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Diogo Vieira da Silva: "Queremos o bullying e a discriminação com tolerância zero" (com vídeos)

 

Um ano depois do lançamento do Tudo Vai Melhorar, Porto e Lisboa recebem vários eventos para assinalar o aniversário da versão portuguesa do It Gets Better, projecto que visa dar ânimo e esperança aos jovens LGBT vítimas de bullying. Esta sexta haverá um encontro em Lisboa com o cronista social Flávio Furtado e uma festa no Trumps. A iniciativa está a cargo da CASA, com Diogo Vieira da Silva, vice-presidente da associação CASA, a assumir o papel de coordenador do Tudo Vai Melhorar. 

 

Dezanove: Ângelo Rodrigues participou no Porto na palestra sobre "Bullying Homofóbico" na sede da CASA, para assinalar o primeiro aniversário do projecto Tudo Vai Melhorar. Como correu?

Diogo Vieira da Silva: Correu muito bem. Foi uma palestra cheia de histórias de vida que o actor teve oportunidade de escutar e, segundo o próprio, o fez "crescer". São momentos como este que fazem com que nós, responsáveis pelo Projecto, percebamos como pequenos contributos de esperança podem realmente ser um factor de transformação para um jovem LGBT ou até para os pais/mães ou para os docentes que não sabem como podem ajudar as suas filhas e filhos ou alunos. Nesta palestra tivemos também o privilégio de receber e ouvir uma mensagem em vídeo que nos chegou de Los Angeles, EUA, do director-executivo do It Gets Better Project, Ted Farley, e do director internacional Elliot Rozenberg dando-nos os parabéns e demonstrando o seu orgulho em ter o Tudo Vai Melhorar como afiliados. Esperamos até ao final desta semana ter o vídeo legendado para o disponibilizarmos no YouTube.

Ao fim de um ano, o projecto já cumpriu os seus objectivos?

O projecto já cumpriu muitos dos objectivos, até mais do que estava planeados para o primeiro ano. A Loja Online do Tudo Vai Melhorar e disponibilizar formas de ajuda aos jovens LGBT de toda a CPLP, na página Procura Ajuda, são dois dos principais objectivos que o projecto conseguiu alcançar neste primeiro ano e que exigiu um enorme esforço. Ambas as vertentes terão mais trabalho pela frente, no sentido do reforço.

O projecto está a chegar ao público-alvo, os adolescentes LGBT?

Não é apenas aos jovens LGBT que queremos chegar e que estamos a chegar, mas a todas as pessoas que convivem com eles e que podem ser fonte de ajuda e inspiração para os mesmos. Prova disso são os Materiais de Apoio que disponibilizamos para os quatro públicos diferentes, os adolescentes e jovens LGBT, os amigos/as e companheiros/as, os país e mães e os professores. Não só queremos ajudar os jovens LGBT como também queremos melhorar a sociedade para que o bullying e a discriminação sejam realidades minoradas e com tolerância zero.

O que pretendem fazer a seguir?

O Tudo Vai Melhorar pretende continuar a dar visibilidade e importância ao combate e prevenção do bullying homofóbico nas escolas bem como contra todas as formas de discriminação que as pessoas LGBT ainda são alvo. Quer seja com a divulgação de novos contributos escritos ou em vídeo, quer com actividades nas escolas e de visibilidade pública das temáticas LGBT, estando sempre abertos a parcerias com outros projectos ou instituições, por exemplo como fizemos com a "Free Hugs – Abraços Grátis". A Família Internacional It Gets Better irá lançar dois projetos globais. Um que utilizará o poder da arte para transmitir uma mensagem positiva para o mundo e outro que será uma resposta aos últimos incidentes na Rússia. Infelizmente não posso desvendar mais... mas estamos com imensa expectativa por o "Tudo Vai Melhorar" participar, activamente, em ambos.

Qual o testemunho de uma figura pública que considera mais importante ou que teve maior impacto?

Não gostaria de salientar um contributo por o considerar mais importante... Todos os contributos e testemunhos são únicos e responsabilizadores, mas houve dois que tiveram muito impacto.O primeiro foi, sem dúvida, o de José Castelo Branco! Enquanto primeiro contributo de uma figura pública para o Tudo Vai Melhorar demonstrou que apesar de a pedagogia ter de ser feita na sociedade em geral, a população LGBT também necessita. Isto porque, apesar de a comunidade LGBT ser discriminada, ainda discrimina muito quem não "segue" os padrões de género impostos socialmente.

Uma opção polémica para o primeiro vídeo...

O José Castelo Branco, que representa uma desconstrução do papel de género e o direito à diferença, teve imensas críticas por parte de pessoas LGBT que se dizem "promotores da igualdade", mas que no fundo discriminaram e contribuíram para um discurso de ódio que o Tudo Vai Melhorar pretende minorar, demonstrando que todas e todos podemos ser quem queremos, como queremos e da forma que queremos... logo que, não ponhamos em causa a existência do "outro". Por coincidência, quando lançámos o vídeo do José Castelo Branco acabámos por seguir a estratégia do It Gets Better, o projecto mãe que, quando começaram, um dos primeiros vídeos que divulgaram foi o de Perez Hilton, um americano tão controverso como José Castelo Branco.

Qual era o outro vídeo que teve muito impacto?

Foi, no campo político, o contributo de Hugo Soares (presidente da JSD) que tem servido de "arma" política para responsabilizar o deputado, no que diz respeito à co-adopção por casais do mesmo sexo, quer por políticos fora seu partido, apesar de serem os mesmos que aprovaram uma lei que incluía uma cláusula discriminatória (lei do casamento igualitário), quer internamente na JSD por aqueles que defende os direitos LGBT.

E de um cidadão comum? Qual o vídeo que se destacou?

Os vídeos dos cidadãos comuns são os que mais valorizamos. E estamos à espera que aconteça no Tudo Vai Melhorar o que aconteceu no It Gets Better Project e em alguns dos seu afiliados, refiro-me ao contributo/testemunho que, de tão real e verdadeiro que é, se torne inspirador para os jovens LGBT e para a sociedade em geral... Em grande parte dos casos tornando-se no testemunho com mais visualizações do projeto. De qualquer modo eu sinto a obrigação de salientar o vídeo do Vasco, um jovem de 11 anos, que se veio oferecer para fazer um vídeo e que é um testemunho tocante.

Ao analisar os vídeos, repara-se que raramente as figuras públicas usam os termos gay, lésbica, trangénero ou homofobia. Encontra alguma razão para isso?

Infelizmente sim... Foi algo que foi abordado na palestra com o Ângelo Rodrigues e inclusive foi pelo desconforto que a CASA constatou nas centenas de palestras/conferências que já realizou em escolas e universidades que decidimos criar o Tudo Vai Melhorar. As palavras que definem a sigla LGBT, bem como palavras como "homofobia" ou "homossexualidade" ainda causam grande desconforto no discurso que ouvimos e usamos no dia a dia. Mas, felizmente, é algo que está ao alcance de todos conseguir alterar! Se todas e todos nós começarmos no dia a dia, sem preconceitos ou receios e de forma apropriada, a usar os termos "gay", "lésbica", "homofobia" e "transexual" estaremos a contribuir, de forma pedagógica, para a mudança... este medo que paira sem sabermos na cabeça de todos e todas nós, principalmente quando sabemos que vamos fazer discursos públicos e com visibilidade. Acima de tudo é preciso que esta mudança seja feita com positivismo, porque com força, revolta e luta desmesurada... apenas conseguimos alimentar ódios desnecessários.