O advogado brasileiro José Paulo Cavalcanti Filho, ao fim de oito anos de investigação e quatro viagens a Portugal, prepara-se para lançar o livro "Fernando Pessoa: Quase uma autobiografia". A obra promete ser polémica. Cavalcanti Filho acredita que Fernando Pessoa chegou a usar 202 nomes diferentes, sendo destes 127 heterónimos. Até aqui acreditava-se que seriam 72 heterónimos. Cavalcanti Filho analisa ainda o perfil do poeta. Para o investigador, tinha "uma vida limitada. Não cometeu nenhuma vilanagem, mas também nenhum acto de heroísmo. Era um anónimo, que se esforçava por ser ainda mais discreto".
Frequentador de bordéis, Pessoa seria na verdade alguém que falava pouco sobre mulheres e teria traços que poderiam indiciar a sua homossexualidade, apesar de não existirem indícios de que se tenha relacionado sexualmente com homens. "Essa tendência [homossexual] atravessa os heterónimos, sobretudo Álvaro de Campos, que era assumidamente gay. Acredito que se ele vivesse nos dias de hoje talvez se assumisse", especula Cavalcanti Filho, em declarações ao O Globo. "Ele tinha um amigo, António Botto, que era homossexual assumido, apesar de casado. Ele contava ter ficado assustado com o tamanho do pénis de Pessoa, que seria muito pequeno. Não tenho como provar, mas minha explicação é que por isso o poeta não tinha coragem de se expor perante as mulheres." Recorde-se que a grande paixão de Pessoa foi Ofélia Queirós.
publicado às 13:29
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2 comentários
Marquesa Amélia 28.03.2011 21:07
Gay? Hetero? Bissexual? Impossível saber, a não ser que surjam novos indícios. Fernando Pessoa teve uma formação de cariz anglo-saxónico. Contactou com os clássicos, e claro, com o amor masculino presente não só na literatura da Antiguidade, como em textos do século XIX e do início do século XX. Este tipo de formação humanista ao estilo britânico contrastava com a pobreza intelectual da educação católica portuguesa. Em Inglaterra, por exemplo, aos 13 anos os adolescentes das elites já deveriam saber latim e grego clássico. Adiante.
Ora dizia eu que tendo FP contactado com o tema, seria possível que o apresentasse nas suas obras, sem que fosse necessariamente homossexual ou bissexual. Acrescento que Fernando Pessoa vivia rodeado de escritores para quem a homossexualidade não era tabu: Raul Leal, Mário de Sá-Carneiro ou António Botto são exemplos.
Acredito mesmo que ao ter contactado com a homossexualidade na literatura, FP possa mesmo ter tido a curiosidade de aprofundar o tema e até ter experiências de cariz homossexual, sendo heterossexual. Para os homens jovens das elites britânicas, nos séculos XVIII ou XIX Paris, Florença ou Veneza eram destinos procurados para experiências de cariz homossexual; várias personalidade do Reino Unido ficaram conhecidas pelas suas experiências sexuais com outros homens, como Lord Byron ou Aleister Crowley. Havia uma certa cultura de tolerância relativamente aos affairs com outros homens, claro, desde que não houvesse «escândalo público».
Por outro lado, alguns traços da personalidade de Fernando Pessoa e dados conhecidos da sua biografia apoiam a hipótese da homossexualidade. Recordo que o nosso poeta escreveu mesmo poesia homoerótica.