São Miguel(?), foi professora primária e directora da "Revista Pedagógica". Feminista e republicana, também fez parte da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e da Associação de Propaganda Feminista.

Em 1911 funda um museu inserido numa escola primária na freguesia de Santa Clara, em Ponta Delgada. Alice Moderno, que normalmente não falava em público, comparece e intervém. Maria Evelina escrevia com frequência no jornal "A Folha" fundado por A.M., na secção de "Composições Charadísticas" (na imagem, datada de 18 de Março de 1909) sobre amores que não se conhecem.

Igualmente fundadora da Sociedade Micaelense Protectora dos Animais, durante décadas as duas mulheres acompanharam-se e apoiaram-se nos seus trabalhos sociais, pela valorização da educação, dos direitos das mulheres e defesa da Natureza.

Durante mais de 40 anos, Alice Moderno e Maria Evelina partilharam as suas vidas, lutas e projetos.

A "amizade" entre as duas foi criticada na sociedade micaelense, abastada de moralismos e conservadorismo que perduram, atirando a relação de ambas para a clandestinidade.

 

Alice Moderno morre a 20 de Fevereiro de 1946 e 8 dias depois morre Maria Evelina. Terá sido desgosto? Suicídio? Incapacidade de lidar com a ausência de A.M.?

As suas mortes não lhes trouxeram reconhecimento pelo trabalho incansável de desenvolvimento social, nem tão pouco pela ousadia em derrubarem normas. Muito pelo contrário, foram esquecidas e silenciadas, inviabilizando assim também a sua sexualidade.

Ao contrário do que pensou na sua juventude, a última morada de Alice Moderno não foi no jazigo da família no cemitério de Père Lachaise em Paris mas sim no seu próprio, que adquiriu em Ponta Delgada. Deixado ao abandono, em estado de degradação, tive oportunidade de visitá-lo há dias no aniversário do seu falecimento. Os vidros partidos permitem ver o interior onde podemos reparar na existência de um segundo caixão, que poderia ser anónimo se não tivesse uma fita caída com o nome de Maria Evelina de Sousa.

Pasmem-se! Contra tudo e todos, tal como em vida, Maria Evelina e Alice Moderno continuam lado a lado, derrubando as regras e opressões, para toda a eternidade.

Em dia de luta, a nossa melhor homenagem só pode ser recordá-las, ou melhor: recuperá-las!

 

Cassilda Pascoal

 

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