"Há muitos, muitos anos, eu e a minha Elizabeth perdemos uma filha, apenas com algumas semanas de idade, que se chamava Virginia. Pouco tempo depois, a minha dor foi parcialmente mitigada pela chegada de alguém que a substituiu, por assim dizer, na pessoa da sua irmã mais nova, a Suki, alegre como um carrossel e um deleite para mim desde então. Não obstante, para mim foi sempre uma tristeza nunca ter sabido como seria a Virginia, e na velhice, sentindo insinuar -se a mortalidade, decidi escrever à minha filha uma série de cartas de nobres intenções, à semelhança das que Lorde Chesterfield dirigiu ao filho. No entanto, quanto mais pensava no projecto, mais sentencioso me parecia, e mais eu duvidava das minhas competências para o escrever. "
Com a primeira edição publicada em Outubro e já esgotada em Portugal, a biografia de Britney Spears traz-nos não só a complicada histórica de uma das mais míticas cantoras da actualidade, mas também nos explica a sua relação com a comunidade LGBTI+ e o ícone que se tornou desde que era adolescente.
"Dissemos trivialidades, como as pessoas crescidas, mas de súbito percebi, com espanto e alegria, que o vazio do meu coração, o sabor insípido dos meus dias, tinham um único motivo: a ausência de Andrée. Viver sem ela não era viver. A irmã de Villeneuve sentou-se na sua cátedra e eu repeti para mim mesma: «Sem Andrée, deixo de viver.» A minha alegria transformou-se em angústia: mas então, questionei-me, o que seria de mim se ela morresse?"
A história de “As sete luas de Maali Almeida” passa-se em Colombo, no final de 1989, no meio da confusão e da carnificina da guerra civil no Sri Lanka. Maali Almeida, fotógrafo freelancer, acordou no além, conhecido como In Between, sem se lembrar de como morreu.
"Ninguém conhece o meu coração. Está escondido debaixo do meu casaco, da minha pele, das minhas costelas. O meu coração foi importante durante nove meses dentro da barriga da minha mãe, mas assim que saí da barriga, toda a gente deixou de se preocupar se ele batia vezes suficientes por hora. Ninguém se preocupa quando pára ou quando começa a bater depressa, dizendo-me que deve haver algo de errado"
“Natália é manusear um papiro antigo que ao toque abre novos veios e ramifica outros, desafiando o caminhante a uma viagem longa. Haverá cansaço, na exata razão do cansaço da vida. E haverá ficção, na exata razão da efabulação da vida.” - Filipa Martins sobre Natália Correia
AINDEX ebooks anunciou apublicação de uma reedição do primeiro estudo científico português sobre homossexualidade,A Inversão Sexual, de Adelino Pereira da Silva, publicado em 1895, ou seja, sete anos antes de Egas Moniz publicar o seu canónicoA Vida Sexual, no qual dedica apenas um capítulo ao tema da homossexualidade.
Nina Lacour é a autora galardoada com o Prémio Michael L. Printz e de sucesso nacional, com seis romances do género young adult, Yerba Buena é a sua estreia na ficção adulta. Segundo Los Angeles Times “Yerba Buena” está quase à altura de “Tipping the Velvet” e de “Fingersmith” da autora Sarah Waters.
“Ano de 1884. Elisa está a preparar-se para ser professora na Escola Normal da Corunha, e aí conhece Marcela. O que começa como uma grande amizade transforma-se numa paixão sem limites que levará as duas jovens a desafiar todas as normas sociais. Não é a história de um “casamento sem homem”, como a imprensa da época o descreveu, mas uma história de amor e liberdade para além das fronteiras e das convenções.” - Xulia Vicente, Elisa e Marcela (La Cupula, 2023)
"Memória de uma Epifania e Outras Histórias" é um relato intimista e familiar sobre a autodescoberta de Maria João Vaz que, após cinco décadas, finalmente abraça sua verdadeira identidade como mulher trans. Da rejeição inicial ao apoio familiar, à progressiva aceitação da sua identidade enquanto mulher trans e passando por sucessivos coming outs até chegar à esfera pública, o livro é um comovente tratado de empatia e coragem.
Poeta, escritor e ensaísta português, Eduardo Pitta, recentemente falecido, o autor de Persona, 2000, Cidade Proibida, 2007e Devastação (2021), era também um viajante culto, apaixonado por História, Arquitectura, as artes no geral e a gastronomia em particular. Exemplo do seu refinado gosto e olhar atento à beleza das pequenas coisas é este livro: Cadernos Italianos, um diário de memórias das suas viagens à histórica capital italiana, Roma, e à sempre romântica cidade dos canais, Veneza.
"O último sonho" de Pedro Almodóvar chega agora ao mercado livreiro português pelas mãos da Alfaguara ao mesmo tempo que o seu mais recente filme, "Estranha forma de vida", está a ser exibido nas salas de cinema do nosso país.
Mauvais Genre, a premiada obra de Chloé Cruchaudet, é a mais recente banda desenhada a ser traduzida e editada para o mercado livreiro português. Inspirando-se na obra La Garçonne et l'Assassin (2011), dos historiadores Fabrice Virgili e Danièle Voldman, Chloé Cruchaudet recupera a história controversa de Paul e Louise Gappe, um casal parisiense envolto num crime de guerra e de homicídio no pós I Guerra Mundial.
A ideia de nós, da autoria de Diogo Simões, lançado por Edições Velha Lenda, em Junho de 2023, é um livro que apela aos sentidos dos «millenials», com observações referentes à música POP, ao mundo digital e ao percurso que se faz quando se descobre que a nossa orientação sexual não corresponde ao padrão da comunidade onde estamos inseridos.
«Eu escrevo para aqueles que não me podem ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, os que não sabem ler ou não têm como.»- Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços (Antígona, 2017)
O Barão de Lavos, romance da série “Patologia Social” produzida por Abel Botelho (1855-1917), é considerada a primeira obra literária portuguesa a abordar o tema da homossexualidade. Numa época em que Portugal era ainda um país monárquico, extremamente conservador, dominado pelo clericlarismo, o tema da homossexualidade masculina e da pedofilia trazidos com O Barão de Lavos (1891) mostrariam criar o escândalo dentro dos meios mais privilegiados da época não tardando a fazer parte dos livros proibidos e apreendidos pela Igreja.
"Durante muito tempo, quando alguém aludia àquele que é o meu trabalho há quinze anos, fazia-o usando o eufemismo da profissão «mais antiga», mas, para mim, o que a humanidade tem de mais antigo é a condenação das mulheres, das lésbicas, das travestis, das trans e das prostitutas que bem condenadas temos sido - e continuamos a ser - nesta sociedade machista e patriarcal." Georgina Orellano, Puta Feminista (ed. Orfeu Negro, 2023)
Os livros são uma ferramenta política poderosa. Despertando novas formas de pensar, agir e sentir, o acto de leitura contém em si a possibilidade de emancipação da mente e desenvolvimento do espírito crítico e livre, a possibilidade de transformação social e criação de novas formas de interagir com o mundo. Fruto do poder que o objecto livresco mostra encerrar surgem formas de controlo e limitação ao seu acesso. Recordemos que até Gutenberg e o surgimento da imprensa moderna o acesso aos livros era de uso privilegiado do clero e da nobreza. Na verdade não seria necessário recuar até tanto. Se recuarmos até meados do séc. XX, em Portugal, percebemos como os altos níveis de iliteracia espelhavam a desigualdade social de um país que passara meio século por um governo repressivo.