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Almodóvar numa outra pele (vídeo)

O primeiro filme de Pedro Almodóvar a ganhar um Óscar, "Tudo Sobre a Minha Mãe" ("Todo Sobre Mi Madre", 1999), é o primeiro de uma etapa exclusivamente dramática na filmografia do cineasta. Etapa essa que com "Abraços Desfeitos" ("Los Abrazos Rotos", 2009) já se adivinhava estar a terminar. O novo "A Pele Onde Eu Vivo" ("La Piel Que Habito", 2011) poderá ser o começo de uma nova fase na carreira do realizador, que se encaminha para um outro estatuto, uma outra pele, se assim quisermos.

 

Este filme é um Almodóvar frio, desapegado, e até mesmo desumano. Tão frio, desapegado e desumano quanto o Dr. Robert Ledgard (Antonio Banderas) é. Felizmente que Almodóvar não está a tornar-se nesta sua versão do Dr. Frankenstein. Pois nem sempre as personagens são o que são os filmes e nem sempre os filmes são o que são os seus realizadores.

 

Este Pedro é um outro Almodóvar. Este Pedro está numa outra pele, um Almodóvar refinado, sem artifícios fáceis, um mestre, que na verdade sempre o foi, mas está noutra categoria. Tanto "Voltar" ("Volver", 2006) como "Abraços Desfeitos" já denunciavam isso, sobretudo o segundo. A delicadeza e a pureza de cenas como a do cemitério, no caso de "Voltar", ou como as das paisagens de Lanzarote em "Abraços Defeitos", são de um cirurgião plástico que faz tudo na perfeição e que se tenta suplantar a si mesmo em cada cirurgia, num bloco operatório de última geração. A pele onde vive Robert, Vera (Elena Anaya), Marília (Marisa Paredes) e Vicente (Jan Cornet), é a pele deste outro Almodóvar. É, no entanto, um filme "duro, desassossegado e complexo" como diria Marisa Paredes na sessão de encerramento do Lisbon & Estoril Film Festival, que apresentou "A Pele Onde Eu Vivo" em antestreia, no passado domingo, dia 13. E é aqui que o filme começa a falhar. Não há o mesmo deslumbramento neste filme de Pedro como noutros, como por exemplo com o soberbo "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" ("Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios", 1988), que no início deste mês viu a sua versão teatral estrear nos palcos nova-iorquinos da Broadway. O deslumbramento é necessário para nos podermos identificar com as personagens principais, como a heroína Vera. Que aparece aqui quase como um meio (e também o fim) que justifica os métodos de Robert. Mas não é. Na verdade, é muito mais que isso. Vera é a peça central do filme e isso não é devidamente explorado. A haver culpas, a culpa não é da lindíssima Elena Anaya, mas sim do Pedro dos anos 80 que ainda não vestiu por completo esta outra pele deste outro Almodóvar. O que falha também é o final. Não é deslumbrante, é apenas aceitável. Apesar das reviravoltas serem verdadeiramente surpreendentes, o grande clímax acontece cedo de mais.

 

Esperemos que o próximo Almodóvar, "Mina", com Marisa Paredes no principal papel, que nos conta a história da vida extraordinária de uma cantora italiana, com uma carreira de vários êxitos, bem sucedida na televisão, choca a sociedade ao ter um filho com um homem casado, e acaba por se retirar da vida pública, não seja assim.

 

 

Luís Veríssimo

 

classificação: 4 estrelas em 5

 

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