Açores: Primeira Marcha do Orgulho LGBT junta milhares nas ruas
A concentração estava marcada para as 17 horas nas Portas da Cidade, em Ponta Delgada. Pouco depois da hora agendada, começaram a chegar grupos de pessoas que rapidamente deram cor à praça cinzenta do basalto enquanto muitas pessoas paravam nos passeios e cedo a praça ficou rodeada de “curiosos”.
A marcha arrancou por volta das 18h30, deste Sábado, juntando cerca de 200 manifestantes e aproximadamente 2000 pessoas nos passeios, segundo números da polícia local.
Os colectivos presentes que integraram a marcha foram a UMAR-Açores, Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade (CIPA), Associação de Planeamento Familiar (APF), Descalças – Cooperativa Cultural, Amnistia Internacional, APAV, Bloco de Esquerda (BE) e o Partido pelos Animais e Natureza (PAN).
“Liberdade”, “Igualdade”, “Direitos”, “Tolerância”, “Respeito” e “Visibilidade” foram as palavras mais ouvidas no decorrer do desfile. No pequeno percurso entre as Portas da Cidade e as Portas dos Mar a causa LGBT parece ter ganho apoiantes. No passeio uma “segunda marcha” acompanhava a “principal” tendo sido muitos os que acabaram por atender às palavras de ordem “sai do passeio, vem para o nosso meio”. À chegada, podia-se contabilizar o dobro dos participantes que inicialmente integraram a marcha.
Um palco decorado com muita cor, junto à baía, deu lugar a intervenções e testemunhos de membros da organização, padrinhos e madrinha e representantes de associações apoiantes. De seguida, no palco, instalado nas Portas do Mar, decorreram as performances de artistas locais desde o famoso transformista micaelense Suelly Pluma, passando pela “descalça” Catarina Fernandes até à cantautora Alexadra Boga, também membro da associação Pride Azores.
A Marcha LGBT dos Açores e o Festival Pride Azores acontecerem depois de uma semana de intensa actividade cultural e discussão pública sobre a temática LGBT, factos inéditos nos Açores e que descentralizam as marchas LGBT em Portugal para além dos grandes centros (Coimbra, Porto e Lisboa).
Como foi a semana
Logo na terça-feira decorreu a sessão de abertura que teve lugar no auditório da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. A conferência "Porquê Pride Azores?" foi moderada pelo fundador da Associação Pride Azores, Terry Costa, e a mesa contou com a presença de Susana Margarido, em representação do Governo Regional, Fernando Decq Mota, representante da CDU/Açores, e Zuraida Soares, deputada e coordenadora regional do Bloco de Esquerda. No dia seguinte, houve projecção de filmes, mais uma tertúlia e a leitura de poemas e textos no jardim Anthero de Quental. Ao terceiro dia de festival Pride Azores ouviu-se testemunhos na primeira pessoa num debate intitulado “Ser LGBT nos Açores”.
Artigo de opinião considera custos da Pride Azores "puro despesismo"e "irresponsabilidade governativa"
No dia anterior à marcha o Correio Económico, suplemento no Correio dos Açores, publicou num artigo de opinião de responsabilidade de Luís Guilherme Pacheco, que considerou o evento decorrido no arquipélago “de interesse nulo” e, mesmo sem confirmação dos valores do apoio dado ao evento, considerou-o "de puro despesismo e de irresponsabilidade governativa". Segundo o mesmo artigo, “iniciativas destas não vão mudar os preconceitos, pelo contrário, vão ainda mais evidenciá-los.
A Associação Pride Azores emitiu um comunicado de resposta a acusar o periódico de publicar “falsa informação sobre Terry Costa e a Associação LGBT Pride Azores”, considerando que a mesma “incentiva o ódio para com seres humanos nunca devia fazer parte de um jornal”. A associação açoriana solicitou um pedido de desculpas por escrito e acrescenta que deu a conhecer em tempo oportuno de forma pública que o destino das verbas atribuídas foram alocadas para promoção do movimento e seus projectos através de material publicitário (cartazes, autocolantes, panfletos, etc.), lançamento do Dia Internacional Contra a Homofobia (realizado a 17 de Maio na Horta, Faial), formação de dois jovens açorianos para realizarem apresentações sobre fobias e homossexualidade em escolas e outros locais públicos.
A associação Pride Azores não tem fins lucrativos e foi legalizada em Dezembro de 2011, com uma direcção composta integralmente por cidadãos e cidadãs açorianos. A Pride Azores informou ainda que teve sucesso com uma candidatura junto da Direcção Regional das Comunidades para ajuda na deslocação de duas pessoas vindas dos EUA para participarem em conferências de assuntos LGBT demarcando-se do artigo de opinião publicado no Correio Económico.
Cassilda Pascoal, em Ponta Delgada
Vê o álbum de fotos da 1ª Marcha do Orgulho LGBT nos Açores aqui.
(Créditos: Cristian Rodriguez e Cassilda Pascoal)