"As pessoas trans continuam a não ter cuidados de saúde acessíveis e inclusivos"
Comecei a interessar-me pelo estudo da “identidade de género” na perspectiva das ciências sociais ainda antes da morte de Gisberta.
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Comecei a interessar-me pelo estudo da “identidade de género” na perspectiva das ciências sociais ainda antes da morte de Gisberta.
O telefone tocou a meio da tarde. Era o Sérgio [Vitorino]. Estava muito frio, não queríamos sair da cama. A única coisa que entendi foi que teriam encontrado um “travesti” morto, com sinais de tortura no corpo, numa construção abandonada no centro do Porto.
A morte de Gisberta chegou como um murro no estômago – sem aviso, sem forma de nos protegermos da dor, sem recursos para interpretar aquilo que não podia se não causar-nos a maior perplexidade.
Definitivamente, o ano de 2006 foi, para mim, um ano terrível. O ano em que perdi dez quilos em poucos meses, como denuncia, para quem me conhece, a foto que acompanha este texto, tirada na Marcha de Lisboa desse ano. Um ano de morte. A morte simbólica da minha vivência – até então sem “contraditório” – de uma cidade do Porto feita apenas de afectos e generosidade; o desaparecimento da minha mãe após demasiado tempo de sofrimento, falecida poucos meses depois dos factos que motivam este artigo e de quem me encontrava a cuidar praticamente a tempo inteiro quando soou o primeiro alarme de que algo pavoroso tinha acontecido num prédio inacabado da Invicta, às mãos de um grupo de catorze rapazes com idades entre os 12 e os 16 anos. Cada um deles, diga-se, simultaneamente algoz e vítima de maus-tratos na infância, a confirmar que a linguagem de violência é muitas vezes de novo reproduzida porque a conheceu na pele e nunca conheceu outra.
Assinala-se no próximo dia 22 de Fevereiro o décimo aniversário do bárbaro e macabro assassinato de Gisberta Salce Júnior.
Assiste a uma comovente interpretação de Rita Ribeiro sobre um dos episódios mais trágicos da história recente do nosso país. O episódio transfóbico ocorrido no Porto em 2006 serve de mote para o desencadear das recordações de infância e juventude do "menino" tão desejado por aquela família, a que agora a mãe de "Gisberta" sozinha em palco dá voz.
Assiste ao brilhante e comovente solilóquio de Rita Ribeiro na pele da mãe de Gisberta. Ao longo da peça, parcialmente baseada em factos reais, a mãe de Gisberta descreve a infância e juventude da pessoa que para ela sempre foi o "seu menino". Sozinha em palco, a actriz transporta-nos para o passado de uma história cujo desfecho chocou o país no ano de 2006. A peça está em cena no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Rita Ribeiro é a protagonista da multipremiada peça de teatro que regressa esta quinta-feira, dia 17 de Julho, em Lisboa. Baseada em factos reais "Gisberta" contra a trágica história da mãe que soube da morte da filha Gisberta Salce Júnior ocorrida no Porto em 2006.
O dezanove tem seis convites individuais para os leitores que queiram ver esta peça este Domingo (dia 20) às 17 horas,desta vez no Cinema São Jorge.
O Teatro Rápido, situado no Chiado em Lisboa, levará à cena a peça “Gisberta”. A peça contará com Rita Ribeiro no papel de Angelina. A actriz desempenhará o papel da mãe de Gisberta Salce Júnior, que foi brutalmente assassinada no Porto, em 2006, após três dias consecutivos de uma violência física e moral sem precedentes em Portugal.
Está marcado para esta sexta-feira, 22 de Fevereiro, às 11h, na Rua Santa Catarina, no Porto, uma concentração para assinalar o sétimo aniversário do assassinato de Gisberta. A iniciativa é das Panteras Rosa e do Portugalgay.pt. O objectivo é fazer sete minutos de silêncio em memória de Gisberta. Será lido e distribuído um comunicado.
A 22 de Fevereiro de 2006 Gisberta Salce Júnior foi encontrada morta num poço de um prédio abandonado da cidade do Porto. As características macabras que envolveram o crime, praticado por adolescentes institucionalizados que a agrediram, torturaram e molestaram sexualmente durante três dias, chocou a sociedade portuguesa. Desde então o termo transfobia passou, como nunca, a fazer parte do léxico dos activistas LGBT.
A 22 de Fevereiro de 2008, dois anos após o assassinato de Gisberta, o deputado do Bloco de Esquerda José Soeiro organizou a primeira audiência parlamentar que contou pela presença de pessoas trans. Agora, é o responsável pelo projecto do Bloco que pretende simplificar a mudança de sexo e de nome próprio no registo civil e que será discutido na Assembleia da República na quarta-feira. Em entrevista ao dezanove, José Soeiro sustenta que existe uma maioria para aprovar as mudanças à lei e aponta alguns caminhos que podem ser seguidos para diminuir a discriminação de que as pessoas trans são alvo.
dezanove: Acredita que a lei de mudança de género tem condições para reunir uma maioria no Parlamento de forma a que seja aprovada na próxima quarta-feira?
José Soeiro (JS): Sim. O Bloco apresentou em Junho o seu projecto. Uns meses mais tarde, o governo apresentou também a sua proposta, que pretende responder às mesmas preocupações que o projecto de lei do Bloco. Basicamente, reconhecer a identidade de género das pessoas transexuais e retirar todo o processo de alteração do registo do sexo e do nome dos tribunais. Em Espanha uma lei idêntica foi aprovada no Senado sem votos contra. Creio que em Portugal haverá uma maioria para passar estes dois projectos.
Como é que encara a forma como a imprensa tem retratado este assunto? É um sinal de que ainda existe muito desconhecimento sobre a questão trans em Portugal?
As pessoas trans são o grupo mais invisível da comunidade LGBT. Frequentemente, a imagem pública que se constrói dos e das trans é uma caricatura, entre a pura confusão com a realidade travesti e o retrato da prostituição. Felizmente, tem havido alguns trabalhos jornalísticos que têm dado tido uma maior atenção no tratamento desta população, restituindo-lhe a palavra própria e a dignidade de serem respeitadas.
Os transexuais, já referiu por várias vezes, são o grupo social com a taxa de desemprego mais alta, provavelmente à volta dos 90%. Para além da aprovação da nova lei, o que é que pode ser feito para diminuir esta discriminação?
Tem de haver muito trabalho cultural e social, muito mais visibilidade, maior auto-organização, uma educação contra os preconceitos, maior informação sobre a sexualidade e as identidades de género. Tem de haver formação para quem trabalho nos serviços públicos, dos hospitais à polícia. Tem de haver provavelmente medidas de discriminação positiva em várias áreas.
Nota: Vídeo editado pelo Esquerda.net, site oficial do Bloco de Esquerda
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