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Uma história de amor e transexualidade em "Longe do Corpo"

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Longe do Corpo” esteve em cena durante alguns dias de Fevereiro na Sala Experimental do Teatro Joaquim Benite (Almada) e não esperou pelo palco para se fazer ouvir. O espectáculo começa, inesperadamente, ainda no exterior da sala, com um breve, mas portentoso, drag show de Natasha Semmynova, artista a que Vítor Fernandes dá corpo há anos na noite transformista do Porto.

A actuação de Natasha, ao som de Lady Gaga, explode como uma granada de energia (estranha e, à luz do dia de um teatro municipal, surpreendente) no meio do público. Deixa no ar, e na expressão de alguns dos que assistem, uma estupefacção contida, de quem não sabe bem o que esperar a seguir. É difícil a uma apresentação teatral, ou a qualquer espectáculo, começar em melhor posição de vantagem.

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Já dentro da sala, a peça incide o seu foco sobre Carlos, desempenhado por Paulo Moura Lopes, que desde pequeno sente ter nascido no corpo errado. É só em adulto que Carlos encontra no amor a coragem para revelar o seu segredo e começar a difícil transição para Carlota.

A transformação de Carlos é impulsionada por Rogério, um professor cuja experiência de vida na cidade lhe permite vislumbrar e apaixonar-se pela mulher à sua frente. A relação dos dois, na qual assenta grande parte da ação, oscila de forma pouco persuasiva entre a ingenuidade de Carlota e a mundanidade de Rogério, solidamente interpretada por Pedro Mendonça. A densidade do texto nem sempre facilita o trabalho dos atores e alguns elementos dramáticos da história (como os flashbacks de infância) não produzem plenamente o efeito pretendido.

É no humor e nos momentos musicais de Natasha que a peça da encenadora Marta Freitas parece, como teatro e tema, brilhar mais. A intrepidez com que Vítor incorpora Natasha revela um performer habituado a comandar e transformar o estranhamento de qualquer público em atenção. Cada entrada sua em cena desloca o centro de gravidade da história e devolve a intensidade prometida na abertura do espetáculo. A sua presença reforça uma certa falta de mundo na personagem de Carlota e deixa a sensação de que o tema central em palco, a transexualidade, mais do que jogado, está a ser explicado.

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É debatível se algumas das boas intenções do texto ao nível da transexualidade são necessárias ou bem-sucedidas, pelo menos num teatro de um grande centro urbano, mas “Longe do Corpo” não se esgota aí, sobretudo quando assume o estranhamento.

“Longe do Corpo” é uma criação e produção da Mundo Razoável, com texto original e encenação por Marta Freitas. Estreou em Novembro de 2014, no Cine Teatro Constantino Nery. À data deste texto, não tinha mais actuações agendadas.

 

3 em 5 estrelas

 

Pedro Neves

 

 

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