Sobre a eleição de Trump: "Isto não é o fim do mundo – é apenas o fim de um mundo"
Quando me pediram para escrever um artigo sobre as eleições de ontem, por um breve momento quis dizer “não, obrigado pelo convite.” Estou deprimido, triste e desapontado com o resultado – o país decidiu que ter alguém que mente, ofende, pratica bullying e tem potencial de entrar em rotura com a comunidade internacional é melhor do que ter uma mulher em que não confiam. Continuo em choque com a falta de racionalidade e lógica do que aconteceu.
O processo para estas eleições esgotou o público americano – foram 2-3 anos de constante jogo político, com o Trump, a Hillary, o Bernie, o Ted, a Carly, o Ben, o Marco, entre vários outros guest stars que fizeram este longo processo parecer ainda mais longo. É como ver uma temporada de “House of Cards” que nunca mais acaba – e em não é necessariamente a pessoa mais inteligente ou capaz que ganha. Mas no final, como aqueles que trabalham em marketing sabem, é um jogo de awareness mais do que qualquer outra coisa. E Trump jogou essa carta muito bem durante os últimos anos. Acrescentemos a isto a fadiga do público e a história começa a ficar mais clara. Continua a ser irracional para alguém como eu, mas pelo menos começa a fazer algum sentido.
Esta manhã, quando estava a tirar o champagne do frigorífico que ia utilizar para celebrar a vitória da Hillary, comecei a pensar porque é que isto aconteceu – e, de repente, percebi: nem eu, nem os media, nem quase ninguém à minha volta conhece o average American. Quando falamos dos 15% da população que têm a educação necessária para compreender o que estava em jogo nesta eleição, ignoramos o facto que isto não é representativo da população geral. De repente, os media perceberam que não são representativos da população com quem falam – e isto é profundamente assustador. Isto significa que existe uma dissonância nos valores que acreditamos serem universais e os valores que imperam na mente do comum americano – mas que também imperam na mente do comum inglês (Brexit) ou outros casos que vemos pelo mundo. O pior aspecto sobre a eleição do Trump não é o Trump ser presidente: é o facto de que existem milhões de pessoas por todo o mundo que concordam com ele.
O pior aspecto sobre a eleição do Trump não é o Trump ser presidente: é o facto de que existem milhões de pessoas por todo o mundo que concordam com ele.
Nova Iorque não acordou feliz hoje. Aliás, a maioria do mundo não acordou feliz. Mas está na altura de aceitar e seguir em frente – os valores em que acredito continuam a ser os mesmos e a luta pela igualdade a todos os níveis possíveis continua. Vamos ver o que acontece nos próximos meses e tentar, o mais possível, trabalhar com o que temos. Acima de tudo, vamos manter um olhar vigilante. Mantenhamos um outlook positive e lembremos que a história é cíclica – construímos e destruímos, mas iremos continuar a sobreviver. Isto não é o fim do mundo – é apenas o fim de um mundo.
Artigo de opinião de Luís Spencer Freitas, digital director na Pernod Ricard USA, em Nova Iorque