Surgida no início do ano, a associação Quebrar o Silêncio veio preencher uma lacuna no apoio a homens vítimas de violência e abuso sexual em Portugal. Entre o apoio que prestam de forma online e presencial surge agora um encontro dirigido ao grande público dias 16 e 17 de Novembro no ISCTE, em Lisboa. “O homem promotor da igualdade” pretende desafiar a masculinidade tradicional e envolver o homem na luta pelos direitos das mulheres. “O que nós propomos é uma reflexão sobre como podemos motivar mais a participação do homem para a igualdade de género” comenta Ângelo Fernandes, da direcção executiva da Quebrar o Silêncio. Um tema obrigatório nos dias que correm e para melhor compreender na entrevista que se segue.
Escrevo-te hoje esta carta porque chegou o momento de encerrar definitivamente este assunto e de seres confrontado com a realidade: tu abusaste sexualmente de mim quando tinha 11 anos. Abusaste de uma criança que, como todas crianças, dependia dos adultos para a sua segurança. Aproximaste-te com as tuas mentiras e afectos, vieste como um amigo e deste-me atenção para criar uma relação comigo, uma relação que trouxe uma factura destruidora para a vida. Ao convidares-me para entrar na tua casa e te aproveitares sexualmente de mim, de uma criança de 11 anos, destruíste também parte dessa criança, parte de mim.
Ângelo Fernandes tem 35 anos e acaba de fundar a Quebrar o Silêncio.
“Lembro-me de sentir uma vergonha imensa e uma culpa aterrorizante, como se fosse eu o culpado por toda a situação do abuso. E isso era horrível, era asfixiante. Havia dias que eu acordava já sufocado com isto. Houve momentos muito complicados para mim, porque por mais que dissesse, do ponto de vista racional, que não tinha culpa, o lado emotivo dizia o oposto”. Este excerto é parte de uma entrevista que Ângelo Fernandes concedeu ao dezanove.pt e que poderás ler a seguir.