A mentalidade consumista nas relações amorosas
Como consumidores, somos influenciados a nunca estar satisfeitos.
Somos constantemente bombardeados nas redes sociais com novos produtos, novas “trends” ou novas “aesthetics”. É uma grande época para o Marketing. É uma grande época para o consumismo, para o capitalismo. Mas como será que isto influencia as nossas relações?
A primeira vez que ouvi falar deste conceito da “era do consumismo romântico” foi através da psicoterapeuta Esther Perel. Ela fala de como nós descartamos algo bom em procura da perfeição. A comercialização das pessoas é algo que está a fazer a nossa vida de solteiros durar. A noção que podemos sempre arranjar algo melhor deixa-nos insatisfeitos na relação onde estamos, e saltamos para outra, e outra, e outra. Temos várias opções a nossa disposição, por isso como podemos não ter algo melhor do que já temos? Ou se estamos a sair com alguém, mas já não estamos a sentir que está a satisfazer-nos, podemos dar “ghost” à pessoa. Porque não? Podemos sempre arranjar outra pessoa na dating app onde arranjamos esta, certo? E será melhor, não é?
Com isto, não digo para se manterem em relações tóxicas. Ou para se submeterem a comportamentos desrespeitosos para convosco. Saiam e não olhem para trás.
A Esther, ela própria diz que não podemos culpar apenas o indivíduo. Mas também a sociedade em que vivemos e como as “regras” mudaram. Fala também do conflito das dating apps, em que o objectivo é encontrarmos alguém, no entanto a aplicação ganha dinheiro se nos mantermos lá.
Tratamos pessoas como objectos. Sentimo-nos atraídos, “compramos” a relação e depois cansamo-nos e trocamos pela versão acima ou assim pensamos.
... A aplicação ganha dinheiro se nos mantermos lá. Tratamos pessoas como objectos. Sentimo-nos atraídos, “compramos” a relação e depois cansamo-nos e trocamos pela versão acima ou assim pensamos.
Muito mudou desde a altura dos nossos pais e avós. A verdade é que temos mais noção que a comunicação e a confiança deve ser a base de uma relação. Temos “standards” e “boundaries”, o que é algo óptimo e ajuda-nos a valorizar-nos e a evitar situações más para nós. Mas estamos a assistir a uma grande insatisfação nas relações. No tempo dos nossas avós e pais, era aquilo. Encontravam uma pessoa, namoravam e casavam. Era a norma. Actualmente temos mais opções a todos os níveis. Não somos obrigados a assentar com a primeira pessoa que nos aparece, nem a casar, nem a ter filhos. Bom este último é controverso, mas é um tópico para outro dia.
Cheguei a perguntar a minha mãe porque se casou com o meu pai, ao que ela me respondeu “Ai olha que pergunta é que me fizeste agora!”. Talvez fosse mais simples dantes. Talvez era uma escolha mais simples e fácil.
Nos dias que correm, temos mais opções de carreira, de vida, de pessoas. Vivemos numa era de consumo. Vivemos num ritmo acelerado e talvez isso leva ao desgaste de uma relação.
Que atire a primeira pedra quem não fala por mensagens desde que acorda até ir dormir com o seu parceiro.
Então será o contacto a toda a hora e constante que enfraquece uma relação? E para quem mora junto? Ainda debilita mais a relação?
Acredito piamente que apesar de termos expectativas em alguém e numa relação, e de termos os nossos limites, muitas vezes desistimos de algo bom.
Porque fica difícil. Porque é demasiado. Porque nos confrontamos com os nossos próprios traumas que ainda não lidamos. Porque temos coisas para resolver com nós próprios.
Em conversa com a minha terapeuta, partilhei que apesar de achar que temos de aprender a viver sozinhos e gostarmos de nós próprios, é numa relação que verdadeiramente, nos vemos confrontados com comportamentos nossos que tem de mudar e percebemos que ainda precisamos de evoluir.
Portanto será que desistimos também de algo bom porque não estamos prontos para o fazer? Não estamos prontos para enfrentar que procuramos algo perfeito e simples quando nós não o somos? Quando somos um ser complexo e longe de ser perfeito?
E sim, o facto de termos dating apps e termos tantas opções de pessoas a nossa disponibilidade, facilita muito não termos de lidar com esse problema. Vamos saltar e saltar entre relação até ficar difícil ou deparar-nos com os nossos problemas internos. Sempre a procura de algo perfeito que não nos faça questionar quem somos. Porque lá está, é perfeito, as duas pessoas na relação são perfeitas. Só que o ser humano e as suas relações estão longe de serem perfeitas. Talvez quando perceberemos isto, talvez aí esta insatisfação nas relações e consumismo acabe.
Sara Correia