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Olhem para as fotos: há uma nova antologia de fotógrafos queer

New Queer Photography

Da Alemanha chega um volume de capa dura com centenas de imagens colhidas nos últimos anos em mundos e submundos de minorias sexuais — imagens eróticas, pornográficas, documentais, artísticas. Em todo o caso, capazes de oferecer uma narrativa abrangente de corpos, comportamentos e contextos, o que é tanto mais valioso quanto na era do Instagram é comum pensar-se que está tudo visto. Mas parece que as imagens não estão gastas.

New Queer Photography, com organização do designer berlinense Benjamin Wolbergs, tem cerca de 300 páginas e chancela da Kettler, editora de Dortmund dedicada a livros de arte. Está à venda em lojas físicas da Europa e dos EUA e através da internet. Pode dizer-se que é uma antologia rara, na medida em que combina nomes sólidos das artes visuais e emergentes da cena artística queer, ao mesmo tempo que rejeita uma perspectiva exclusivamente euro-americana.

Sharia Sharmin, do Bangladesh, fixa-se nas hijras, ou seja, as “transgénero” do subcontinente indiano. O fotógrafo-antropólogo americano Daniel Jack Lyons propõe retratos do que identifica como “comunidade LGBTQ de Moçambique”. Dustin Thierry, natural de Curaçau, cola-se ao universo do mítico documentário Paris is Burning (1992), de Jennie Livingston, e exibe fragmentos actuais de travestismo artístico negro (“drag ball culture”) de Amesterdão, Berlim, Milão e Paris.

O livro mostra um total de 51 artistas, com fragmentos de séries fotográficas já exibidas na net, em galerias ou monografias. Alguns trabalhos parece colherem sugestões de consagrados como Wolfgang Tillmans, Nan Goldin e Bruce Weber, ou talvez mesmo de Diane Arbus ou Man Ray, como se o olhar fotográfico continuasse a pedir licença àqueles que abriram caminho à linguagem queer (mesmo antes da acepção actual da palavra).

A ideia de fazer New Queer Photography nasceu há quatro anos, quando Benjamin Wolbergs trabalhava para a editora Taschen na paginação de um volume sobre fotografias homoeróticas da década de 50 — que tiveram como pioneiro o americano Bob Mizer e se dissimulavam como registos de culturistas e homens atléticos, mas com óbvia inclinação erótica. “Enquanto fazia a paginação, pensei: como seria se em vez de fotos dos anos 50 estivessem aqui imagens queer contemporâneas, que fotógrafos, assuntos e estilos surgiriam?”, resumiu-nos Wolbergs, numa mensagem por correio electrónico. “Nessa altura, descobri o trabalho de Matt Lambert e Florian Hetz e comecei a procurar outros autores. À medida que a pesquisa evoluiu, deparei-me como um universo de fotógrafos de enorme talento, com uma diversidade de estilos e linguagens visuais”, acrescentou.

De facto, em muitas imagens a encenação é surpreendente e original, se o termo se adequa. Por exemplo, os momentos de descontracção e intimidade de homossexuais no Vietname captados em cores garridas por Maika Elan (também conhecida por Nguyen Thanh Hai), trabalho que mereceu em 2013 um prémio do concurso World Press Photo. Ou homens e mulheres do Irão que vivem exilados na Turquia por saberem que a homossexualidade os condena à pena de morte no país do ayatollahs, aqui registados sem rostos pela iraniana radicada na Suíça Laurence Rasti. Ou, enfim, como caso surpreendente: o doméstico, o urbano e o criminal de mulheres transgénero em Lima, no Peru, pela objectiva de Danielle Villasana.

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Foto: M. Sharkey

 

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Foto: Dustin Thierry

 

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Foto: Alexandre Haefeli

 

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Foto: Jan Klos

 

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Foto:  Laurence Rasti

 

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Foto: Maika Elan

 

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Foto: Mohamad Abdouni

 

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Foto: Spyros Rennt 

 

Note-se ainda o trabalho de três criadores bem conhecidos. Matt Lambert, que nos propõe colagens punk e hard-core masculinas. Luis Venegas, próximo do estilo nudes que a cultura telemóvel fomenta. E Pauliana Valente Pimentel, com sete registos do projecto que a tornou reconhecida: “Quel Pedra”, ou as mulheres trans do Mindelo, em Cabo Verde, com que foi nomeada em 2016 para o então Prémio BES Photo (actual Novo Banco Photo) e que lhe valeu uma exposição no Museu Colecção Berardo, em Lisboa.

Pauliana Valente Pimentel

Foto: Pauliana Valente Pimentel

 

Já se sabe que as imagens não falam, só dizem o que pensa quem as vê. Que pessoas queer são as das primeiras décadas do novo século, só cada espectador do livro poderá dizer.

 

Bruno Horta