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Um retrato sobre as travestis do Conde Redondo

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Apresenta-se como o primeiro retrato profundo das travestis em Portugal e venceu o Prémio APAV para a Investigação 2019. A obra de Nélson Alves Ramalho “Virar travesti – trajectórias de vida, prostituição e vulnerabilidade social”, que resulta da sua tese de doutoramento, foi agora editada pela Tinta da China.

Ao longo de cinco anos, Nélson Alves Ramalho mergulhou no mundo da prostituição travesti do Conde Redondo, em Lisboa, para compreender as suas trajectórias pessoais, a sua identidade, os seus modos de vida e os processos de exclusão social. É que, como destaca a obra, as “travestis trabalhadoras do sexo são representadas no imaginário social como 'aberrações': pessoas 'doentes', com personalidade instável, sexualmente 'promíscuas', 'violentas', que frequentemente se encontram envolvidas em roubos e drogas. São, no fundo, pessoas a evitar. A difusão reiterada destes discursos, produzidos na sua maioria a partir de um contacto superficial com a realidade das travestis, tem tido um efeito profundamente estigmatizador, incitando o ódio, promovendo um clima de violência socialmente aceite, empurrando as para territórios periféricos, marginais e ligados ao submundo”.

Contextualizado por dezenas de entrevistas, o livro acompanha as dinâmicas das relações familiares, as primeiras experiências, o coming out, a entrada no mundo do trabalho, as práticas de transformação corporal, mas também as situações de transfobia, insegurança e violência extrema. A obra reflecte ainda sobre as redes de suporte informal (familiares, amizades, “maridos” e clientes-amigos) mas também sobre as redes de suporte formal (serviços sociais, associações LGBT e projecto Trans-Porta). O livro, que inclui um mapa do bairro e um glossário de palavras usadas no ambiente das trabalhadores do sexo do Conde Redondo, leva ainda a debate o significado de “travesti” no contexto dos estudos antropológicos, etnometodológicos, feministas, queer e transgénero.

Passados mais de 10 anos dos casos trágicos que vitimaram Gisberta e Luna, Nélson Alves Ramalho alerta ainda para a necessidade de se desenvolver políticas públicas que ajudem a comnbater a discriminação das travestis trabalhadoras do sexo.

 

Foto: Presidente da APAV, João Lázaro, e o autor. Foto da autoria de Ana Brígida, publicada no site da APAV