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Cresce descontentamento sobre filme Stonewall

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O filme Stonewall de Roland Emmerich ainda só revelou o primeiro trailer já está envolto em polémica. Várias associações e colectivos LGBT um pouco por todo o mundo estão a apelar ao boicote ao filme, seja nas idas ao cinema, seja exigindo a reposição dos factos na história, propondo donativos para outro filme ou até assinando petições online.

As razões deste descontentamento passam pelas escolhas dos responsáveis pelo filme Stonewall em dar protagonismo à história de um homem gay (desempenhada pelo actor Jeremy Irvine) em detrimento das histórias das mulheres transexuais, sobretudo depois do filme em causa referir que se baseia em factos reais.

Os activistas que defendem os direitos das pessoas LGBT falam em branqueamento da história e esquecimento deliberado da transexual negra Marsha P. Johnson, figura que consideram determinante para os desenvolvimentos da revolta de Stonewall em 1969. Mas não é apenas sobre o esquecimento de Marsha que os activistas se insurgem. A invisibilidade de Sylvia Rivera, outra activista trans de origem porto-riquenha, é severamente criticada. Ambas fundaram a STAR House (Street Transvestite Action Revolutionaries - Brigada Revolucionária das Travestis de Rua), para ajudar jovens trans desamparadas. 

Em Portugal as Panteras Rosa fazem saber no Facebook: “Apelo ao boicote do filme "Stonewall", por distorcer a história da revolta e eliminar as mulheres trans* não-brancas que estiveram no início e na construção da mesma, em detrimento da representação heroicizada de um homem branco cisgénero e de uma maioria branca & cis, que não corresponde à realidade das forças em jogo nesse momento. Fim do white & cis washing da história da Resistência LGBTQ.”

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Já Eduarda Santos, do Grupo Transexual Portugal, escreve numa nota pública denominada Stonewall de Roland Emmerich: transfobia, racismo e branqueamento: “Os principais actores em Stonewall são Jeremy Irvine, Ron Perlman, e Jonathan Rhys Meyers. Com efeito, os cinco principais personagens são todos brancos e não trans. Johnson, uma personagem menor - o seu nome aparece quase no final da listagem de actores - é protagonizado por um actor negro cis. Rivera nem sequer é mencionada.” A mesma activista relembra que “esta não é a primeira vez que Stonewall foi branqueado. Um documentário intitulado Stonewall Uprising, também passou por cima do papel desempenhado pelas mulheres em geral, e pelas afro americanas e latinas". 

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Eduarda Santos relembra que Marsha e Rivera morreram prematuramente e “dedicaram as suas vidas às causas LGBT. A sua exclusão social custou-lhes as suas vidas. Agora, a mesma sociedade apropriou-se das suas lutas e procura apagá-las da sua própria história. Enquanto forem homens brancos cis a controlarem a narrativa, tentarão sempre apagar o resto de nós. Mas Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera são nomes que devem sempre ser relembrados".

A associação britânica Stonewall, que no início do ano passou a incluir a defesa das pessoas trans nos seus projectos, partilhou a seguinte mensagem no Facebook: "Esperamos que o filme Stonewall reflicta de forma autêntica e significativa aqueles que participaram na revolta de Stonewall. Pela nossa experiência sabemos que os homens gays acabam por dominar quando se trata de  representar a comunidade LGBT em filmes ou na TV e muitas vezes espelham estereótipos ao invés de espelhar a verdadeira diversidade existente dentro da nossa comunidade. 

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Na internet ecoam movimentos como #notmystonewall que fazem montagens em fotos, em tom de crítica, da personagem Danny (Jeremy Irvine em Stonewall) numa foto da Marcha pelos Direitos Civis ou junto de Selma Montgomery.  Em simultâneo apelam a donativos para um novo filme, “Happy Birthday Marsha”, que pretende retratar a vida de Marsha. 

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O realizador Roland Emmerich já veio a público declarar que “quando o filme chegar aos cinemas o público verá que ele homenageia profundamente activistas da vida real que estavam lá – incluindo Marsha P. Johnson, Sylvia Rivera, e Ray Castro – e todas as pessoas corajosas que provocou o movimento dos direitos civis, que continua até hoje. Nós somos todos iguais na nossa luta pela aceitação” pode ler-se no Parou Tudo

Entretanto uma petição online, organizada pela Gay-Straight Alliance Network e que pede o boicote à longa-metragem, já recolheu mais de 18 mil assinaturas.

 

Paulo Monteiro