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Pessoas LGBT e religiões: uma relação que parece ter muitos caminhos

 

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Uma plateia surpreendida com a possibilidade de a linguagem do Corão ser menos patriarcal que as restantes religiões monoteístas. Um padre anglicano a ler passagens do Catecismo romano para demonstrar como que a Igreja Católica continua a não aceitar os homossexuais. Igrejas protestantes em Itália que celebram bênçãos a casais de pessoas do mesmo sexo. Uma moderadora "ateia" que chama a um participante de “católico” e a outra de “cristã”.

O encontro “Diversidade Sexual, Religião e Violência” promovido pelo grupo Intimate esta quarta-feira serviu para expor o desconhecimento que existe em matéria de religiões e o seu impacto nas questões LGBT. No painel de convidados estavam um católico, uma protestante e um muçulmano que, depois de curtas apresentações, responderam às questões e provocações do público.

Daniel Ahmed Said, activista queer muçulmano espanhol, apontou para vários exemplos de violência que os muçulmanos vivem nos países de maioria muçulmana mas também na Europa, continente onde, sustém, existe “homonacionalismo” e “pinkwashing”, isto é, “manipulação de discursos LGBT em prol de estratégias nacionalistas e racistas”. Exemplo disso será, no seu entender, o discurso de vários países que afirmam que estão de braços abertos para receber refugiados LGBT mas que, na verdade, fecham as portas aos restantes refugiados. Com este cenário, muitos refugiados de guerra recorrerem à identidade LGBT para conseguirem asilo que de outra forma não conseguiram. Daniel Ahmed Said aproveitou ainda, a propósito do foco que a Europa coloca na violência contra pessoas LGBT nos países muçulmanos, apontar para os exemplos de países de maioria cristã e hindu onde a prática de actos homossexuais continua a ser punida. Apesar de ter desmontado alguns preconceitos ocidentais em relação à fé muçulmana, Daniel Ahmed Said reconheceu que existe uma diferença entre a forma como vive a religião a titulo “espiritual” e a versão “institucional” da religião muçulmana.

“A Igreja Católica está longe de ser a mais homofóbica entre todas as religiões”, sustentou por sua vez José Leote, dirigente da associação Rumos Novos – Homossexuais Católicos de Portugal, que analisou a aceitação (ou não) dos homossexuais no seio da igreja. Para este responsável, “tem-se notado alguma abertura ao nível da abordagem da linguagem com o Papa Francisco, mas ele não disse nada novo. Disse coisas velhas usando palavras novas”, considerou. “A Igreja está dividida sobre esta realidade. Por um lado há organizações como a Rumos Novos que reclama uma mudança da Igreja Católica sobre a sexualidade. Do outro lado há os que se opõem a uma mudança, o que é também uma posição legítima.” José Leote foi ainda mais longe ao considerar que estas “opiniões diversas” de não acolher os homossexuais no seio da Igreja “não são homofóbicas”. José Leote optou, por isso, por descrever a Rumos Novos “não como um movimento reivindicativo dentro da Igreja Católica mas sim como uma organização que faz pontes”.

De Itália chegou um caso de mudança de mentalidades nas igrejas e de criação de rito adaptados a casais homossexuais. Letizia Tomassone, pastora e presidente do Comité Fé e Homossexualidade das Igrejas Baptista, Metodista e Valdense de Itália, descreveu o processo de aceitação das pessoas homossexuais no seio das igrejas protestantes daquele país. O movimento começou com reuniões de fieis nos anos 90 do século passado. Entretanto algo mudou. “Em 2010 saíram documentos sobre a bênção a casais do mesmo sexo. Agora há bênçãos em algumas igrejas em cidades como Palermo, Milão ou Roma. É uma liturgia em que não há diferença em relação a um casamento”.

O debate, que decorreu na Gulbenkian, foi organizado pelo projecto Intimate, sediado no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Serviu também para o lançamento da “Religião, género e cidadania sexual”, número temático da Revista Crítica de Ciências Sociais, organizado por Teresa Toldy e Ana Cristina Santos.

 

Rui Oliveira Marques

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