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Portugal não está representado oficialmente no maior festival de música da Europa agendado para esta semana. Mas há uma presença portuguesa a brilhar nos palcos: Suzy, a penúltima representante de Portugal continua a fazer furor e é acarinhada pelos milhões de fãs do evento. É a única convidada portuguesa para participar em várias festas que vão decorrer ao longo desta semana na capital sueca. O dezanove.pt foi falar com a artista portuguesa um dia antes da partida para Estocolmo. Recordámos momentos e ficamos a saber o que pensa Suzy sobre qual deve ser a aposta de Portugal para as próximas edições. Uma vasta entrevista marcada por duas palavras: trabalho e fãs.

 

dezanove: A própria Conchita Wurst considerou-te uma das três divas da edição em que ela se sagrou vencedora. Como recebeste este elogio?

Suzy: Foi um elogio muito honroso da parte dela. Isto proveio de um concerto inicial que nós demos em Londres. Houve uma empatia imediata entre nós e foi depois também o público que mencionou que eu, a Conchita e a Rute Lorenzo éramos as três divas da Eurovisão de 2014. É evidente que fico muito feliz porque já há muito tempo que não havia esse tipo de menção aos participantes portugueses. Foi bastante inesperado e repito, fiquei bastante contente.

 

  

Qual foi a sensação de ter sido tão admirada pelos fãs da Eurovisão e, por apenas um ponto, não ter passado à final? O que poderia ter mudado se tivesses passado à final?

Sobre a primeira parte: Fiquei muito feliz, porque qualquer dos meus colegas na área das artes quando sentem o retorno do seu investimento, da luta por um sonho e pelo amor à arte… ter este tipo de retribuição, estas manifestações de carinho, admiração e apoio contínuo, mesmo passado dois anos é muito gratificante. São injecções de positivismo e força que os admiradores me dão para continuar a tentar a ter uma carreira na área da música. Eles são o meu motor para o fazer.

Lembro-me que no momento exacto quando toda a gente pensava que Portugal iria passar à final, era como dado adquirido, eu sou sincera: não fiquei triste nem chocada. O carinho e amor foram tão grandes antes e depois da semi-final que parece que eu não caí na real. (risos). É inexplicável. Costumo dizer que só quem esteve em Copenhaga e vivenciou aquilo que eu senti e que vivi é que pode concordar comigo. Mesmo assim o nome de Portugal ficou um pouco na história do festival. O tema ainda está a passar nos Euroclubs, é ouvido pelos milhões de fãs que seguem o evento em todo o mundo: foram 158 milhões telespectadores em 2014. É evidente que eu gostava de ter ido à final. Se fosse pelos fãs, pelo público, pelo televoto, pelos 50% teria passado à final. Mas há também o voto do júri...

 

 

Em Portugal recebeste cerca de 42 por cento dos votos do público. Mesmo assim muitas pessoas criticaram, pela negativa, o teu tema considerando-o demasiado “pimba”. Queres comentar?

Falei disto em 2014 e em 2015. Já está mais do que provado que não foi a população portuguesa na sua totalidade que criticou. Foi um grupo restrito, muito pequeno, que soube muito bem divulgar nas redes sociais o seu desagrado porque não conseguiram levar os seus favoritos ao Festival da Eurovisão. Se não, não teria ganho por 42 por cento do televoto.

Gostaria de realçar que este trabalho não foi só meu, foi de uma equipa de pessoas profissionais da música e que estão no mercado há muitos anos e, que por si só, já têm os seus fãs e seguidores. O Emanuel [compositor e letrista do tema] é uma pessoa que enche praças e pavilhões. E fomos os únicos a ter uma estratégia de marketing e promoção elaborada, fomos aos vários canais de televisão, apesar de não poder interpretar o tema “Quero Ser Tua” para que os fãs me começassem a associar a ele. Nós trabalhamos.

As regras da RTP são o televoto e não clicar nas redes sociais. Por isso fomos atrás das pessoas que realmente ligam. Foi uma estratégia. Quando fui convidada para ser Rainha do Carnaval de um dos maiores concelhos do distrito de Coimbra, é evidente que isso também ajudou, porque na Figueira da Foz somos muito bairristas. Se as pessoas estiverem atentas e verificarem todo o trabalho feito tivemos consequências positivas: entrevistas nas rádios, revistas, televisão e acabou por surtir efeito.

A prova é que tenho fãs em vários países do Chile, no Brasil, na Venezuela e não têm esses estereótipos com este tipo de música, porque o Emanuel é um profissional da música. Ele sabe muito bem o que fez: um refrão repetitivo, orelhudo, para as pessoas dançarem com influências do samba, afro. Foi tudo, tudo pensado pormenorizadamente.

 

Na tua opinião o que achas que faz falta para revitalizar o festival da Eurovisão em Portugal à semelhança de outros países onde o festival continua a ser um acontecimento anual incontornável. (Recorde-se que este ano a RTP quase nem transmitia sequer o festival na RTP, voltando atrás na decisão há escassas semanas).

Como mencionei anteriormente os resultados provêm de muito trabalho. É evidente que no Festival da Eurovisão, a componente política e de favoritismos é muito acentuada, mas não é tudo. Por que é que o tema “Quero Ser Tua” é tão conhecido na Europa entre os fãs da Eurovisão? Porque nós trabalhamos para que isso acontecesse.

A conclusão a que se chega é que a RTP tem se fazer um esforço exaustivo, aliás tem de ser económico para termos resultados positivos. Haver uma organização e preparação prévia do festival em Portugal. Tem de se fazer muita promoção, como por exemplo fazem com o “The Voice” e todos os outros concursos de músico que os canais televisivos divulgam. Depende tudo de estratégias de marketing, promoção. É preciso fazer um investimento. O Festival da Canção não pode morrer!

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É o único concurso de música onde os cantores cantam na sua língua materna temas originais, os compositores são portugueses, os cantores são portugueses, portanto isto não é um concurso de covers como são todos os outros. Este sim devia ser o maior concurso de música em Portugal pela sua vertente de originalidade que reflecte a nossa cultura musical. E para fazer isso tem de haver investimento na promoção, e depois a RTP tem de acompanhar o vencedor, gastar dinheiro num videoclipe, tem de passar o videoclipe na RTP, ir aos programas televisivos todos, fazer imprensa, rádio, redes sociais, etc. Criar bom material promocional para o cantor levar à Europa e estar presente nos maiores eventos pré-eurovisivos, tal como eu fiz, se bem que o meu investimento foi pessoal, para divulgarmos o nosso tema. E tem de se responder a todas as questões que recebemos. Eu cheguei a responder a 40 e-mails por dia. Hoje o “Quero Ser Tua” é o que é, e a Suzy é o que é, devido a muito trabalho efectuado nos bastidores, com muitos press releases, contactos, com muita persistência e estar sempre presente e disponível para qualquer dúvida, pergunta, para vídeos, etc. Ou seja, tem de se fazer trabalho de casa.

 

Vais ser a “representante” de Portugal nos eventos oficiais destinados aos fãs que vão decorrer em Estocolmo juntamente com várias artistas consagradas do ESC, isto num ano marcado pela ausência do nosso país na competição. Que leitura fazes da nossa ausência “oficial”?

Eu aceitei prontamente todos estes convites, porque estou imensamente agradecida por todo o carinho que tenho estado a receber nestes dois anos. Mas queria realçar que isto foi fruto de muito trabalho e dedicação para levar o nome de Portugal além-fronteiras e novamente um tema de Portugal em todos os meios de comunicação que divulgam os temas eurovisivos.

Não comento a não participação de Portugal este ano, mas vou pedir, sim, que consigam programar devidamente a nível financeiro, no próximo ano, os gastos com o Festival da Canção 2017 e que comecem a fazer uma estratégia concertada para levar Portugal, não digo à final porque já fomos à final várias vezes, mas a uma excelente classificação em 2017. É preciso aproveitar que o nome de Portugal ainda está presente no Festival, e por isso é que eu vou a Estocolmo este ano, e a organização do festival tem de ser inteligente nesse sentido.

 

Continuas a ser considerada uma embaixatriz da Eurovisão, mesmo não tendo chegado à final, um título que te leva agora a Estocolmo. Como surgiu o convite? Como te sentiste? Que razões encontras para explicar o teu sucesso, sobretudo fora de portas? A tua canção continua a ser ouvida em festas eurovisivas e bares.

O convite foi inesperado. Não estava nada à espera. Fiquei bastante contente pelo convite da OGAE Internacional e a OGAE da Suécia tenham pensado em mim para animar - é assim que eles se lembram de mim - a grande noite do dia 11 no Euroclub. Todo o sucesso que Portugal teve em 2014 e 2015 por causa do festival, idas a vários países e cidades, repito, foi graças a muito trabalho e investimento, tempo pessoal, muita divulgação, estando sempre disponível para os seguidores, nunca esquecendo que o meu sucesso é devido a eles, e é a eles que estou muita agradecida. Quando vou actuar fora interpreto sempre um tema desse país. É um miminho. Canto outros temas da Eurovisão e todo o meu line up é pensado neles, que foi isso que me fez ter muita aceitação no mundo eurovisivo porque eu o espectáculo que eu levo é a pensar neles, nos fãs. Também canto claro outros temas que mostram o meu potencial vocal e faço-o por eles.

Depois, vou actuar lá a convite do WiWi Blogs. E também dia 12 vou estar nas festas da OGAE Dinamarca e OGAE Suécia, que também me convidaram para estar presente no meet and greet com os fãs, tirar fotografias, dar autógrafos, entrevistas, etc. Confesso que estou surpreendida passados dois anos para ainda estar presente nestes eventos. As pessoas não sabem, mas recebo muitas mensagens no meu Facebook Oficial com vídeos do “Quero Ser Tua” a passar em vários sítios e discotecas da Europa, o que eu acho extraordinário. As pessoas ouvem o tema e associam logo a Portugal e é bom saber que conseguimos levar o nome do país além fronteiras.

 

Como vai ser a tua agenda esta semana em Estocolmo? Onde é que os fãs te vão poder encontrar?

No dia 11, às 17 horas no Hard Rock Café, na festa do WiWi Jam, organizada pelo WiWi Blogs.

Depois à noite pelas 22-23 horas no Euroclub, na festa da OGAE Internacional e também OGAE Suécia.

Dia 12, às 14 horas na festa da OGAE Dinamarca e às 16 horas na festa da OGAE Suécia e também para autógrafos e entrevistas.

 

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Pela tua experiência que ingredientes não podem faltar para vencer a Eurovisão?

Para mim a regra número um, vamos lá ver… não existe apenas uma única regra geral de conduta para ganhar se não toda a gente o faria… mas acho que para começar é essencial ter o apoio dos fãs da Eurovisão, porque isso é meio caminho andado para termos uma boa classificação ou estarmos muito perto de ir à final, como foi o meu caso. E para que isso aconteça o representante do país tem de ser uma pessoa que seja próxima e disponível para os fãs, imprensa, não só a relacionada com a Eurovisão, mas outras. Eu, por exemplo, apareci na BBC e na televisão da Dinamarca. Quando estive na Dinamarca começava a trabalhar às 8 da manhã até 22 ou 23 horas da noite sempre a trabalhar, a responder a entrevistas, etc. Temos de ser próximos dos fãs, sermos humildes suficientes para lhes dar o valor porque eles ajudam muito a carreira do artista.

Em segundo lugar tem de haver um investimento por parte do canal e apoiar o seu artista, por exemplo, ir antes da semi-final a vários países onde se fazem as pre-parties da Eurovisão. Isso é muito importante.

Tudo passa pela promoção, marketing, investimento e personalidade do próprio artista.

 

É mesmo preciso ser uma canção em inglês?

Não é essencial que seja em inglês, mas não se esqueçam que os fãs também gostam de acompanhar o artista quando ele está a cantar o seu tema. É evidente, e isto foi tudo pensado, por que é que o Emanuel pensou em colocar repetidamente “Oh Oh Oh” e “Uauaué Uauaué!” porque os fãs conseguem cantarolar comigo. É evidente que um refrão em inglês ajudaria muito, não se esqueçam que as pessoas gostam de cantar por cima, se vamos para lá com refrões não orelhudos, os fãs não conseguem cantar os temas nem se vão lembrar do artista.

 

Que planos tens agora a curto/médio prazo? O público português vai poder assistir a algum espectáculo teu? Ouvir algum tema novo? Alguma participação especial?

Desde Janeiro estou numa fase tranquila e estou a compor e a escrever os meus próprios temas. Já o estou a fazer desde 2015, aliás. O processo criativo leva o seu tempo e estou numa fase de introspecção e aprendizagem. Estou a viver em Inglaterra para estar mais próxima dos produtores  e às vezes até tenho de recusar alguns convites.

 

Entrevista de Paulo Monteiro