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Tchinda, um nome de Cabo Verde para toda a comunidade LGBTI (com vídeo)

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"Tchindas" (2015), de Pablo García Pérez de Lara e Marc Serena, surge de um longo caminho que começou a ser pavimentado em 1998, por Tchinda Andrade. Foi nesse ano que se revelou como uma mulher trans a um semanário local. Desde então, é uma das mulheres mais queridas da ilha de São Vicente, em Cabo Verde.

O amor por Tchinda estendeu-se a tudo o que que é queer. O seu nome é agora um adjectivo que abrange a toda a comunidade LGBTI e que, surpreendentemente, nesta ilha quente do Atlântico, tem uma conotação de elogio.
No seu ritmo próprio, vagaroso como o das ilhas que compõem o país, "Tchindas" mostra-nos, para além do dia-a-dia das tchindas, a realidade da população que, entre várias circunstâncias caricatas, tem de ajeitar uma pedra para receber o sinal da TVI e da Sport TV. Apesar destas dificuldades, o carinho, o espírito de entreajuda e muita felicidade passam através das imagens.
Sendo que a matéria é São Vicente, não se pode escrever felicidade sem escrever também Carnaval. É aqui que as pacatas vidas - especialmente as das tchindas - atingem o clímax e acompanhamos as preparações que antecedem O Evento - se realiza com " dinheiro da câmara" que, sem surpresas, é "pouco e demora a chegar".
A vida para Tchinda Andrade não se faz apenas de carnavais. Ela, envergando seu top, calções curtos e uns belos saltos, corta e prepara a galinha, para depois a vender pelas ruas, enquanto apregoa "coxinha da Tchinda". Muito interessante é ver que em tempos de preparativos do carnaval, os pais confiam-lhe as crianças, sem qualquer reserva. As crianças olham para ela com admiração, provando, assim, a tábua rasa que são, até que nelas escrevam "ódio".
No meio desta pacatez ainda surgem situações menos boas, mas o documentário não dá plataforma à pequenez, só lhe faz referência quando as crianças partilham com Tchinda que o pastor afirmou que o Carnaval é coisa do diabo. Ela confirmou e, claro, riram-se.
É certo que esta não é a nossa heroína típica das palavras longas, com significados caros. É serena, fala com o saber da vida e do coração. Limitou-se a ser quem é, de forma natural. Os outros seguiram-lhe. São Vicente mudou e, como os realizadores contaram em entrevista ao dezanove: "Cabo Verde está à frente das suas leis". Com este documentário, que estreou em Portugal no Queer Lisboa 20, Pablo e Marc pretendiam essencialmente desmistificar o obscurantismo que paira sobre África. Missão cumprida.

 

Classificação: 3,5 estrelas em 5 

 

 

Leonardo Rodrigues