Por um prato de lentilhas
O Mundial da Vergonha já acabou. Já podem voltar para o vosso modo de ultraje performativo e de solidariedade oportunista habitual, com que compram o selo de cidadãos de bem com que se pavoneiam nas redes sociais.
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O Mundial da Vergonha já acabou. Já podem voltar para o vosso modo de ultraje performativo e de solidariedade oportunista habitual, com que compram o selo de cidadãos de bem com que se pavoneiam nas redes sociais.
A ILGA Portugal entra em campo pela segurança das pessoas LGBTQIA+ no Catar e promove a iniciativa Pride Stands (Bancadas Pride em português) em parceria com a COMON, o Studio Nuts e o apoio da comunidade gamer, tendo como embaixadora Raquel Martinho, bicampeã nacional de FIFA.
Na segunda-feira jogaram, e venceram, os meus dois países. Luso-brasileiros em todo o mundo passaram por momentos de grande ansiedade, mas como eu não ligo muito a futebol, limitei-me a celebrar com um emoji sorridente quando alguém me notificou por mensagem os resultados.
Alteraram a braçadeira de capitão, colocaram bandeiras nos estádios e, chegaram até, a criar uma onda de afecto quando um jogador se assumiu homossexual. Mas, apesar de todo o “activismo”, que agora percebemos falso, não se lembraram de mais nenhum país para celebrar a maior competição do desporto que amam. Tornou-se difícil a escolha e, por coincidência, ficou designado um país onde ser LGBTQIA+ não só é ilegal como é punível com pena de morte.
O Campeonato Mundial de Futebol FIFA de 2022 será a vigésima segunda edição deste evento desportivo e ocorrerá no Qatar, um país que criminaliza a homossexualidade. Muito se tem falado sobre a (in)segurança de pessoas LGBT neste país e as declarações de várias pessoas sobre o tema têm sido contraditórias.
O Qatar, país organizador do Campeonato do Mundo de Futebol 2022, assegurou não existirem motivos para os jogadores gays e fãs de futebol se sentirem inseguros no país, mesmo que este país criminalize a homossexualidade. Contudo o Qatar tem sido alvo de polémica com diversos países a admitirem um possível boicote, em protesto contra as violações dos direitos humanos que ali ocorrem.
O presidente do comité organizador do Campeonato do Mundo de Futebol 2022, Nasser Al-Khater, afirmou que demonstrações de carinho serão mal vistas no Qatar. Seja para o público hetero seja para homossexuais.
Segundo levantamento da ILGA (Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Trans e Intersexuais), 70 países criminalizam a homossexualidade, o que representa 35% das nações membros da ONU (Organização das Nações Unidas).
O presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, promulgou uma lei que legaliza a poligamia heterossexual. Desta forma, os homens quenianos poderão casar com tantas mulheres quanto desejarem.
A FIFA apanhou toda a gente de surpresa quando revelou ao mundo que o país anfitrião do Mundial de Futebol 2022 seria o Qatar, pais que é mais conhecido por ser um nome constante em listas de países que abusam os direitos humanos. O presidente do comité, Sheikh Mohammed bin Hamad Al-Thani (foto), saiu em defesa do seu país, dizendo que as pessoas tinham de deixar estas “ideias preconcebidas” em relação ao Qatar. E continuou: “Essa ideia que as mulheres são oprimidas é completamente errada.”
No entanto, em Maio deste ano a Amnistia Internacional publicou um relatório preocupante, no qual se lê que as mulheres no Qatar enfrentam discriminação e violência e que centenas de pessoas são arbitrariamente privadas da sua nacionalidade. Este relatório, que cobre o período de 2009, também declara que pelo menos 18 pessoas, na sua maioria estrangeiras, foram punidas por crimes relacionados com “relações sexuais ilícitas” ou consumo de álcool, com uma pena de flagelação, entre 40 e 100 chicoteadas. A Amnistia Internacional apelou ao Qatar para “suspender as restrições aos direitos de liberdade de opinião e expressão e promover a liberdade de imprensa”.
Outra questão que causa controvérsia, é o facto de a homossexualidade ser ilegal neste país. Ed Connel, o porta-voz da Gay Football Supporters Network declarou: “A FIFA está a tentar enviar uma mensagem de que a homofobia é inaceitável mas ao mesmo tempo apoia um país onde a homossexualidade é ilegal. Como é que as pessoas vão interpretar o compromisso da FIFA em combater a homofobia quando apoiam um pais desta forma? É uma mensagem muito contraditória.”
Para o Qatar e para o Médio Oriente esta é uma data memorável. Al-Thani declarou: “Iremos organizar este evento com paixão e assegurar que será um marco na história do Médio Oriente e da Fifa. Agradeço em nome dos milhões de pessoas no Médio Oriente por acreditarem em nós. Prometo que não iremos desapontar.” Desapontados, no entanto, estavam os Estados Unidos que eram os grandes favoritos para ganhar a organização deste evento, mas perderam na quarta ronda por 14 votos contra 8 a favor. O Mundial de 2018, onde Portugal concorria ao lado de Espanha, foi ganho pela Rússia.
Fonte: The Guardian