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A Interseção entre Deficiência e Identidade LGBTIQA+: O Desafio da  Inclusão 

leticia david

Trabalhar diariamente com pessoas com deficiência dá-me uma perspectiva  privilegiada sobre as suas dificuldades e desafios, e um dos temas que raramente vejo  discutido é a intersecção entre deficiência e identidade LGBTIQA+. Enquanto psicóloga,  compreendo que cada identidade traz consigo um conjunto único de experiências, e  quando essas identidades se sobrepõem, as dificuldades podem ser amplificadas. 

A sociedade tende a ver as pessoas com deficiência de forma estereotipada, ora como  seres assexuados, ora como eternamente dependentes. Quando uma pessoa com  deficiência se identifica como LGBTIQA+, essa inviabilização torna-se ainda mais  acentuada. Muitas vezes, estas pessoas encontram-se marginalizadas dentro da  própria comunidade LGBTIQA+, que nem sempre está preparada para lidar com a  diversidade dentro da diversidade. 

Desafios Específicos da Intersecção 

  1. Falta de Representatividade: As pessoas com deficiência raramente são visíveis  em campanhas, eventos e espaços LGBTIQA+. Quando aparecem, muitas vezes  são retratadas de forma simplista, sem explorar as complexidades das suas  identidades. 
  2. Acessibilidade Física e Digital: Muitos bares, eventos e centros de acolhimento  LGBTIQA+ não são acessíveis a pessoas com deficiência física. No mundo digital,  plataformas de apoio e grupos online nem sempre estão adaptados a pessoas  com deficiência visual, auditiva ou cognitiva. 
  3. Desafios na Sexualidade e Relacionamentos: Muitas pessoas com deficiência  enfrentam barreiras na sua vida sexual e afectiva, desde a falta de educação  sexual inclusiva até à infantilização dos seus desejos. Quando a identidade  LGBTIQA+ se soma a este contexto, estas dificuldades podem ser ainda mais  acentuadas. 
  4. Saúde Mental e Apoio Psicológico: O isolamento e a falta de suporte são uma  realidade comum para pessoas que pertencem a ambos os grupos. A escassez  de profissionais de saúde mental preparados para lidar com esta interseccionalidade é preocupante. 

O Que Pode Ser Feito? 

  • Inclusão nas Conversas: É urgente falar mais sobre este tema, incluindo vozes  de pessoas que vivem esta realidade.
  • Adaptação de Espaços e Eventos: Espaços seguros para pessoas LGBTIQA+  devem ser acessíveis também para quem tem uma deficiência. 
  • Formar Profissionais: Psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais  devem receber formação para compreender melhor estas vivências. 
  • Representatividade: Filmes, séries e campanhas devem incluir histórias que  reflictam a diversidade dentro da comunidade LGBTIQA+. 

Ao reflectirmos filosoficamente sobre este tema, somos levados a questionar as noções  de normalidade e desvio que permeiam a sociedade. A intersecção entre deficiência e  identidade LGBTIQA+ desafia as categorias rígidas e convida-nos a abraçar a  diversidade humana em todas as suas formas. 

A verdadeira inclusão requer uma desconstrução dos preconceitos internalizados e  uma reavaliação dos valores que sustentam as nossas interacções sociais. Implica  reconhecer que cada indivíduo, independentemente das suas capacidades físicas ou  identidades de género e orientação sexual, possui uma dignidade intrínseca que deve  ser respeitada e valorizada. 

A inclusão não é apenas um ideal bonito, é uma necessidade real. Como sociedade,  temos a responsabilidade de garantir que todas as pessoas, independentemente das  suas capacidades físicas ou cognitivas, tenham espaço para viver plenamente a sua  identidade.

 

Letícia David, Psicóloga

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