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Isaac Rodrigues: "Queremos continuar a sensibilizar a juventude por todo o país"

Isaac Rodrigues por Sarah Leão

Os últimos dias do ano de 2019 trouxeram a eleição de uma nova equipa para dirigir a rede ex aequo, a associação de jovens LGBTI e apoiantes de Portugal. Fomos falar com o Presidente da nova Direcção, Isaac Rodrigues.

 

dezanove: És o recém eleito presidente da associação de jovens rede ex aequo. Podes falar-nos do teu percurso na associação?

Isaac Rodrigues: Tenho 24 anos e estou neste momento a estudar Enfermagem. Iniciei o meu percurso na rede ex aequo em 2014. Tive a oportunidade de poder coordenar dois núcleos, o de Cascais e o de Lisboa entre 2014 e 2016.
A partir de 2015, tornei-me orador do Projecto Educação LGBTI e acumulei funções enquanto Vice-Presidente da Mesa de Assembleia Geral.
Em 2017 fiz parte da Direção enquanto Tesoureiro e em 2018 enquanto Vice-Presidente.
Este ano aceitei o cargo de Presidente com uma equipa coesa e motivada.
Juntes queremos não só investir na ajuda entre pares como junto da comunicação social, entidades estatais e interassociativamente para que a nossa juventude esteja presente e pertença a planos, mudanças e medidas nesta sociedade visando a inclusão e o fim do bullying.
Por sermos uma associação dispersa por todo o país, a equipa da Direcção é composta, estrategicamente, por jovens com backgrounds e competências diversas, criando uma equipa multidisciplinar.

 

Podes apresentar resumidamente a tua equipa?

Vice-Presidente: Jo Matos, tem 21 anos e estuda Psicologia. É de Lisboa e iniciou o seu percurso na rede ex aequo no Projeto Educação LGBTI. Tem vindo a dedicar-se à organização de eventos, acompanhamento de projetos e consultoria relativa a assuntos de serviços de saúde afetos a pessoas trans e intersexo. Foi Vogal da Direção no mandato anterior.

Tesoureira: Ana Rocha, tem 28 anos e é natural da Madeira. Trabalha enquanto Gestora de Marketing e iniciou o seu percurso no Núcleo de Lisboa. Este ano aceitou de novo ser quem gere a parte financeira da associação à semelhança do mandato anterior.

Secretárie: Tavares tem 20 anos, é de Lisboa e é estudante de Gestão do Lazer e Animação Turística. Iniciou o seu percurso no Núcleo de Lisboa. Desde então tem vindo a organizar os mais variados eventos e tem trabalhado na capacitação de pessoas voluntárias. O ano passado exerceu o cargo de Presidente da associação.

Vogal: Daniel Seabra, Coimbra, psicólogo e estudante em doutoramento na área LGBT. É orador do Projeto Educação e tem estado mais envolvido na coordenação do núcleo LGBTI de Coimbra desde 2018.

Suplente: Mia de Seixas, coordena o núcleo do Porto desde 2018. É formada em Serviço Familiar e em Marketing. Sempre esteve ligada a vários projectos na área social e neste momento ajuda pequenas empresas a lançarem-se na área digital. Será a responsável pela comunicação neste ano. 

Suplente: Alex Faria, 24 anos e é natural da Madeira. É mestrando em Engenharia Informática, iniciou o seu percurso no Núcleo da Madeira. É orador no Projeto de Educação LGBTI, representa a rede ex aequo na Comissão Organizadora do Madeira Pride e coordena os esforços de abertura do centro comunitário LGBTI na Madeira.


Juntes queremos não só investir na ajuda entre pares como junto da comunicação social, entidades estatais e interassociativamente para que a nossa juventude esteja presente e pertença a planos, mudanças e medidas nesta sociedade visando a inclusão e o fim do bullying.

 

Que objectivos e projetos tem esta Direcção para o próximo ano?

Temos como missão continuar a promover a dinamização de espaços e momentos onde a juventude LGBTI se possa expressar, informar-se, divertir-se e sentir-se segura. Mais especificamente através dos nossos núcleos LGBTI, presentes em vários pontos do país e que organizam actividades a nível local.

Adicionalmente teremos o nosso 18° Acampamento Nacional de Verão de Jovens LGBTI, o  5° Encontro Arco-Íris e o nosso 6º Encontro Nacional de Jovens Trans, Não-bináries e em Questionamento Identitário. Neste último damos grande destaque uma vez que visa quebrar o isolamento sentido pela juventude trans e a necessidade de criar um espaço específico para esta partilhar experiências e expressar-se.

Continuaremos a empenhar-nos também no Projecto Educação LGBTI que tem vindo a crescer significativamente ao longo dos últimos anos. Com um aumento exponencial do número de sessões realizadas, queremos continuar a sensibilizar a juventude por todo o país sobre questões de orientação sexual, identidade e expressão de género e características sexuais.

À semelhança da aposta que fizemos o ano passado em capacitar jovens em ambas as regiões autónomas, o ano será marcado por uma aposta na região Centro, com a organização de 2 escolas ex aequo nos distritos pertencentes a esta região. 

O Projecto Educação LGBTI tem vindo a crescer significativamente ao longo dos últimos anos. Com um aumento exponencial do número de sessões realizadas, queremos continuar a sensibilizar a juventude por todo o país sobre questões de orientação sexual, identidade e expressão de género e características sexuais.



Em 16 anos és o primeiro jovem trans que assumidamente desempenha o cargo de presidente da rede ex aequo. De que forma pode isso contribuir para melhorar o trabalho em prol da juventude trans?

Ao longo do meu percurso na rede ex aequo fui conhecendo mais jovens trans e fui procurando identificar-me com mais pessoas em algo que me era tão intrínseco. Ainda que como Presidente da associação, sou na verdade mais um voluntário que neste caso é trans. Sei que vai alterar a forma como os objectivos da rede ex aequo serão percepcionados, uma vez que faz a sua diferença, ser assumido e desempenhar este papel na associação mas quero que este facto permita que mais jovens Trans, não-Bináries e em questionamento identitário possam vir de encontro a nós.
A partir daí penso que será criado mais à vontade para que novas pessoas nos procurem, percebam que sim, temos abertura para acolher, ajudar e informar dentro deste universo que é a juventude trans e os problemas com que lidam diariamente.


Quero que este facto [ser trans] permita que mais jovens Trans, não-Bináries e em questionamento identitário possam vir de encontro a nós.

 

Quantos núcleos locais tem actualmente a associação?
Actualmente existem 5 núcleos LGBTI activos da rede ex aequo: Porto, Coimbra, Lisboa, Madeira e São Miguel (Açores). Os núcleos LGBTI continuam a ser relevantes para a juventude portuguesa, como espaços seguros de partilha e convívio. Em algumas destas localidades somos a única associação LGBTI presente com actividades, pelo que é do nosso total interesse continuar a fazer crescer este projecto fora das grandes metrópoles portuguesas.

 

Que palavras queres deixar aos jovens LGBTI espalhados pelo país?

Ao longo da vida, há sempre alturas em que nos questionamos, que nos descobrimos e redescobrimos.  Para jovens como nós, isto pode ser mais difícil de fazer por causa da pressão que nos é imposta pelos nossos pares e familiares. Queremos que todes possam encontrar um espaço em que se possam explorar e acreditamos que o podem encontrar sempre connosco.

 

Entrevista: Paulo Monteiro

Foto: Sarah Leão