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O filme multipremiado que vai fechar o Queer Lisboa (com vídeo)

O Festival Queer Lisboa 16 conta, na sessão de encerramento, com outro grande filme multipremiado, "Cloudburst" (2011) do realizador norte-americano Thom Fitzgerald, que já em 2004 teve, neste festival, uma outra obra sua, "The Event" (2003). O filme passa dia 29 Setembro às 21h, no Cinema São Jorge, Sala Manoel de Oliveira.

 

Situado algures entre a comédia romântica e o road movie, "Cloudburst" é protagonizado por duas actrizes já oscarizadas: Olympia Dukakis (Óscar de melhor actriz secundária em "O Feitiço da Lua" de 1987) e Brenda Fricker (Óscar de melhor actriz secundária em "O Meu Pé Esquerdo" de 1989) nos papéis de Stella e Dot, duas mulheres que fogem de um lar de idosos no Maine, rumo à Nova Escócia no Canadá, com o objectivo de se casarem legalmente. No caminho, dão boleia a um jovem, Prentice, protagonizado por Ryan Doucette. Trata-se de um jovem dançarino de night club com quem acabam por criar uma forte e inesperada relação de amizade.

Stella e Dot estão juntas há 31 anos, mas nem todos no seu círculo familiar sabem ou se aperceberam da sua íntima e longa relação amorosa, como a neta de Dot que as vê apenas como grandes e inseparáveis amigas. Após um incidente com Dot (que é quase cega), a neta Molly decide colocá-la num lar de idosos contra a vontade de Stella. Assim, ambas fogem do lar e encetam uma viagem que as levará para fora do alcance da ignorante neta de Dot.

A estrada é longa e adversa, e a teimosa Stella começa a pensar se será de facto capaz de tomar conta da frágil Dotty. Depois de muitos anos juntas, conseguirão elas manter-se unidas? Para além de nos fazer viajar pelo interior do Canadá, com belas paisagens naturais, Cloudburst dá-nos a conhecer a profunda coragem e amor entre estas duas mulheres que já passaram muito, e têm de enfrentar um último desafio: permanecerem juntas até ao fim das suas vidas, custe o que custar. Para além da questão do casamento, a outra também aqui focada é a da aceitação do amor entre duas mulheres já na chamada terceira idade, pela família, numa sociedade ainda cheia de preconceitos e ignorância. Inesperadamente (ou talvez não), numa pequena comunidade costeira do Canadá estas acabam por conseguir o que procuravam.

O realizador Thom Fitzgerald é também o autor do argumento, que nos traz uma história simples de amor, amizade e muita dedicação e carinho, já próximo do fim da vida, conseguindo fazer-nos criar grande empatia e carinho por estas personagens até ao último momento. Para tal, muito contribuem as excepcionais interpretações de Olympia Dukakis, Brenda Fricker e Ryan Doucette, o trio de serviço. Mas quem mais se destaca é Dukakis com a sua personificação de Stella, uma dyke (lésbica) como esta se auto-intitula, assumidíssima de 70 anos, de gestos rudes e atitude masculina, que não consegue dizer uma frase sem pronunciar meia dúzia de palavrões e capaz de tudo por Dot, o grande amor da sua vida. Os diálogos são muito bons, e apesar do drama de fundo, o filme está 'salpicado' de momentos cómicos muito bem conseguidos e situações hilariantes, perante as quais é difícil não rir, ou pelo menos, sorrir. O personagem de Ryan Doucette contribui para alguns desses momentos, mas não se trata de um personagem secundário, pois também ele está na estrada por uma razão e tem a sua 'própria história' para contar. Entre os três acaba por se criar uma amizade especial e inesperada, e essa é também uma das mais-valias do filme.

A banda sonora é digna de um road movie contemplativo e nela encontramos, entre outras, algumas músicas da canadiana e também lésbica activista dos direitos LGBT, K. D. Lang, por quem a personagem de Dukakis tem um particular fascínio sexual e que proporciona um dos momentos cómicos do filme.

Uma belíssima comédia dramática, em tom de road movie, com muitos momentos divertidos e outros de grande beleza, mas sem as lamechices do costume.

 

Classificação: 4 estrelas em 5

 

Rui Oliveira