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A melhor exposição de sempre sobre nu masculino

A fila chegava quase ao fundo já na rua de Bellachase e um grande rabo de Mercúrio de Pierre et Giles aparece à nossa frente. Esta foi uma das obras escolhidas para integrar a exposição "Masculin", patente no Musée D'Orsay e que está a marcar a capital francesa. Pinturas, esculturas e fotografias numa proposta sobre o corpo do homem na arte, desde 1800 até aos dias de hoje.

O corpo masculino aparece e de todas as formas. A exposição está dividida entre diferentes partes. Começa-se pelo ideal clássico por demais versado em quase todos os livros de arte do mundo. Aparece São Sebastião o mártir com o sua divinificação, o olhar e o peito furado pelas setas de Diocleciano. Entre as esculturas, as pessoas vão olhando as figuras dos homens com o seu corpo de harmonia perfeita.

Após esta entrada, o visitante segue para outra secção do corpo heróico da luta, das batalhas, da masculinização. E aparecem os alteres e as arenas e as marcas da guerra. Destaque-se uma foto de David LaChapele com Eminem artilhado de dinamite. Yves Saint Laurant na sua pose lânguida despojado de roupas. As roupas que ele tão bem fazia. Mas exposição é mais do nu do que o vestido ou tapado. E Nuda Veritas surge explorando as proporções perfeitas como aquelas que Leonardo Da Vinci colocou no Vitrúvio. Esta parte da exposição é especialmente interessante. O corpo dos negros surge pela primeira vez representado na fotografia coreográfica de Konrad Helbig. E as formas perfeitas em Rodin, não com o pensador, mas com a escultura com o título "Idade do Bronze", estátua polémica por terem acusado Rodin de ter usado um modelo ao vivo, coisa aliás que ele sempre recusou. E depois aparecem os modernos, os por demais conhecidos, Nan Goldin na sua poesia e Mappelthorpe com a robustez e fragilidade de corpos negros, belos, tentadores.

As duas secções sobram para o final: "Sobre a Dor" e "Objecto de Desejo". O corpo masculino nas suas múltiplas formas de posar, de ser representado, colorido, retratado, moldado.

A dor no homem foi sempre escondida, sempre relegada, mas aqui surge de forma especialmente bela. A ideia clássica de uma virilidade sacrificada chega através das obras de Wiley, Schiele e como foram bem seleccionadas estas obras de Schiele e Francis Bacon, despojado, decadente.

No fim o desejo, o corpo masculino como objecto de desejo. Homoerotismo e androginia em quadros de intimidade como o balneário ou a praia, a piscina, espaços cheios de homens e objectos pessoais dos homens. A praia e o engate, pois claro, em Giorgio de Chirico. Jean Cocteau destaca-se de forma especial. Os sarrabiscos simples mostram tudo e mostram aquilo que está normalmente vedado. Mostram texturas e sensações.

Antes da sairmos, extractos do filme "Pink Narcisus" de James Bigood com uma fotografia bem ao jeito dos anos setenta. As fantasias eróticas de uma época para a emancipação dos gays, com imagens em 8 milímetros. Um poema encarnado por um jovem prostituto que deambula em ambientes kitsch.

É a exposição do ano. Com um catálogo muito cuidado e com muita matéria para se saber mais sobre o masculino na arte. Até Janeiro a não perder, caso Paris esteja na rota de viagens.


André Soares