Ana Rodrigues Oliveira trata cada uma das mulheres biografadas de forma cuidada do ponto de vista histórico e através de pequenas secções torna a leitura interessante e dinâmica. Através das páginas, conhecemos senhoras feudais, mecenas, filantropas, escritoras e combatentes por direitos, todas unidas por uma luta comum: a de afirmar o seu pensamento próprio e contribuir para um mundo melhor, mesmo quando coagidas por obrigações, educação e preconceitos.

Da crise dinástica que o país vive em finais do século XIV destaco D. Leonor Teles, uma figura controversa na história de Portugal. Conhecida pela sua beleza e astúcia, Leonor foi rainha consorte de D. Fernando I e exerceu uma influência considerável sobre o marido e a corte. No entanto, as suas acções políticas e alianças levaram Portugal a uma crise profunda, quase arruinando a independência do país. O seu apoio ao Tratado de Salvaterra e a subsequente união com Castela foram vistos como traições pelos seus contemporâneos, o que culminou na Revolução de 1383-1385. Ana Rodrigues Oliveira apresenta Leonor Teles com um olhar crítico mas também empático, explorando as complexidades de sua personalidade e os desafios que enfrentou.

A segunda a merecer a minha atenção é Carlota Joaquina, esposa de D. João VI, que é retratada no livro como uma fervorosa absolutista, cujas intrigas e posicionamentos políticos marcaram profundamente a história portuguesa e brasileira. Conhecida pelo seu temperamento forte e pelas suas conspirações contra o marido e o liberalismo nascente, Carlota Joaquina foi uma figura polarizadora. A sua resistência às ideias liberais e o seu desejo de manter um poder absoluto tornaram-na uma figura central nos conflitos políticos do seu tempo. A autora explora a sua vida com detalhes ricos, destacando tanto a sua determinação quanto as consequências das suas acções.

Durante o Estado Novo, Maria Archer destacou-se como uma escritora e jornalista que ousou desafiar o regime opressor. Através dos seus escritos, denunciou as injustiças sociais e políticas, defendendo os direitos das mulheres e a liberdade de expressão. Num período de censura rigorosa e repressão, Maria Archer tornou-se uma voz dissidente, utilizando a literatura como forma de resistência. Ana Rodrigues Oliveira enaltece a coragem e a persistência de Maria Archer, mostrando como a sua obra e activismo continuam a inspirar gerações.

Por fim, Maria de Lourdes Pintasilgo que foi uma das figuras mais emblemáticas da política portuguesa no século XX. Como a primeira e única mulher a ocupar o cargo de Primeira-Ministra em Portugal, entre 1979 e 1980, Pintasilgo foi uma pioneira na luta pela igualdade de género e pelos direitos sociais. A sua carreira foi marcada por um compromisso inabalável com a justiça social, a educação e a saúde. A autora destaca o legado de Pintasilgo como uma líder visionária, cuja influência ultrapassa as fronteiras de Portugal, inspirando uma visão de um mundo mais justo e inclusivo.

Portuga l - Uma História no Feminino é uma leitura imprescindível para quem deseja compreender a força e a resiliência das mulheres ao longo da história. Ana Rodrigues Oliveira oferece um contributo profundo e essencial para o papel esquecido das mulheres na História do país. Este livro não só celebra as conquistas dessas figuras notáveis, mas também serve como um lembrete poderoso da importância contínua da luta pela igualdade e justiça social. É uma obra que inspira e educa, encorajando-nos a reconhecer e valorizar o papel vital das mulheres em todas as esferas da sociedade.

ISBN: 9789896619398

Autora: Ana Rodrigues Oliveira

Editora: Casa das Letras 

Páginas: 648 

Recensão de  André Soares