Casais do mesmo sexo participam, pela primeira vez, no Mundial de Tango em Buenos Aires
“Para dançar o tango são precisos dois. Mas não precisam de ser, necessariamente, de sexo diferente” comentou eufórico o bailarino Juan Pablo Ramírez à agência noticiosa AFP, depois de dançar, com muitas ovações, junto com o seu companheiro de palco Daniel Arroyo. Juan Pablo e Daniel já foram um casal, mas hoje partilham apenas a sua grande paixão pela dança.Muitos aplausos e muitos “bravos” esfusiantes surgiram em catadupa da plateia que assistia à 11ª edição do Campeonato Mundial de Tango em Buenos Aires, Argentina, quando, pela primeira vez na história deste evento, casais do mesmo sexo participaram dançando abraçados e mostrando a sua destreza no palco. O facto foi considerado como uma pequena revolução que surpreendeu o público.
Juan Pablo é um bailarino profissional argentino, de 34 anos, que pratica dança há mais de seis meses com Daniel, um bailarino venezuelano, de 18 anos, a fim de participarem neste campeonato que terminou esta terça-feira.
“Existe uma cultura machista” refere Daniel, “mas há participantes com mais experiência que nos apreciam. Não estamos a transgredir nada. A sociedade não está preparada. A mudança dá-se lentamente, com pausas.”
“O tango é sentimental, amoroso, dramático. É uma arte. É liberdade” diz, por seu lado, Juan Pablo entusiasmado por poder fazer parte da primeira participação de casais homossexuais nesta competição. “Há uma abertura. Novas gerações começam a ganhar protagonismo”, explica Gustavo Mozzi, compositor e director do Mundial de Tango que referiu que o fenómeno de casais do mesmo sexo “se deu este ano, apesar de sempre ter havido permissão para isso”.
Os argentinos parecem cada vez menos surpreender-se com estas questões de género, num país pioneiro da América Latina ao legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e cuja capital é sobejamente conhecida por ser “gay friendly”.
“A dança não tem sexo. Antigamente os homens dançavam uns com os outros. Eu bailo com a minha irmã e com a minha mãe. O tango é paixão e fantasia” menciona Marcelo Siuefe, um enfermeiro de 41 anos que fez par com Manuel Mioni, um bailarino profissional de 26 anos.