Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Dezanove
A Saber

Em Portugal e no Mundo

A Fazer

Boas ideias para dentro e fora de casa

A Cuidar

As melhores dicas para uma vida ‘cool’ e saudável

A Ver

As imagens e os vídeos do momento

Praia 19

Nem na mata se encontram histórias assim

"Amo cada detalhe, recanto e reviravolta dela"

M. e A. são duas jovens de 21 e 25 anos que vivem em Braga e em Coimbra. Namoram há um ano, quatro meses e 20 dias. Não se assumem de forma pública devido à família. Segundo uma das entrevistadas é impensável que os seus pais saibam lidar com a discriminação que a sua sexualidade pode provocar.

 

dezanove: Como e há quanto tempo se conheceram? Assinalam de alguma forma a data desse aniversário?

M e A: Conhecemo-nos no site da rede ex aequo, um site português de LGTB’s que tem opção de chat. Inicialmente conversávamos em grupo, até que no dia 24 de Outubro de 2013 passamos a falar através de Skype só entre nós, por tanto hoje faz exactamente um ano, quatro meses e 20 dias que começámos a falar e nos conhecemos.

As datas que assinalamos são o Dia d@s Namorad@s, 24 de Outubro e o 19 de Novembro porque é a nossa data de namoro, primeiro encontro e primeiro beijo, e que celebramos todos os meses. Por norma optamos por celebrar estas datas estando juntas, mas caso não consigamos tentamos estar mais tempo em videochamada e surpreender a outra com algum gesto mais carinhoso, seja mensagem, texto, chamada ou alguma coisa que tenha algum impacto.

 

O que vos fez apaixonar?

M: Tudo o que ela é e somos juntas. A facilidade de conversa, a sua fluidez e espontaneidade, a confiança inata, a sensação de magia, a sensação de friozinho na barriga, a cumplicidade crescente e evidente. Todas as semelhanças, todas as diferenças. O facto de ela ser introvertida, ter extrema dificuldade em falar e confiar em alguém, a fobia social, a incapacidade de abraçar alguém, contrastando em pleno com a minha forma de ser. O esforço dela para tornar o difícil mais fácil. O olhar penetrante dela, a doçura do sorriso, o toque e cheiro dela, a intensidade dela ser e da sua presença. O belo ser humano que ela é. Os gestos e actos de carinho espontâneos. O facto de a conhecer para saber lê-la nas suas reacções. A sorte que sinto por ela confiar em mim… tanta coisa, apaixonei-me sem me aperceber mas com uma vontade enorme de agarrar esse amor. Amo cada detalhe, recanto e reviravolta dela. Amo a sensação de felicidade e sorte que só ela me dá. Ela completa-me, em tudo! Não existe forma de a conhecer sem a amar.

A: Não sendo eu uma pessoa boa com palavras é-me de certa forma difícil explicar o porquê, mas existem sempre aquelas pequenas coisas que a pessoa faz, ou a forma de agir da pessoa que faz com que de repente te apercebas que te estás apaixonar. Desde o início sempre houve uma certa ligação, a sua maneira de ser é algo que admiro, o facto de sempre me fazer sentir bem em ser como sou, sendo que posso dizer que sou uma pessoa bastante difícil de lidar, e ela foi me sempre surpreendendo com pequenos gestos e forma de agir em relação a mim, que para ela pode não parecer algo de mais, mas que para mim tinham um significado enorme e aí vais-te apercebendo que te estás a apaixonar, e que simplesmente um sorriso dessa pessoa te faz sorrir ou até mesmo apenas pequenos gestos e sentes que essa pessoa te completa.

 

A falta de visibilidade pública na vossa relação é forçada ou uma opção vossa?

M: Forçada porque vivo com os meus pais. Eles sabem que sou lésbica, que namoro com uma mulher mas não aceitam e não seriam capazes de lidar com visibilidade pública, preconceito e opinião da sociedade. É impensável achar que os meus pais eram capazes de lidar com a crítica ou discriminação quanto à minha sexualidade, por isto, sinto-me “obrigada” para que salvaguarde a minha família de algumas coisas. Sendo que não deixo de ter a sensação que nisso tem alguma escolha da minha parte, porque como quero que eles aceitem, procuro ser paciente sem os sujeitar repentinamente a problemas dos quais eles ainda não arranjaram formas de lidar.

A - É uma opção uma vez que eu ainda não me assumi, sendo que quero ser independente antes de isso acontecer, isto é ter um trabalho, ganhando o suficiente para sair de casa e sustentar-me a mim mesma, para que lhes conte com calma.

 

1.jpg

Como é a vossa relação com familiares e amigos?

M: Os meus amigos são soberbos. Todos os elogios seriam poucos, honestamente. Eles sempre me aceitaram pelo que sou, estão sempre disponíveis para ouvir-me sobre a minha orientação e mostram-se orgulhosos. Todos eles abraçaram-me quando lhes contei e todos me disseram que me amavam como eu sou e que não se importavam quem eu amasse, desde que eu fosse feliz. Foi fácil manter a amizade, ninguém se afastou e tornou tudo ficou mais fácil. Aproximou-me ainda mais dessas pessoas e sinto uma enorme gratidão para com todas elas.

Quanto aos meus familiares, a história foi bastante diferente e foi e continua a ser  horrível. Das três pessoas mais próximas de mim, a minha mãe foi quem reagiu pior. A nossa relação mudou drasticamente. Ainda hoje sinto que deixei de ser digna ou merecedora do seu carinho. O meu pai não demonstra apoio, mas aceita-me, respeita-me e a nossa relação, após oscilar, resolveu-se. A minha avó, de 70 anos, após uma péssima reacção, passou a ser quem melhor me aceita e age naturalmente comigo. Os poucos familiares que sabem aceitam-me. Uma tia demostrou total apoio em relação à minha sexualidade o que me fez aproximar ainda mais dela.

A: Contei a poucos amigos, mas todos aqueles que sabem que sou LGTB sabem que namoro, mas não deixa de ser um número reduzido de pessoas. Felizmente, nada mudou na relação que tenho com essas pessoas, pois todas elas aceitaram bem. A primeira pessoa a quem contei disse que não importava quem eu amasse e que ele estaria lá para mim sempre que eu precisasse e isso foi muito importante para mim.

 

Algum familiar vosso insiste para arranjarem namorado?

M: Ultimamente essa insistência tem diminuído, mas houve alturas em que parecia que me queriam forçar a ter um namorado.

A: Ultimamente não, mas por vezes existe sempre aquele comentário de que deveria arranjar um namorado e é de que precisava de um.

 

Quando o contexto é o local de trabalho como abordam a vossa relação? Omitem, mentem?

M: É um pouco de tudo, mas depende da situação. Por norma opto por não falar e omitir, porém, também acho que é uma coisa que só a mim me diz respeito. Quando as pessoas do local de trabalho ou da escola se tornam meus amigos pessoais,  conto-lhes. Até agora nunca tive uma má reacção.

A: De momento estou desempregada, mas quando trabalhava ou andava na escola nunca contei.

casais lésbicas apaixonadas amor.jpg

Como vêem a vossa relação daqui a um ano?

M: Daqui a um ano quero apenas que a minha relação permaneça mágica com uma química muito forte, que todas as semelhanças nos aproximam e todas as diferenças nos juntem ainda mais. Daqui a um ano queria que os meus pais me aceitassem em pleno. Isso seria muitíssimo importante para mim e para a relação. Ainda assim duvide imenso que isto se vá alterar tão rapidamente.

A: Num ano muita coisa pode mudar, mas espero e quero que a relação fique ainda mais forte, diminuindo a dificuldade e impacto que todos os factores externos têm na relação em si.

 

Já foram alvo de algum episódio de homofobia? Como lidaram com isso?

M: Não, ainda não.

A: Felizmente nunca fui directamente atacada, sendo que tal pode dever-se muito ao facto de ainda não me ter assumido.

 

Na vossa opinião o que faz falta a Portugal no que respeita à igualdade para pessoas LGBT?

M e A: Falta o respeito e a igualdade perante pessoas LGBT, que continuam a ser alvos de discriminação. O assunto mais urgente é a parentalidade. A adopção e co-adopção por casais LGBT é um dos assuntos que deveria ficar arrumado de uma vez por todas. Falta legislação que nos proteja e que nos conceda os mesmos direitos. Honestamente é das coisas que mais nos assusta pois temos planos de formar família.

 

Como celebraram o Dia d@s Namorad@s?

M e A: No primeiro ano passamos juntas, uns dias depois, mas este ano ainda não deu, porque vivemos a 170 quilómetros uma da outra, mas mesmo estando longe tentamos surpreender-nos mutuamente. Este ano fiz um texto que exprime exactamente como eu me sinto em relação a tudo, a ela, à relação, ao futuro… Mas combinamos que seria guardado para um momento em que estivéssemos juntas, de forma a potencializar o momento que daí poderá resultar. Com certeza não faltarão dias para que possamos celebrar no futuro.

2 comentários

Comentar