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Inês Herédia: a tentativa de aproveitamento das marcas por ser lésbica, o coming out e a fé católica - Entrevista "Dona da Casa", Antena 3

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A actriz Inês Herédia assume que já foi discriminada em contratos de publicidade por ser lésbica, por "marcas de vários tipos" como alimentação e bebés. "Nunca te dão essa explicação. Mas tens 3 pessoas para serem escolhidas, depois reduz para 2, de repente já és só o único perfil que encaixa exactamente no que eles querem, e depois não ficas. Achas estranho. Depois acabam por não pôr ninguém e vai uma modelo. Depois passado dois anos descobres o porquê", revela.

 

Em entrevista à jornalista Catarina Marques Rodrigues, no programa "Dona da Casa" na Antena 3, a actriz revela que também sofreu tentativas de pinkwashing: "Chegávamos ali ao mês de Junho e eram 7, 8, 9 marcas a querer fazer a comunicação do mês Pride. O seres gay friendly não é só no mês Pride. Em Junho, de repente, vês todas as figuras públicas a pôr bandeiras mas cada vez que sai uma notícia de que uma mulher foi assassinada na Venezuela por ser lésbica, ou que o casamento gay agora é legal na Tailândia, não vês nenhuma a partilhar que não seja gay. Faz-me confusão. Eu agora tenho muito cuidado com as marcas às quais me associo. Há responsabilidade aí. Recebo muitas mensagens de jovens LGBT, 90% delas são sobre problemas específicos que estão a atravessar, como estarem com medo de contar à família, serem expulsos de casa, etc", confessa no programa disponível em podcast e no YouTube da Antena 3. 

Casada com Gabriela Sobral há seis anos, a actriz recordou o momento em que apresentou a actual esposa à família: "Foi um dia super especial, porque era dia da mãe. E a minha mãe escolheu esse dia porque a Gabi não tinha cá a mãe dela e a minha mãe sabia disso. Foi um passo para mostrar que estava a fazer tudo o que estava ao alcance dela. Hoje em dia faz parte da família como qualquer outra pessoa", conta.

Sobre o meio televisivo, a estrela aponta ainda alguma discriminação e alguns esterótipos: "Tudo o que envolve câmara, seja televisão ou cinema, não é assim tão aberto. Principalmente para os homens. A partir de um momento que um actor homem tem alguns trejeitos mais femininos, automaticamente acreditam que este actor não é capaz de fazer uma personagem com uma expressão de género mais masculina, como um galã, por exemplo", nomeia.

Inês Herédia assume ainda que, no início da sua relação com a actual diretora de produção e conteúdos da Plural, "houve sempre uma tentativa" de associar o seu trabalho a serem namoradas, "principalmente porque foi o primeiro projecto que eu fiz em TV", revela. "Na esmagadora maioria das vezes há pouca disponibilidade para se perceber o que é que as pessoas já fizeram antes. Eu estava há quase 10 anos a fazer teatro, tinha o conservatório, tinha estudado em Londres", sublinha.

Nesta conversa liderada pela jornalista especialista em questões sociais e desigualdades, Inês Herédia explica ainda que o casal foi criterioso na escolha da escola para os filhos Luís e Tomás: "A nossa primeira pergunta foi: Somos duas mães, como é que é? Há mais casos, quantos casos? Se forem os únicos na turma, vai ser tema. As escolas têm de ter consciência que isto ainda é tema", explica, contando também alguns episódios curiosos: "Um dos meus filhos tem um amigo que naquele ano estava a realizar que não tinha mãe, que a mãe tinha morrido, e houve um dia que esse amigo estava a chorar e um dos meus filhos chegou lá e disse: "Olha, eu não tenho pai mas tenho duas mães, posso-te emprestar uma, queres? Para eles é igual ser dois pais ou duas mães, o que lhes aperta o coração é quando um desaparece", acrescenta a actriz.

 

Outros momentos da entrevista a Catarina Marques Rodrigues, no programa "Dona da Casa":

"O crescimento que tem que se fazer é: vai sempre haver qualquer coisa, principalmente se fores boa. E eu habituei-me a isso desde muito cedo. Ou é porque era beta, ou é porque era gay, ou porque não era beta o suficiente ou porque não sou gay o suficiente".

"Eu já sabia que gostava de mulheres mas vivia com as duas certezas: claro que eu não sou lésbica, e eu tenho a certeza absoluta que sou. Eu vivia com as duas realidades. E isto jogava com a minha fé, que era inabalável. A minha maior luta em estar em paz com quem eu sou foi uma luta interior. A minha fé era tão grande que eu sabia: o que eu estou a fazer é completamente incompatível com a minha fé".

"Somos um país muito conservador, o nível de conservadorismo católico é muito parecido nas elites e nas classes mais baixas".

"Mas eu questiono muito: Se isto é amor, porque é que está errado? Percorri a Bíblia para encontrar respostas, do Antigo Testamento ao Novo Testamento. Eu consegui sair desse passo que é: o que está aqui é lei".

"Decidi fazer o coming out porque estava loucamente apaixonada. Na minha cabeça foi: isto vai ter que funcionar tudo junto porque eu não consigo fazer isto sem a minha família, são parte de mim. Disse: Mãe, eu tenho uma namorada. Não foi fácil para ela ouvir. Eu ia preparada para: eu sei que os meus pais vão precisar de tempo. Era um tema que não se falava. Acho que é sempre diferente quando nos calha em casa. Os meus pais são super tolerantes, mas quando calha em casa, no nosso prato, é diferente"

"Ninguém suspeitava. E havia muito uma ideia na altura de que uma mulher lésbica tinha de ter uma expressão de género mais masculina, que não era o meu caso, cabelo rapado… Uma das coisas que me foi perguntada no meu seio familiar foi se eu ia cortar o cabelo. E eu não entendi a pergunta".

Programa Dona da Casa: para ouvir em antena3.rtp.pt, RTP Play, Spotify, Apple Podcasts e ver no YouTube da Antena 3.