Escrevo-te hoje esta carta porque chegou o momento de encerrar definitivamente este assunto e de seres confrontado com a realidade: tu abusaste sexualmente de mim quando tinha 11 anos. Abusaste de uma criança que, como todas crianças, dependia dos adultos para a sua segurança. Aproximaste-te com as tuas mentiras e afectos, vieste como um amigo e deste-me atenção para criar uma relação comigo, uma relação que trouxe uma factura destruidora para a vida. Ao convidares-me para entrar na tua casa e te aproveitares sexualmente de mim, de uma criança de 11 anos, destruíste também parte dessa criança, parte de mim.
Ângelo Fernandes tem 35 anos e acaba de fundar a Quebrar o Silêncio.
“Lembro-me de sentir uma vergonha imensa e uma culpa aterrorizante, como se fosse eu o culpado por toda a situação do abuso. E isso era horrível, era asfixiante. Havia dias que eu acordava já sufocado com isto. Houve momentos muito complicados para mim, porque por mais que dissesse, do ponto de vista racional, que não tinha culpa, o lado emotivo dizia o oposto”. Este excerto é parte de uma entrevista que Ângelo Fernandes concedeu ao dezanove.pt e que poderás ler a seguir.
Na semana passada o jornalista Nico Hines escreveu um texto para o The Daily Beast onde afirmou ter conseguido, numa hora, três encontros gay para sexo na Aldeia Olímpica. O jornalista, assumidamente heterossexual, casado e com filhos, criou conta no Grindr para evidenciar como os atletas gays estão, naturalmente, disponíveis para sexo.
Tinha 17 anos quando ouvi pela primeira vez o termo “homofobia internalizada”. Nessa altura fiquei surpreendido porque não me fazia sentido um gay ser homofóbico, no entanto fiquei ainda mais surpreendido por ver isso presente em mim e sentir que não estava isento de preconceitos.
Tenho lido algumas opiniões que afirmam que o tiroteio de Orlando é um ataque aos Direitos Humanos em geral. Compreendo esse ponto de vista e o porquê, mas não é verdade. Não foi um ataque “generalizado” à humanidade, mas sim um crime de ódio.
Há ainda muito por comentar sobre o tiroteio em Orlando. Há temas que se misturam (crime de ódio vs crime à humanidade em geral) e outros que até se confundem (acesso e porte de armas nos EUA vs terrorismo). Mas há algo que me tem suscitado curiosidade: a ausência de iniciativas como a Je Suis Charlie.