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7 perguntas e respostas sobre o encontro fetichista gay de Lisboa

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O primeiro encontro internacional gay fetichista alguma vez realizado em Portugal está quase aí. Fomos falar com um dos responsáveis para saber o que vai acontecer entre 28 e 30 de Setembro em vários espaços da capital. Pelo caminho ficamos a saber mais sobre fetiches e o Gear Clube Portugal.

 

 

dezanove: Que objectivos pretendem alcançar com a realização este encontro? Onde se inspiraram?

Zé Pedro: O LMF - Lisbon Meets Fetish (LMF) pretende inserir Lisboa no roteiro internacional de eventos gays fetichistas. Lisboa é das poucas capitais europeias a menosprezar quer esta comunidade quer este segmento de mercado, facto que desejamos corrigir.

O LMF surge como oportunidade de estabelecer parcerias locais e com o estrangeiro, de captar investimento, de criar novas dinâmicas de sociabilidade e divertimento. Terá os seus momentos exclusivos, mas, por definição, o LMF é um evento aberto à comunidade.

O Gear Club Portugal (GCP) procurou criar um fim-de-semana à semelhança de outros congéneres europeus, mas ajustado à nossa escala. O facto de sermos pequenos não é, por ora, um handicap, permite uma programação mais acolhedora, o que é cativante aos olhos estrangeiros. Não estamos a concorrer com ninguém. Estamos a criar um espaço para Portugal e que possa marcar a diferença. Gostaríamos que daqui a dez anos o LMF fosse, não só uma marca da cidade de Lisboa, mas uma referência internacional deste tipo de eventos. Estamos a trabalhar para que isso aconteça.

Estamos a criar um espaço para Portugal e que possa marcar a diferença. Gostaríamos que daqui a dez anos o LMF fosse, não só uma marca da cidade de Lisboa, mas uma referência internacional deste tipo de eventos.

 

Que actividades tem vindo a desenvolver o Gear Clube Portugal? De que forma os interessados podem juntar-se?

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As actividades do Gear Club Portugal (GCP) estão disponíveis para consulta online no nosso website https://gearclubportugal.wixsite.com/home e na nossa página do Facebook, https://www.facebook.com/gearclubportugal.page/. Temos um evento no último Sábado de cada mês, o Social Drink, no bar Tr3s e, graças à parceria com o Bar Cru, as festas Hard! – The Fetish Party, todos os primeiros Sábados de cada mês.

Todos os interessados são bem-vindos. Estamos sempre disponíveis para responder a qualquer dúvida, esclarecimento, etc. É só enviar mensagem no Facebook ou através do nosso email gearclubportugal@gmail.com.

 

Para os leigos na matéria, como descreveriam os fetiches que iremos poder ver e desfrutar neste evento?

O motivo pelo qual o nosso clube utiliza a palavra “gear”, roupa, prende-se, exatamente, com a matriz que preside a todas as associações congéneres, o gosto (e a excitação sexual daí decorrente, óbvio) de usar determinado tipo de roupa em materiais específicos, tipificados na última metade do séc. XX nas seguintes categorias: cabedal (leather), borracha (rubber), uniformes-militar, desportivo (sports) e skinhead. Mais recentemente surgiram sub-categorias que têm vindo a ganhar adeptos e que terão lugar em futuras edições do LMF (biker, puppy, underwear, suits, botas cowboy, etc.).

A grande maioria dos nossos membros e de quem nos visita é adepto de cabedal. Haverá quem esteja em borracha, até porque o Mr Rubber Spain, um português radicado em Barcelona, estará presente no LMF’18.

Atenção que estes fetiches obedecem a figuras tipo e têm as suas regras muito fechadas (daí que em alguns eventos apareça o termostrict dresscode, “guarda roupa estrito”, ou seja, acesso apenas para quem obedeça integralmente a estas regras).

 

aqui noticiamos, mas por onde vamos poder encontrar o festival a decorrer? O que está previsto acontecer em cada bar?

Bar Cru é o principal actor deste fim-de-semana. Desde a primeira hora tem apoiado o LMF! De 14 eventos agendados, cinco decorrem no Bar Cru, o único espaço que desenvolveu uma programação própria para o LMF’18 em parceria com duas marcas estrangeiras, a Addict e o MrB Amsterdam. 6ª feira, 28 Setembro, terá duas festas, Dark Cruising (17h-21h) e Fetish Addict (21h-05h); Sábado, 29 Setembro Dark Cruising (17h-21h) e Playgrounds MrB (21h-05h); Domingo, 30 Setembro, Fetish Meets Naked (17h-02h), a festa de encerramento oficial do LMF’18.

Fetish Addict 2018.jpgPlaygrounds 2018.jpg

Depois temos o Bar Tr3s, que apoia o GCP desde a sua fundação em 2014, e a quem estamos igualmente gratos. É aí que vai decorrer o Social Drink – GCP 4th Anniversary (22h30), sábado 29 Setembro. É um evento especial, pois não só comemoramos o 4º aniversário do GCP como será leiloado um desenho do Paul Fraser para ajudar na recolha de donativos para o CheckpointLx.

Temos ainda o evento Welcome Drinks, 28 Setembro, 23h, no Bar Pride Burlesque, o Be Yourself – Leave Your Mark, 29 Setembro, 18h30, no Corvo Príncipe Real, onde vai decorrer uma sessão fotográfica e entrevistas, e o Farewell Drinks, no Jardim do Príncipe Real.

A festa que o Construction Lisbon Club promove dia 29 não faz parte integrante da programação do LMF’18, mas haverá facilidade de acesso a todos os participantes e convidados que queiram ir. É uma parceria diferente mas, igualmente, bem-vinda! O LMF'18 é a prova de que diversos estabelecimentos podem colaborar, de maneiras diferentes, para um bem comum. 

 

Quantos participantes esperam receber do estrangeiro?

Neste tipo de eventos poucos se fazem anunciar, consultam o programa e simplesmente aparecem. Recebemos muitos pedidos de esclarecimentos e intenções de estar presente. Esperamos receber c.50 participantes estrangeiros. De realçar que, deste número, 25 são “individualidades” da cena fetichista internacional, encabeçados pelo Secretário-geral da ECMC (European Confederation of Motorcycle Clubs, a associação europeia das diversas associações fetichistas gays nacionais), o Mister Leather Europe 2018, naquela que será a sua última presença em eventos internacionais enquanto titular, os Mister Leather 2018 Bélgica, Espanha e Suíça, o Mister Rubber Espanha 2018, e presidentes e membros de associações espanholas, francesas, belgas, suíças e holandesas. Temos ainda visitantes da Austrália, EUA, Polónia e Reino Unido.

 

Considera os Portugueses um povo de tabus? O que falta para que os Portugueses admitam os seus fetiches (se é que têm de admitir).

É quase cómico pensar que o povo que deu ao Mundo a palavra “fetiche” [feitiço] é, por comparação, dos mais acanhados em admitir os seus fetiches (nas suas múltiplas acepções). É ainda mais cómico quando, visivelmente, muitos portugueses têm fetiches e incorporam-nos no seu dia-a-dia, ajudados pelo piscar d’olhos constantes que a moda mainstream faz aos vários fetiches e assim, julgam eles, passam despercebidos, contornando a velha mentalidade portuguesa “publicas virtudes, vícios privados”.

Ser fetichista implica meios financeiros para montar um guarda-roupa e, como é sabido, infelizmente há muitos portugueses que não conseguem fazer face a despesas correntes quanto mais… Um uniforme básico em cabedal (calças, camisa, colete, gravata, blusão, botas e luvas) não custa menos que 2.000€ e de rubber c.500€. Há sempre a hipótese de comprar em 2ª mão, infinitamente mais barato mas nem sempre apelativo. Esta questão é um grave entrave.

Ser fetichista implica meios financeiros para montar um guarda-roupa e, como é sabido, infelizmente há muitos portugueses que não conseguem fazer face a despesas correntes.

No geral, os portugueses esquecem-se da velha máxima, “a união faz a força”. O LMF procura normalizar a relação da sociedade portuguesa com os fetichistas, é a oportunidade para, aos poucos, esvaziar o preconceito, quebrar o tabu. É, ainda, a oportunidade de integrar os portugueses numa rede fechada, contornando assim o facto de muitos não terem meios para viajar e estar presentes em eventos congéneres.

O GCP acredita que todos devem admitir para si próprios o que são, sob risco de serem infelizes e amputarem das suas vidas algo que, certamente, os completaria. Não é vergonha nenhuma ser fetichista. Se o têm que admitir publicamente? Depende da vontade de cada um em fazer parte de uma comunidade e se encontram espaço para si nessa comunidade. O LMF pretende ser uma ajuda direccionada nesta matéria.

O LMF procura normalizar a relação da sociedade portuguesa com os fetichistas, é a oportunidade para, aos poucos, esvaziar o preconceito, quebrar o tabu.

 

Conseguiram o não menos importante apoio da Câmara Municipal de Lisboa para este evento. O que representa a mensagem de Fernando Medina?

Não foi pedido qualquer tipo de apoio formal à CML, ainda que, de futuro, talvez seja necessário. 

A mensagem do senhor Presidente da Câmara foi uma grata surpresa para nós e acarreta uma dose suplementar de responsabilidade para o GCP enquanto organizador do LMF, ter a concordância tácita da CML! Convém esclarecer que esta mensagem não chegou através de “cunha” ou contacto por interposta pessoa. O GCP fez uma exposição escrita ao gabinete do Dr. Fernando Medina, solicitando uma mensagem de boas-vindas a todos os participantes do LMF e ele acedeu, facto que muito nos honra. O conteúdo da mensagem vem reforçar a nossa ideia de que Lisboa merece, por direito próprio, estar inserida neste roteiro de eventos internacionais, enquanto uma cidade aberta ao Mundo e que procura a tolerância como ferramenta para combater os problemas presentes e futuros. Das palavras à acção vai sempre uma distância, é certo, mas depende de todos nós encurtarmos o caminho.

Lisboa merece, por direito próprio, estar inserida neste roteiro de eventos internacionais, enquanto uma cidade aberta ao Mundo e que procura a tolerância como ferramenta para combater os problemas presentes e futuros.

 

Entrevista de Paulo Monteiro

 

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