Moralismos disfarçados de factos
Na última semana chegou-nos a notícia de um estudo afirmando o seguinte: “Sexo casual pode causar depressão e suicídio”. No estudo, divulgado em várias publicações, foram inquiridos 10 mil adolescentes em duas fases: uma com indivíduos entre os 7 e os 12 anos e, numa segunda fase entre os 18 e os 26 anos.
Não posso guardar o sentimento de admiração pelo sensacionalismo e o puritanismo disfarçado de tais interpretações. Em primeiro lugar estudam jovens adolescentes que, como todos nós sabemos, são super instáveis. Um adolescente caracteriza-se pela criança que pensa já ser gente. Que pelo facto de o seu corpo possuir determinadas propriedades, acham que podem já fazer uso delas como bem lhes apetece. De facto, um indivíduo com uma boa estrutura emocional e com um auto-conhecimento satisfatório pode perfeitamente ter contactos sexuais causais, sem compromisso e sem expectativas caso duas premissas sejam respeitadas: os intervenientes falam apenas a verdade sobre as suas vontades e “vale tudo menos tirar olhos” se ambos estiverem de acordo.
No entanto, este não é o caso de um adolescente vivendo ainda num conflito interno de valores e auto-conhecimento. Muitas vezes, este pode incorrer no sexo casual mas depois sente-se mal porque, se calhar, não devia ter feito, porque gosta verdadeiramente da pessoa em questão ou, apenas está carente e espera mais do que sexo frio cru e duro, ou não realiza um processamento moral saudável do seu comportamento. Isto atinge tanto homens como mulheres (maiores de 18 incluídos pois idade não é sinónimo de maturidade) e culmina em mal-estar. Portanto, caros amigos psicólogos, vamos deslindar estas questões tendo em conta toda a complexidade do ser humano.
No que toca aos adolescentes, estamos de acordo que a origem do estado depressivo de um jovem adolescente pode ter muito que a ver com o facto de não estarem a ser respeitadas as premissas que mencionei anteriormente. Mas o mesmo pode aplicar-se aos “adultos”. Quantos são os exemplos de homens que fazem um filme romântico à volta de uma bela mulher e, depois, chegam ao tal desejado filme porno e no final clica Alt+F4, Encerrar o Windows e vai à sua vida? Muitos, não são? Por outro lado, há uma alma que acreditava ser amada e apreciada por um belo homem muito gentil, que foi ver um belo concerto com ela e lhe disse o melhor que uma mulher poderia ouvir. No final da história, a verdade é que não passava de uma mera cantiga de sedução visando um único e exclusivo fim. Consequentemente, a mulher sente-se defraudada, triste, deprimida, usada como um mero objecto e, podem ter a certeza, que pode acontecer muita coisa depois: pode levar-lhe a uma depressão, pode ter influência na sua auto-estima que pode resultar em comportamentos sexuais compulsivos na tentativa de achar o Special One, ou, por outro lado, rejeitar excessivamente o contacto íntimo, ou até mesmo, na pior das hipóteses, cair nos excessos (alcoolismo ou no consumo excessivo de estupefacientes). Na minha opinião, isto justificaria o facto de que no referido estudo, quanto maior o número de parceiros sexuais causais existentes na vida de uma pessoa, maior será a probabilidade de desenvolver pensamentos depressivos. Já pelo lado dos homens, por muito que custe a crer, frequentemente procuram no flirt uma possível janela para encontrar a sua/seu princesa/príncipe. Claro está, nesta situação temos um adulto “verde” que não soube respeitar as regras do sexo casual. Tudo isto para dizer que, também com bastante frequência, o sexo casual é uma máscara, muito em voga nos homens que se acham muito durões e assentimentais, mas no fundo querem todos o mesmo, amar e ser amados, ter um compincha, um cúmplice… Mas, levando isso para o quarto escuro ou para um quarto do hotel com aquele tipo que engatou no Grindr…meus caros, não vai correr bem pois não estão a ser respeitadas certas premissas. Todavia, este ponto não é tão linear e simples de entender. Pensemos apenas no número de homossexuais reprimidos, que no seu íntimo apenas querem ter o que todos têm como adquirido, mas que não têm a força e a estrutura para saírem da rotina do sexo casual e até mesmo, do sexo virtual.
Para adicionar apenas uma última camada de complexidade, chamo a atenção para o facto de ser do senso comum que, frequentemente, as pessoas podem tender a procurar soluções onde elas não existem para resolver problemas de diversa ordem. Uns procuram nas no whisky, outros nos charros, outros na MacQueca. Por outro lado, quem está ciente das suas decisões e expectativas, não vai deprimir porque o jeitoso/jeitosa da última noite não lhe mandou mais mensagens. Portanto meus caros amigos e amigas, não se assustem com o sexo casual. Este não causa depressão se tivermos respeito, sobretudo, por nós mesmos.
César Monteiro