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A “vacina” do Big Brother contra a homofobia

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Em tempos de coronavírus, muitas das minhas actividades foram adiadas ou canceladas. Com muito mais tempo livre do que o habitual, acabei por ficar mais em casa e tenho passado mais tempo a ver programas de TV, como, por exemplo, o Big Brother, que já não me interessava desde a primeira edição.

Ainda bem que assim foi, porque os episódios mais recentes trouxeram à minha atenção – e à atenção dos portugueses em geral – um problema mais grave do que qualquer vírus: a homofobia. Infelizmente, a homofobia está enraizada na nossa sociedade de forma tão intrínseca, que a vacina que lhe poderá por um fim ainda parece longe.

Piadas homofóbicas jamais são inofensivas e haverá sempre alguém que irá sentir-se magoado ou humilhado

Ao contrário do que muitos pensam, a homofobia continua a ser um dos crimes de ódio mais recorrentes no mundo inteiro. Entenda-se que homofobia não é apenas agressão física, mas também agressão verbal e moral, agressão psicológica, ou o simples facto de nos sentirmos superiores enquanto heterossexuais. Tomemos como exemplo o caso do Hélder do Big Brother, que tem dado que falar a Portugal inteiro. Segundo o próprio, foi uma brincadeira inofensiva, que não pretendia magoar ninguém. Desenganem-se! Piadas homofóbicas jamais são inofensivas e haverá sempre alguém que irá sentir-se magoado ou humilhado. Poderei ser eu, por ser homossexual, ou os meus amigos e familiares, ou qualquer pessoa que se importe minimamente com os outros. Até acredito que o Hélder possa não ter dito aquilo por maldade. Porém, a questão que aqui se coloca não é se houve maldade no que ele disse. A questão que se deve sempre colocar é se existe algo de bom no que ele disse. Que impacto positivo é que um comentário daqueles pode gerar? Eu atrevo-me a dizer nenhum. E, se não existe nenhuma consequência positiva, para quê fazer-se um comentário que marginaliza e magoa um grupo inteiro de pessoas e aqueles que se preocupam com eles?


Fiquei bastante desiludido com a atitude do Edmar, o homossexual assumido da casa, que afirmou ter ficado chocado não com o discurso do Hélder, mas com a atitude do Big Brother

Confesso que fiquei bastante desiludido com a atitude do Edmar, o homossexual assumido da casa, que afirmou ter ficado chocado não com o discurso do Hélder, mas com a atitude do Big Brother. Eu, ao contrário do Edmar, levanto-me e aplaudo de pé a intervenção do Big Brother. É de louvar! Na minha modesta opinião, o Edmar perdeu uma oportunidade única de criar visibilidade para esta forma subtil de discurso homofóbico e de explicar o efeito do mesmo noutras pessoas. Apesar dos muitos esforços que tem havido no combate à homofobia, há algo que ainda está longe de ser erradicado: a presença deste humor homofóbico tão frequente e tão naturalizado. Piadas de teor homofóbico não são mais do que discursos subtis que visam manter a heteronormatividade e que estão ligados à opressão. Não existe nada de inofensivo nestas piadas, seja qual for a intenção de quem as diz. Em pleno século XXI, eu digo BASTA! Basta de preconceito! Basta de discriminação! Basta de ódio! Basta de piadinhas! Basta de nos sentirmos superiores a todos os que sejam diferentes de nós! Tivemos mais do que tempo suficiente para nos adaptarmos à ideia de que somos todos diferentes, mas todos especiais!

Espero que a “vacina” contra a homofobia e todos os outros tipos de preconceito possa chegar tão rapidamente quanto a vacina contra o coronavírus! Ao Big Brother, o meu enorme obrigado por não ter ignorado esta situação e nos ter colocado no bom caminho!


Miguel Martins

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