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sara correia consumismo

Como consumidores, somos influenciados a nunca estar satisfeitos.  

Somos constantemente bombardeados nas redes sociais com novos produtos, novas  “trends” ou novas “aesthetics”. É uma grande época para o Marketing. É uma grande  época para o consumismo, para o capitalismo. Mas como será que isto influencia as  nossas relações?  

A primeira vez que ouvi falar deste conceito da “era do consumismo romântico” foi através  da psicoterapeuta Esther Perel. Ela fala de como nós descartamos algo bom em procura  da perfeição. A comercialização das pessoas é algo que está a fazer a nossa vida de  solteiros durar. A noção que podemos sempre arranjar algo melhor deixa-nos insatisfeitos  na relação onde estamos, e saltamos para outra, e outra, e outra. Temos várias opções a  nossa disposição, por isso como podemos não ter algo melhor do que já temos? Ou se  estamos a sair com alguém, mas já não estamos a sentir que está a satisfazer-nos,  podemos dar “ghost” à pessoa. Porque não? Podemos sempre arranjar outra pessoa na  dating app onde arranjamos esta, certo? E será melhor, não é?  

Com isto, não digo para se manterem em relações tóxicas. Ou para se submeterem a  comportamentos desrespeitosos para convosco. Saiam e não olhem para trás. 

A Esther, ela própria diz que não podemos culpar apenas o indivíduo. Mas também a  sociedade em que vivemos e como as “regras” mudaram. Fala também do conflito das  dating apps, em que o objectivo é encontrarmos alguém, no entanto a aplicação ganha dinheiro se nos mantermos lá.  

Tratamos pessoas como objectos. Sentimo-nos atraídos, “compramos” a relação e depois  cansamo-nos e trocamos pela versão acima ou assim pensamos.  

... A aplicação ganha dinheiro se nos mantermos lá. Tratamos pessoas como objectos. Sentimo-nos atraídos, “compramos” a relação e depois  cansamo-nos e trocamos pela versão acima ou assim pensamos.

Muito mudou desde a altura dos nossos pais e avós. A verdade é que temos mais noção  que a comunicação e a confiança deve ser a base de uma relação. Temos “standards” e “boundaries”, o que é algo óptimo e ajuda-nos a valorizar-nos e a evitar situações más para  nós. Mas estamos a assistir a uma grande insatisfação nas relações. No tempo dos  nossas avós e pais, era aquilo. Encontravam uma pessoa, namoravam e casavam. Era a  norma. Actualmente temos mais opções a todos os níveis. Não somos obrigados a  assentar com a primeira pessoa que nos aparece, nem a casar, nem a ter filhos. Bom este último é controverso, mas é um tópico para outro dia. 

Cheguei a perguntar a minha mãe porque se casou com o meu pai, ao que ela me  respondeu “Ai olha que pergunta é que me fizeste agora!”. Talvez fosse mais simples dantes. Talvez era uma escolha mais simples e fácil. 

Nos dias que correm, temos mais opções de carreira, de vida, de pessoas. Vivemos numa  era de consumo. Vivemos num ritmo acelerado e talvez isso leva ao desgaste de uma relação. 

Que atire a primeira pedra quem não fala por mensagens desde que acorda até ir dormir com o seu parceiro. 

Então será o contacto a toda a hora e constante que enfraquece uma relação? E para quem mora junto? Ainda debilita mais a relação? 

Acredito piamente que apesar de termos expectativas em alguém e numa relação, e de  termos os nossos limites, muitas vezes desistimos de algo bom.  

Porque fica difícil. Porque é demasiado. Porque nos confrontamos com os nossos próprios traumas que ainda não lidamos. Porque temos coisas para resolver com nós próprios.  

Em conversa com a minha terapeuta, partilhei que apesar de achar que temos de  aprender a viver sozinhos e gostarmos de nós próprios, é numa relação que  verdadeiramente, nos vemos confrontados com comportamentos nossos que tem de  mudar e percebemos que ainda precisamos de evoluir. 

Portanto será que desistimos também de algo bom porque não estamos prontos para o fazer? Não estamos prontos para enfrentar que procuramos algo perfeito e simples quando nós não o somos? Quando somos um ser complexo e longe de ser perfeito? 

E sim, o facto de termos dating apps e termos tantas opções de pessoas a nossa disponibilidade, facilita muito não termos de lidar com esse problema. Vamos saltar e saltar entre relação até ficar difícil ou deparar-nos com os nossos problemas internos.  Sempre a procura de algo perfeito que não nos faça questionar quem somos. Porque lá  está, é perfeito, as duas pessoas na relação são perfeitas. Só que o ser humano e as suas  relações estão longe de serem perfeitas. Talvez quando perceberemos isto, talvez aí esta  insatisfação nas relações e consumismo acabe.

 

Sara Correia