O Clube Safo, organização de defesa dos direitos das mulheres lésbicas portuguesas, elegeu no passado Sábado, no Instituto Português da Juventude, em Lisboa, uma nova equipa para os seus órgãos sociais.
Foi anunciado este Sábado o terminar das actividades do movimento de intervenção cultural artístico LGBT, MICA-me. Levado a cabo por voluntários, o movimento criado em 2008 participou e organizou diversas iniciativas na Invicta, como ciclos de cinema, um flash mob no IDAHO e na 5ª Marcha do Orgulho LGBT do Porto.
Comemorou-se este Sábado o 13º aniversário do Centro LGBT, anteriormente designado por Centro Comunitário Gay e Lésbico de Lisboa (CCGLL). O rés-do-chão do prédio situado na rua de S. Lázaro foi cedido em 1997 pela Câmara Municipal à ILGA, gestora do espaço que é igualmente sede de duas outras associações: a rede ex aequo e o Clube Safo, associação que se encontra neste momento a apelar à renovação dos órgãos sociais.
Em dia de comemoração, foram vários aqueles que se dirigiram ao Centro LGBT para inicialmente participarem na assembleia geral da ILGA Portugal, e depois assistirem a uma breve actuação do coro CoLeGas que precedeu o leilão de obras de arte e um lanche de aniversário.
Ana Chhaganlal, coordenadora e responsável pela programação cultural do Centro LGBT, adiantou ao dezanove que são necessárias obras no local, porque “chove literalmente cá dentro”. Por ser um espaço público, "queremos garantir as melhores condições possíveis”, refere a mesma responsável.
Com uma programação diversificada que inclui festas temáticas, aulas de tango abertas a todos os casais, actividades como a recente Feira do Livro e conferências, o espaço “ganhou uma dinâmica diferente nos últimos tempos e começa a tornar-se pequeno para todas as actividades que desenvolvemos”, refere a coordenadora. “Uma das nossas preocupações é evitar que o arquivo [Centro de Documentação Gonçalo Diniz] fique danificado.” E acrescenta que “realizar este leilão em dia de aniversário é dar uma prenda ao Centro, porque garante o sucesso do nosso trabalho. Queremos continuar a crescer”, remata.
Arte por uma causa
O primeiro leilão de obras de arte realizado pela ILGA Portugal contou com doações de mais de uma dúzia de artistas, entre os quais Ana Pérez-Quiroga, Ana Vidigal, Julio Dolbeth e Soraya Vasconcelos. Foram angariados aproximadamente 7000 euros, que reverterão a favor de obras de beneficiação do espaço.
Em declarações ao dezanove, o presidente da associação ILGA Portugal, Paulo-Côrte Real, manifestou o seu contentamento por este Centro ter dado “saltos qualitativos” nos últimos anos através de uma programação que "está mais próxima de realizar o seu trabalho social e comunitário”.
Depois de três actos eleitorais falhados, isto é, sem quaisquer listas para os órgãos do Clube Safo, a direcção em gestão administrativa da associação de lésbicas apresentou uma proposta de dissolução do colectivo fundado em 1996. A proposta será votada na próxima assembleia geral que se realiza a 26 de Março de 2011.
As voluntárias, que mantêm a gestão administrativa da associação, lançaram um repto através de uma carta dirigida às sócias com o “principal objectivo motivar o aparecimento de listas candidatas às próximas eleições”, diz Eduarda Ferreira, em declarações ao dezanove. Após 10 anos de ligação ao Clube Safo, Eduarda Ferreira acrescenta que “a sua dissolução será uma perda para o movimento LGBT. Espero que este 'fim anunciado' faça movimentar um grupo de mulheres que tome em mãos este projecto”.
O Clube Safo constitui um marco fundamental para a visibilidade lésbica em Portugal, por ter sido a primeira associação que, de forma continuada, organizou actividades de e para mulheres que se assumiram publicamente como lésbicas e adoptaram uma postura de defesa dos direitos das lésbicas com intervenção social e política. A associação foi responsável pela edição do boletim lésbico Zona Livre, a publicação lésbica de maior duração em Portugal. Em 10 anos lançou 60 números.
Eduarda Ferreira é uma das vozes que se destacou no movimento LGBT português, dedicando-se agora com outras mulheres ao Grupo LES e à LES Online, uma publicação digital gratuita de divulgação de estudos e investigações de carácter científico, projectos de intervenção e artigos de opinião relacionados com a temática lésbica.