Sexualidade dos idosos LGBT: uma "minoria" invisível dentro de outra "minoria" invisível
Assinala-se hoje, 1 de Outubro, o Dia Internacional do Idoso. A data que começou a ser celebrada em 1999, por recomendação da ONU, ano em que se comemorou o Ano Internacional do Idoso. No mundo, 600 milhões de pessoas têm mais de 60 anos. Em Portugal, segundo projecções do Instituto Nacional de Estatística, o índice de envelhecimento da população é actualmente de 112 idosos por cada 100 jovens. Em 2046 será de 238 pessoas com mais de 65 anos por cada 100 pessoas até aos 14 anos.
As pessoas idosas ou seniores vivem na dualidade de, por um lado, serem considerados líderes e detentores da sabedoria, mas, por outro, de serem vistas como incapazes, desconhecedores e até inúteis por parte da sociedade. Estas opiniões podem condicionar a vida da população sénior e podem acentuar sentimentos de rejeição e deterioração a sua qualidade de vida. A população sénior LGBT parece não escapar a esta realidade com a agravante da falta de visibilidade. Nuno Nodin, psicólogo e coordenador (cessante) do projecto Para Maiores de Idade (PMI), da associação Sentidos e Sensações, explica ao dezanove que a ideia “surgiu da constatação do aumento das taxas de infecção pelo VIH entre pessoas com mais de 50 anos e do desconhecimento associado a essa realidade, também no que respeita à saúde sexual dessa população, muitas vezes considerada assexuada.”
Contando com o apoio da DGS (Direcção Geral de Saúde) e uma parceria da RUTIS (Associação Rede de Universidades da Terceira Idade),o PMI decorreu entre Setembro de 2009 e Outubro de 2010 e pretendia promover comportamentos saudáveis ao nível da saúde sexual bem como o reconhecimento e a aceitação da sexualidade como uma componente de todo o ciclo de vida na população acima dos 55 anos de idade. No caso específico da faixa LGBT, e com o apoio da associação ILGA Portugal, foi preparada uma palestra e um grupo focal. Essa foi uma das bases de trabalho para um panfleto designado “Sexualidade e envelhecimento para minorias sexuais” distribuído pela Sentidos e Sensações.
Da investigação levada a cabo no âmbito do PMI apenas cerca de 3% dos 316 inquiridos indicaram estar numa relação com uma pessoa do mesmo sexo, destes todos eram homens. Durante o período de aprovação da lei do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, em 43 palestras e/ou sessões sobre sexualidade e envelhecimento, realizadas em universidades seniores e noutros locais com público alvo similar de todo o país, “raramente surgiram questões relacionadas com a orientação sexual e muitas destas vezes quando surgiam tinham um carácter de recriminação ou condenação dos relacionamentos e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, demonstrando alguma resistência de pessoas seniores em lidar com a diversidade ao nível da orientação sexual” comenta Nuno Nodin.
Crenças versus discriminação etária dos seniores LGBT
A investigação do projecto PMI revelou que a crença mais ou menos generalizada de que “os indivíduos homossexuais e bissexuais muitas vezes acabam a sua vida sós e com dificuldades” parece não se verificar. A investigação demonstra que os seniores LGBT poderão inclusive estar mais preparados para lidar com a velhice, uma vez que muitos tiveram que lidar com condições de vida adversas, como a homofobia e a repressão, ainda que parcialmente ao longo da vida. Tal facto pode levar alguma desta população a planear a sua independência económica e a construir uma boa rede de apoio social de suporte durante o envelhecimento mesmo quando não têm um relacionamento.
A forma como o envelhecimento é percepcionado na sociedade em geral pelos pares mais jovens revela que entre indivíduos e comunidades LGB “existe uma tendência para valorizar imagens e a boa forma física associadas a pessoas mais novas.” Muitos homossexuais ainda têm dificuldade em lidar com o seu próprio envelhecimento acabando, às vezes, por mentir sobre a sua idade, é outra das conclusões apontadas.
Os resultados do estudo PMI estarão disponíveis em breve para consulta no site da Sentidos e Sensações - Associação de Promoção e Educação para a Saúde - e no site da DGS anunciou o psicólogo Nuno Nodin.