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Beth Ditto: "Foi difícil crescer sem modelos de representatividade queer"

Beth Ditto Lisboa Capitólio dezanove.jpg

Beth Ditto, a eterna voz dos Gossip, actua na próxima quinta-feira, 7 de Junho, no Cineteatro Capitólio, em Lisboa. O dezanove.pt foi falar com ela:

 

 

dezanove: “Fake Sugar” foi lançado há quase um ano. Como olhas para o caminho que já percorreste com este álbum?

Beth Ditto: Tem sido fantástico trabalhar com esta nova banda, são todos músicos super talentosos. Colaborar com uma nova equipa criativa depois de tanto tempo com os Gossip era assustador, mas também desafiante e compensador. Fazer uma tournée acrescenta uma nova camada: somos atirados todos juntos para dentro de um autocarro durante meses a fio e temos de ter a certeza que nos relacionamos bem não só como músicos, mas como seres humanos. Agora somos como uma família. Os fãs têm estado sempre ao nosso lado e eu sinto-me cheia de sorte!


Qual foi a experiência (ou sensação) mais compensadora por teres gravado o teu primeiro álbum a solo?
Tenho de dizer que é o facto de me sentir independente, de poder criar música e performances que eu adoro com outros colegas, que a magia é poder continuar este caminho e não estar confinada a apenas um grupo de pessoas.

 

O que podemos esperar do espectáculo de Lisboa? Irás apenas tocar temas do álbum “Fake Sugar” ou podemos esperar também alguma coisa dos Gossip?

Iremos tocar canções do Fake Sugar, do EP Beth Ditto e temas dos Gossip de diferentes álbuns. Talvez ainda façamos uma cover ou duas! Mas o que podem esperar mesmo é dançar até transpirar!

 

Depois de 17 anos com os Gossip, e agora a solo, sentes que estás a começar tudo desde o início outra vez? De que forma é que isto pode ser um desafio?

Não sinto que esteja a começar tudo de novo, é mais uma outra etapa desta conversa contínua com quem nos ouve. Há pessoas que não nos acompanham quando fazemos coisas novas e isso também é legítimo. Nós também vamos apanhando novas pessoas nesta nossa viagem. O processo inicial de encontrar novas pessoas para escrever conjuntamente as letras foi duro. Posso dizer que participei naquilo que eu chamo de ‘speed dating’ com tantos compositores que foi extenuante. Estamos dentro de uma sala com alguém para perceber se há aquele “click”…. E de repente passamos a adorar o trabalho um do outro e escrevemos três canções em poucas horas, mas também há outras situações em que nos primeiros cinco minutos percebemos que não vai sair nada dali, não há a “tal” ligação que eu até chamo de amor.

 

Beth Ditto Fire Capitólio dezanove.jpg

O Kiddy Smile vai estar presente aqui em Portugal. Podemos esperar vê-lo em palco para algum tipo de colaboração?

Terão de esperar para ver!


Com a actual administração Trump nos EUA qual é o sentimento geral em relação às pessoas LGBTQ no país? O medo está a ganhar terreno novamente?

Esta administração não representa em nada a maioria da opinião pública norte-americana sobre a população queer. Representa apenas uma minoria péssima, mas sonora. São um bando de dinossauros cujas ideias horríveis vão morrer junto com eles. Infelizmente neste momento eles estão a despertar a ala mais à direita dos homofóbicos que agora se sentem resguardados e impunes, o que tem levado a um aumento da violência contra os queers, pessoas de cor e mulheres. Isto para não mencionar que esta administração tem estado a revogar protecções legais dirigidas às pessoas trans em escolas e nos cuidados de saúde. Portanto, sim, é um tempo assustador o que vivemos.

 

Temos um longo caminho a percorrer enquanto sociedade até aprendermos a nutrir de forma verdadeira e cuidar bem das crianças queer.


Qual foi a parte mais difícil em crescer enquanto lésbica e qual o maior desafio com que os jovens LGBTQ se deparam hoje em dia? Que conselhos daria aos mais novos?

Provavelmente foi ter acreditado mesmo que iria parar ao Inferno. Isso foi o que me custou mais ultrapassar. Outras coisas difíceis foram, por exemplo, crescer sem modelos de representatividade queer ou ter informação sobre a temática queer – que felizmente deu um salto gigante graças à Internet e ao crescimento da visibilidade queer em filmes, televisão, média, etc. No entanto, as crianças queer e trans ainda representam um número desproporcionalmente grande entre aqueles que ficam sem um lar porque estão mais sujeitos a serem rejeitados e postos fora de casa pelas suas próprias famílias. Temos um longo caminho a percorrer enquanto sociedade até aprendermos a nutrir de forma verdadeira e cuidar bem das crianças queer. O melhor que posso dizer a esta juventude é para se aguentar porque o mundo é muito maior do que o sítio onde tu estás agora e HÁ um sítio para ti nele.

 

ACTUALIZAÇÃO: Os Fado Bicha vão actuar na primeira parte do concerto da Beth Ditto em substituição de Kiddy Smile.