Em 2019, a Invictas promoveu a iniciativa “Cartas para Gisberta”, convidando mulheres trans a escreverem àquela que foi a sua amiga querida, a colega na adversidade, a inspiração para a luta. Neste dia em que lembramos o seu brutal homicídio às mãos de 14 rapazes do Porto, odezanove.pt convida as pessoas trans a renovarem a iniciativa, apelando ao envio de novas cartas para publicação no site. Para que, hoje e sempre, a memória de Gisberta continue viva.
Com sete votos a favor e seis contra, o nome de Gisberta entrou finalmente para a bolsa de nomes da Comissão de Toponímia da Câmara Municipal do Porto. Não há uma data para anunciar a inauguração da Rua Gisberta porque o nome fica em lista de espera.
Por um Porto que nunca se esqueça de Gisberta Salce Júnior. É assim, através de uma rua com o nome de Gisberta, que a Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto (COMOP) e outras pessoas defensoras dos direitos das pessoas LGBTI+ em que se inclui a actriz e activista, Sara Barros Leitão, pretendem homenagear a mulher morta no Porto há 15 anos.
Tudo aponta para que tenha sido a maior Marcha do Orgulho LGBT de sempre na cidade do Porto. À 12ª edição da marcha que nasceu para não esquecer Gisberta Salce Júnior, barbaramente assassinada na cidade a 22 de Fevereiro de 2006, as bandeiras do arco-íris voltaram a sair às ruas da Invicta.
“A Gis”, curta-metragem sobre o assassinato de Gisberta Salce Júnior, vai estrear esta sexta-feira no Rio de Janeiro no âmbito do festival Curta Cinema do Rio. Depois, irá passar, ainda este mês de Novembro pelo Panorama Coisa de Cinema, em Salvador, e pelo Festival Mix Brasil, em São Paulo.
A cineasta e activista Raquel Freire filmou Eduarda Alice Santos e Lara Crespo, duas activistas trans, a propósito da morte de Gisberta Salce Júnior. Os vídeos recolhem os testemunhos das duas activistas sobre o assassinato que abalou a comunidade LGBT em 2006 e sobre o percurso dos direitos trans em Portugal.
Depois do Teatro Rápido, em Lisboa, numa versão de 15 minutos, que foi galardoada em 2013 com o Prémio dezanove para Melhor Peça de Teatro do Ano e de ter percorrido o país posteriormente numa versão alargada, "Gisberta" chega ao Brasil. A estreia está prevista para 11 de Março no Teatro SESC Paulo Gracindo, às 20h30 (SESC Gama). Nos dias 12 e 13 de Março a peça passa para o Teatro SESC Garagem às 20h30, também na capital Brasília.
Na semana seguinte (18 a 20 de Março) a peça é apresentada no SESC PALLADIUM, em Belo Horizonte.
Activistas, associações e colectivos organizam uma série de eventos físicos e online para prestar homenagem por ocasião do décimo aniversário da morte de Gisberta Salce Júnior.
Eu tinha apenas 15 anos quando a Gisberta foi assassinada. Ligava pouco a jornais e noticiários, mas a cobertura deste caso foi tão grande, que era impossível ignorá-lo. Demorei tempo a digeri-lo (alguma vez o fiz?) mas o que senti foi, sobretudo, medo.
Conheci a Gisberta há 30 anos no Kilt, onde é actualmente o bar INVICTU’S. Depois disso a nossa convivência foi mais casual, às vezes muito seguida, outras vezes mais esporádica. Mas sempre tive a mesma opinião: a Gisberta era uma pessoa que sorria à vida.
O telefone tocou a meio da tarde. Era o Sérgio [Vitorino]. Estava muito frio, não queríamos sair da cama. A única coisa que entendi foi que teriam encontrado um “travesti” morto, com sinais de tortura no corpo, numa construção abandonada no centro do Porto.
A morte de Gisberta chegou como um murro no estômago – sem aviso, sem forma de nos protegermos da dor, sem recursos para interpretar aquilo que não podia se não causar-nos a maior perplexidade.
Definitivamente, o ano de 2006 foi, para mim, um ano terrível. O ano em que perdi dez quilos em poucos meses, como denuncia, para quem me conhece, a foto que acompanha este texto, tirada na Marcha de Lisboa desse ano. Um ano de morte. A morte simbólica da minha vivência – até então sem “contraditório” – de uma cidade do Porto feita apenas de afectos e generosidade; o desaparecimento da minha mãe após demasiado tempo de sofrimento, falecida poucos meses depois dos factos que motivam este artigo e de quem me encontrava a cuidar praticamente a tempo inteiro quando soou o primeiro alarme de que algo pavoroso tinha acontecido num prédio inacabado da Invicta, às mãos de um grupo de catorze rapazes com idades entre os 12 e os 16 anos. Cada um deles, diga-se, simultaneamente algoz e vítima de maus-tratos na infância, a confirmar que a linguagem de violência é muitas vezes de novo reproduzida porque a conheceu na pele e nunca conheceu outra.