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DJ Filha da Mãe: "Tento ser um equilíbrio desequilibrado de uma balança de géneros"

DJ Filha da Mãe.jpg

É o único DJ drag queen do país – encontrámo-lo frequentemente no Trumps, é bailarino, é actor (vimo-lo recentemente em as “Damas da Noite") e agora chega à capa do guia Lisbon Gay Circuit, o único roteiro LGBTI friendly em papel e online da Grande Lisboa – e que este ano alarga a oferta de serviços ao Alentejo e ao Algarve.

Pedro Simões aka DJ Pietro e também DJ Filha da Mãe para conhecer melhor aqui e agora:

 

dezanove: Para quem (ainda) não te conhece como apresentarias o Pedro Simões? E o que tem feito?
O Pedro é um actor, dj, drag queen, contador de histórias e bailarino reformado. De quase, quase, quase 33 anos.
Nasceu em Lisboa mas foi com seis anos para Vieira de Leiria, município da Marinha Grande. Aí teve a oportunidade de dar início à sua formação artística. Estudou teatro, dança e música. Regressou a Lisboa aos 18 anos para ingressar na Escola Superior de Dança, mas o bichinho do teatro continuava sempre presente e ainda no 1º ano de faculdade estreou-se como bailarino e actor profissional no espectáculo Beijo Na Boca, que era maioritariamente "estrelado" por actores globais da novela Malhação/New Wave.
Fez ainda parte dos elencos dos espectáculo "Morangos com Açúcar - Ao Ritmo da Amizade" e "Footloose- o musical" antes de entrar nos espectáculos de Filipe La Féria "Um Violino no Telhado" e "A Gaiola das Loucas" onde encarnou a personagem mítica da noite lisboeta Lydia Barloff. Trabalhou ainda com Celso Cleto, João Ascenço, James Darrah e neste momento com o encenador Elmano Sancho no espectáculo "Damas da Noite" em que a Filha da Mãe é uma das personagens presentes ao lado da Lexa BlacK; o espectáculo estreou no Porto (Teatro Carlos Alberto), vai passar pela Casa das Artes em Famalicão de 24 a 25 de Maio, por Faro a 15 de Junho (Teatro das Figuras) e em 2020 chegará a Lisboa: Teatro D. Maria II de  20 de Março a 5 de Abril.

Foto: Sofia BerberanGosta de escrever e desse gosto nasceu "Era Outra Vez" um espectáculo em que foi também encenador e protagonista. Escreveu também "Filha da Mãe - É um Espectáculo" que esteve em cena no Clube Royale no ano passado.
Trabalha como DJ Pietro no Trumps há quase nove anos e como Filha da Mãe há quatro.

 

DJ Filha da Mãe Trumps.jpg

E a DJ Filha da Mãe, que vemos na capa da edição 2019 do Lisbon Gay Circuit, como a apresentarias? O que a distingue? A que músicas dás preferência para tocar na pista? 
A Filha da Mãe é uma animação. Tanto é a apresentadora de televisão dos programas familiares dos anos 90 como é uma verdadeira "Cougar". É uma DJ, mas também host dos eventos do Trumps e ainda anima o público quando sai de trás da mesa de som para cantar ou dançar.
É uma drag que gosta do seu pelo na venta e no peito. Tenta quebrar estereótipos e canones associados à questão de género. E para os quebrar, usa-os como arma de arremesso. É um homem feminino e uma mulher masculina. Tenta ser um equilíbrio desequilibrado de uma balança de géneros em que as realidades se cruzam e em que se desfazem barreiras. É acima de tudo ser humano... sem género, sendo géneros: binário e/ou plural. 

É um homem feminino e uma mulher masculina. Tenta ser um equilíbrio desequilibrado de uma balança de géneros em que as realidades se cruzam e em que se desfazem barreiras. É acima de tudo ser humano... sem género, sendo géneros: binário e/ou plural. 

Nos seus sets encontramos Pop, de várias alturas e de vários géneros. Ultimamente tem-se aventurado um pouco pelo indie mas nunca se esquece de uma Britney, de uma Anitta ou mesmo de uma Loreen. Toca essencialmente o que sente que faz vibrar o público e as suas manas drags da "The Royal House of Trumps" que animam as noites no palco do T.
Mas vibra sozinha (se for preciso) com Pink, Adam Lambert, Aguillera, Jessie J.

 

DJ Pietro.jpg

É sobretudo no Trumps que dás cartas como DJ, mas tens sido convidado para trabalhar em várias casas em Portugal. Podes falar-nos sobre isso? Como está a ser a experiência? 

Comecei como DJ no Trumps, participei numa audição com outros DJ'S e na altura tive a sorte de ser o escolhido para fazer parte desta família. Nunca tinha feito nada deste género. A música e a edição de música sempre fizeram parte de mim. Desde os meus dez anos que improvisava espectáculos e performances onde a música era uma necessidade e sempre gostei de criar misturas e mega mix's. Na altura fazia-o gravando as  partes das músicas que queria usar em cassetes, que rebobinava ao milímetro com um lápis, para colar outra parte de uma outra música ou um efeito sonoro. Era trabalho para muitas horas. Depois comecei a interessar-me pelos programas de computador de edição musical mas sempre com o espectáculo como fim. 
Comecei no Trumps como selecter. Era eu quem escolhia as músicas que tocavam, mas limitava-me a deixar a música tocar até ao final e carregar no play da próxima música no set. Foi no Trumps que aprendi tudo. Com os DJ'S que já faziam parte da casa, principalmente com o JohnnyLabs que era o DJ pop que já estava no Trumps.
Hoje sou o DJ mais antigo do Trumps ao serviço.
Tem sido essencialmente no Trumps que tenho tocado, mas tanto o Pietro como a Filha da Mãe já deram música no Porto na discoteca Zoom.
O ano passado, juntamente com o meu namorado, o maquilhador e caracterizador Guilherme Gamito, criei uma festa que aliava a música pop e a makeup baseada em pop art e comic books, chamamos-lhe "POP HEART" e durante sete meses tivémos festas semanais no Bairro Alto. No bairro também toquei no extinto Sétimo Céu nas festas Viadage há uns três anos.
Infelizmente o circuito de bares e discotecas LGBTQI é muito pequeno em Portugal e a deslocação de DJ'S e artistas acarreta custos que os espaços fora de Lisboa e Porto não podem suportar muitas vezes; daí não haver grandes deslocações para fora do Trumps. Mas gostava de experimentar outros públicos nacionais e estrangeiros; passear um pouco pela noite para poder trazer uma bagagem mais completa para casa e ter mais para oferecer ao nosso público do Trumps.

 

Actuação no Trumps.jpg

Como vês o surgimento de cada vez mais artistas e muito novos na área do transformismo? A quem temos de estar atentos em Portugal?
Acho que há cada vez mais drags, porque o transformismo está na moda. Mas nem todas as pessoas que fazem drag são artistas.(sim, eu sei que parece um pouco fazer shade, mas a realidade é que não basta imitar um tutorial de makeup no Youtube e por uma peruca para ser um artista drag).
Mas há cada vez mais drags de qualidade, performers de qualidade e uma maior diversidade na arte do transformismo.
Estejam atentos, muito atentos às drags da The Royal House of Trumps; Lexa BlacK, Sylvia Koonz e a trindade da Haus of Bunnys Rebecca Bunny, Lola Bunny e Marge Mellow que fazem um trabalho de animação e performance único e inimitável.
Há que continuar sempre atentos ao fantástico trabalho da querida Deborah Kristall e das suas meninas do Finalmente Samantha, Nyma, Jenny e a famosíssima Stephanie Duvet.
No Youtube a açoriana mais engraçada do drag Valley Dation. No Porto a super louca e fashion Morgana e a elegante Jessica Top. E tantas outras...

 

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O que podemos enquanto sociedade aprender com programas como o RuPaul Drag Race ou eventos como o Miss Drag Lisboa?
Eu penso que a importância do drag hoje em dia, da sua moda e do (re)conhecimento pelo grande público, é de aplaudir. O Drag vem contrabalançar a força da direita extremista e homofóbica. Se temos um Donald Trump no poder e temos RuPaul na moda a transmitir semanalmente mensagens de apoio à comunidade e de igualdade de direitos em televisão americana ainda há esperança nas pessoas. O mesmo com Bolsonaro no Brasil e o sucesso das cantoras pop Drags como Pabllo e Groove. O Miss Drag Lisboa não tem este género de impacto (não aos meus olhos digo), é, ainda, muito fechado na comunidade queer e nos seus aliados, mas só conta ainda com 2 edições e tem ainda muito para crescer.

Se temos um Donald Trump no poder e temos RuPaul na moda a transmitir semanalmente mensagens de apoio à comunidade e de igualdade de direitos em televisão americana ainda há esperança nas pessoas.

No geral o drag dá muitas vezes a cara pela comunidade. Somos a imagem física do que é ser diferente e fora das normas e cânones heteronormativos. Somos a chapada de luva branca. Ao contrário das mulheres trans, os homens que fazem drag escolhem trocar o seu papel privilegiado de homem e vestir a pele de uma mulher. Damos a cara à palmatória. Dizemos "existem pessoas que não são iguais a ti, aceita". E por isso é importante sermos vistos também fora do meio LGBTQI.

 

Como olhas para Lisboa enquanto cidade de turismo e para viver? 
Não me imagino noutro sítio. Amo a minha cidade. Se me afasto tenho saudades desta luz única e deste espelho de água chamado Tejo. 
Compreendo que haja tanta gente a querer visitar-nos pois cada vez há mais para oferecer. 

Se me afasto tenho saudades desta luz única e deste espelho de água chamado Tejo. 

E cada vez temos mais para oferecer aos turistas da comunidade e teremos ainda mais no futuro. Espaços, eventos, festas, lojas. Lisboa como lugar seguro, Lisboa como um belo lugar seguro para tod@s. Quero estar de olho ao que a Variações tem na manga para o futuro do turismo LGBTQI em Portugal e em Lisboa.

 

Vê mais da DJ Filha da Mãe neste vídeo feito propositadamente para os leitores do dezanove.pt:

 

Entrevista de Paulo Monteiro

Crédito das fotos: fotógrafos Trumps e Sofia Berberan (Damas da Noite)