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O nome dele é Tutuboy, Spicy Tutuboy, e vai estar em Lisboa este Sábado

Pink! é o nome das festas sem periodicidade regular e em que o extravagante acontece em algum lugar da capital. A próxima festa é já este Sábado, 13 de Outubro, no centro LGBT (Rua de S. Lázaro, 88) e tem como tema Cockwork Orange.

A Pink! celebra a loucura, tal como adianta o organizador Colin Ginks. O convite da organização é feito em tom cómico: ”Tens um amigo doido varrido que precisa de arejar? Conheces um psicopata tipo Jeffrey Dahmer tesudo que achas que faria muito sucesso numa festa destas? O Rei Ghob foi libertado e está com uma sede do diabo? Directamente para a cabeça da guest list!”

Esta edição da Pink! conta com a performance de Spicy Tutuboy, que vem mostrar os seus dotes metafísicos. A música fica a cargo do DJ Dr Caligari, cujo local de origem é descrito pela organização como Nova Iorque, Berlim e Trás-os-Contentores (sic).

 

(vídeo comemorativo: um ano de festas Pink!)

 

Numa (dupla) entrevista o dezanove.pt dá a conhecer melhor o performer Spicy Tutuboy (e o seu ortónimo Diniz Sanchez), que abrilhantará a noite do próximo Sábado. A mesma pessoa a duas vozes. Só lido.

 

dezanove: Quando vestiste um tutu pela primeira vez?

SPICY TUTUBOY: No dia em que nasci. Eu nasci de tutu. Sou um Tutuboy, pelo que o tutu é algo intrínseco à minha identidade. Sem o tutu não seria um Tutuboy, apenas um outro “boy”!

 

DINIZ SANCHEZ: Não me recordo exactamente da primeira vez… A minha mãe tem um tutu, mas penso que nunca o vesti, porque é um tamanho pequeno (de quando ela fazia ballet). Sempre me fascinaram os vestidos armados e quando era miúdo sonhava em mascarar-me em Dama Antiga, mas nunca me deixaram. Quando vivi em Paris trabalhei na loja de artigos de dança Sansha, e penso que em algum momento morto vesti um tutu para alegrar os meus colegas e o chefe. Mal sabia eu que isso ia desencadeara revolução performativa do meu ser!

 

O que podemos esperar da performance em Lisboa neste teu regresso a Portugal?

STTB – Tenho várias surpresas e cartas na manga, sobretudo as inspiradoras que se desprendem do tema que o Colin Ginks propôs! Só posso dizer que estarei presente durante toda a soirée, e que, para além das aparições artísticas mais “teatrais”, haverá uma instalação intimista onde poderá haver uma verdadeira partilha física e metafísica entre todos os participantes da festa. Nesta época de crise quero deixar a mensagem de que “mon coeur est grand comme une place publique”, mesmo na massive destruction: há que destruir para poder continuar a criar! Penso que o Mundo está nesse momento Shivaísta de necessidades destrutivas – pelo que a Cockwork Pink Tutu Orange Party não podia ser mais actual!

 

Como te parece que o público português reage às tuas intervenções, nomeadamente quando decides fazer intervenções na rua?

STTB – O público português não difere demasiado do resto do público europeu e/ou ocidental. O meu contacto com o público português tem sido bastante fortuito, depois do espectáculo «Matrim-ódio» que apresentei no ano passado em Lisboa, a aparição junto do público foi escassa e das poucas aparições espontâneas e de rua que fiz, não houve nada que sobressaísse: há sempre os curiosos, os tímidos, os chocados, os perplexos, os entusiastas, os fãs e os futuros-fãs. O mais interessante é que, muitas vezes, não são os jovens os mais receptivos a conhecer-me. Há muitas senhoras de meia-idade que me adoram e me admiram (sobretudo gabam as minhas pernas e a minha maestria dos saltos altos – aproveito para dizer que faço coaching de saltos altos!). Ah, e faço sucesso entre os turistas: todos querem tirar fotos comigo! A minha imagem vende! Mas ainda não tive nenhuma proposta de nenhuma marca ou empresa.

 

Apresentas-te como artista português, nascido em França, radicado em Espanha. No meio disto como olhas para a cultura e para o meio LGBT português?

DS – Aqui há uma grande confusão: eu, Diniz Sanchez, sou bailarino e coreógrafo português, nascido em Portugal, radicado em França durante quase dez anos por razões de estudos e trabalho. Actualmente vivo em Espanha onde colaboro com o grande encenador de ópera espanhol Emilio Sagi e o grande performer internacional Spicy Tutuboy.

 

STTB – Obrigado meu querido. Pois, não nos confundam: eu sou francês, nascido em Toulouse, com origens portuguesas, espanholas, marroquinas e argelinas, e espiritualmente indiano, pelo que me considero um cidadão do Mundo. Apesar de ter muito orgulho da herança dançante que vem da minha veia paterna, não gosto de me sentir limitado por uma única disciplina ou meio de transmitir aquilo que quero exprimir, pelo que, tal como não me limito a uma identidade nacional, também não o faço em relação à minha identidade artística, considerando-me uma persona performantica transdisciplinar!
Actualmente vivo em Espanha, mas apesar de gostar muito de Madrid, não excluo a possibilidade de me mudar para outro país, continente ou planeta, onde as condições para continuar a criar sejam mais interessantes e estimulantes!

 

Já percebi. E quanto ao meio LGBT português?

STTB – Ainda falta muito por fazer e que, se não tivermos cuidado, podemos passar rapidamente da liberdade de expressão actual à Idade Média! Olhem só o exemplo de Viseu! Uma vergonha que o próprio presidente devia sancionar, mas já sabemos o que isso faz às estatísticas…

Enquanto as estatísticas e instituições continuarem a ser mais importantes que as pessoas que formam a sociedade democrática em que deveríamos viver, as coisas nunca se estabilizarão. A minha sincera opinião é que a solução está na educação e não na repressão: mais professores que ensinem as crianças e a juventude a manterem-se abertos de mente e espírito em vez de mais polícia a “proteger-nos” (de quem??)!

 

Quem mensagem tens para o meio LGBT português?

STTB –  Sejam autênticos, sejam sinceros, sejam generosos! Mantenham-se abertos às diferenças alheias, pois assim os outros aceitarão com mais facilidade as vossas! Eu sinto-me identificado com a diferença, com a individualidade original, e penso que aí reside a nossa maior força: usemos tudo isso para nos mantermos unidos, criar e reinventar o Mundo!

 

DS – Estou totalmente de acordo contigo, Tutuboy! Eu sou gay e sempre me identifiquei com o mundo gay, mas é verdade que me parece que frequentemente pecamos por alimentar estereótipos que muitas vezes nos são exteriores e por tentarmos seguir esquemas que não nos são próprios (como o do casal heterossexual, para dar só um exemplo) em vez de tentarmos inventar novos estilos, novas formas de fazer as coisas, de criar novas identidades! Sendo um artista gay, identifico-me com as causas e a cultura LGBT, e penso que isso de uma maneira ou outra encontra reflexo no meu trabalho. E como diz o Tutuboy a chave está na tolerância e aceitação mútua das diferenças que em vez de nos separarem nos deveriam de unir!

 

 

A segunda parte da entrevista será publicada amanhã no dezanove.pt

 

 

Crédito das fotos: Amelia Rey

 

 

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