Filhos gays e lésbicas não são nenhum fenómeno do Entroncamento
Dezenas de pais e mães, filhos e filhas, amigos e até um casal de avós esteve presente nesta tarde de Sábado a comemorar o primeiro aniversário da AMPLOS, no Centro de Estudos Sociais, no Picoas Plaza em Lisboa. A AMPLOS – Associação de Mães e Pais Pela Liberdade de Orientação Sexual foi criada há um ano por Margarida e Paulo, que fazem da luta contra a discriminação dos filhos LGBT, e do apoio que dão aos pais destes filhos, a sua bandeira.
Tal como nos restantes encontros que a AMPLOS organiza, na primeira parte do encontro realizou-se uma reunião apenas destinada a mães e pais. Nesta surgiram cinco mães estreantes. Depois de cantados os Parabéns, seguiu-se uma reunião aberta onde participaram vários jovens. A prenda de aniversário oferecida por Catarina, filha dos fundadores da AMPLOS, foi um documentário áudio realizado durante o festival de cinema Queer Lisboa. Ao longo do festival, Catarina recolheu testemunhos de filhos LGBT sobre a sua relação com os pais. Ao longo de 16 minutos foi possível ouvir jovens gays e lésbicas dizerem que “Não é uma relação perfeita. O meu pai não tem interesse nisso. A relação com a minha mãe é óptima”; “Não compreendo o que leva os meus pais a ter tão pouca capacidade de aceitação”; “Os filhos [gays e lésbicas] não são nenhum fenómeno do Entroncamento” ou “Amem os vossos filhos como eles são e ponto.” Em declarações ao dezanove, Catarina diz que “se os meus pais têm força para continuar a dirigir esta associação não é só por ser um tema que lhes diz respeito, mas porque todos os dias recebem o feedback positivo do seu trabalho. Tenho orgulho nos meus pais, mas também nos que vêm às reuniões e contactam a AMPLOS.”
O trailer do documentário educativo “2 Volte Genitori” inspirou Margarida Faria a avançar com um projecto do género em Portugal. A presidente da AMPLOS explicou ao dezanove o título do projecto europeu como “quando descobrimos que temos um filho gay é como sermos pais duas vezes”. Este projecto foi realizado em 2009 pela congénere da associação portuguesa em Itália, a AGEDO. No documentário são retratadas as vivências de pais e mães italianos e a sua relação com os filhos LGBT e como lidaram com o seu coming out. Ao longo do documentário, do qual foi possível ver excertos no dia de aniversário da AMPLOS, os testemunhos oscilam entre “quando li a carta do meu filho parecia que estava a levar com um punhal”, passando pelo “heteros ou gays serão sempre nossos filhos” ou rematando com um entusiasmante “foi uma felicidade termos vindo [com a nossa filha e a sua namorada ao Pride de Roma].”
A AMPLOS foi-se ampliando
Margarida Faria faz o balanço deste último ano ao dezanove: “Começámos por ser dois, hoje somos 50”. A presidente da AMPLOS revela que “se há 35 anos me tivessem dito que estaria hoje a lutar pela justiça e pelos direitos mais básicos eu não acreditaria, e teria desanimado e ter-me-ia zangado; não me zanguei então, zanguei-me agora. Foi preciso sentir em minha casa o que os homossexuais sentem há séculos para compreendê-lo." Constituída com o propósito de lutar contra a discriminação sexual, após reuniões com jovens da rede ex aequo e com a ILGA Portugal, rapidamente lhe juntou a identidade de género e a luta pelo direito à parentalidade, porque “os nossos filhos têm direito a ser mães e pais e queremos que todos tenham uma situação socialmente reconhecida e legal”, diz, convicta, esta mãe.
Apoio sem preconceito e sem fronteiras
Além do apoio dado pela rede ex aequo, ILGA Portugal, Centro de Estudos Sociais, APF – Associação para o Planeamento da Família, associação cultural Cadeira de Van Gogh, a empresa Rumores de Nuvens que ajudou a conceber o site que já obteve mais de 25 000 visualizações, Margarida Faria cita que foi através de uma mãe que se conseguiu o apoio da marca sueca de cosméticos Oriflame, para publicação de panfletos informativos e da faixa, que “orgulhosamente levamos na marcha pride do Porto e de Lisboa, e cujo nome ficou inscrito sem qualquer preconceito”. Foi a primeira vez que os pais estiveram oficialmente representados nestes eventos. Margarida menciona ainda que a existência de uma associação autónoma se justifica “porque há pais e filhos que querem falar com uma mãe”.
A AMPLOS realiza encontros regulares em Lisboa e no Porto, estando previsto para o próximo ano que possam começar a realizar-se encontros em Coimbra.
Paulo Monteiro
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