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Activista do Caleidoscópio LGBT acusada de violência doméstica. Visada considera todas as acusações “falsas”

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Acusações de violência física, psicológica, sexual e económica entre activistas lésbicas do movimentos LGBT português estão a gerar uma onda de solidariedade e indignação. Paula Antunes, responsável pelo Caleidoscópio LGBT, recusa todas as acusações de que está a ser alvo por parte de Mafalda Gomes e Isabel Martinez.

 

Um comunicado enviado esta quinta-feira para várias associações LGBT portuguesas denuncia alegados casos de violência doméstica ocorridos ao longo de vários anos e tendo como autora Paula Antunes, responsável do colectivo Caleidoscópio LGBT e co-responsável pela organização das Marchas do Orgulho LGBT de Braga, Coimbra e Porto. A denúncia conjunta partiu de Mafalda Gomes e Isabel Martinez, ambas ex-namoradas da activista, que decidiram apresentar uma queixa crime nas autoridades policiais. Nesta fase a queixa encontra-se no Ministério Público.

No comunicado, Mafalda Gomes e Isabel Martinez fazem questão de dizer: “Fomos vítimas, mas não somos mais. Hoje somos sobreviventes. Para impedir que outras pessoas passem pelo mesmo, vamos falar com quem for preciso, vamos fazer aquilo que seja necessário, vamos lutar para que a justiça seja feita. […] isto está longe de ter sido uma história de amor.”

 

Mafalda e Isabel consideram que foram “enganadas”: “Com o passar do tempo, vimos que a sua moral era moldável, que os dogmas que apresentava na sua vida pública ficavam do lado de fora da porta. Sentimos na pele o quão descontrolada aquela pessoa aparentemente contida pode ser. Ouvimos injúrias, calúnias, ameaças. Sentimos empurrões, punhos e pontapés nos nossos corpos. Fomos traídas, enganadas, usadas, manipuladas. Sentimos aquela pessoa apoderar-se dos nossos corpos e das nossas mentes. Tivemos a nossa privacidade e individualidade violadas.”

 

O caso exposto por Mafalda Gomes:

Corria o ano de 2007, quando Mafalda Gomes, na altura com 22 anos, iniciou um relacionamento de dois anos com Paula Antunes. No comunicado que tornou público explica como teve a sua integridade física ameaçada: “Lembro-me que nem sequer tive tempo para pensar antes de sentir as mãos dela em redor do meu pescoço. Essas mãos apertavam-me enquanto os olhos dela me olhavam com uma frieza que eu nunca antes tinha sentido. Segundos passaram e nesse momento eu estava certa de que iria morrer. Subitamente ela larga-me e retira-se, deixando-me em estado de choque na sala. Quando voltei a mim, tentei falar com ela, mas assim que bati na porta do quarto dela, ela saiu disparada e lançou-se a mim. Lembro-me de socos, Lembro-me de pontapés. Eu chorava, berrava, pedia para ela parar e ela continuava. A última coisa que eu me lembro dessa noite foi o som de uma porta a rachar com as minhas costas, e ali fiquei eu, no chão, em lágrimas e em dor.”

 

O caso exposto por Isabel Martinez:

Em 2010, Isabel Martinez, então com 18 anos, inicia um relacionamento de quatro anos com Paula Antunes. No seu relato aponta o abuso de álcool e de tabaco como causas para uma relação disfuncional onde a submissão às ordens tinha de ser cumprida sob pena das discussões piorarem: “Quando me ia deitar sem ela me autorizar, ficava cheia de medo. Quando parecia que as coisas já tinham acalmado, ela saía da sala, enchia um recipiente com água e despejava-mo em cima. Isto acontecia tão frequentemente que quando eu me deitava todas as noites entrava em pânico sempre que a ouvia sair da sala. Nunca sabia se ela ia fazer isso de novo ou mandar limpar/fazer alguma coisa. Frequentemente ouvia-a a ir vomitar o álcool que bebia e muitas vezes tive de o limpar. Como eu adormecia de exaustão na sala enquanto ela ainda estava a jantar, ela arranjou um borrifador e borrifava-me com água para eu não adormecer.” Mais à frente a jovem portuense prossegue: “Num dos dias em que me recusei a sair da cama quando ela quis, ela, já bêbada, gritou comigo, ameaçou e insultou-me como sempre. Como não obedeci, agarrou-me com uma mão pelos cabelos e arrastou-me do quarto até à sala. Deixou-me no chão a chorar e foi deitar-se. O pior de tudo eram as horas em pânico depois das discussões. Ela ia dormir e eu ficava a noite toda a pensar que ia ficar sozinha e que ela não voltaria a falar comigo. Mas no dia seguinte, ela agia como se nada tivesse acontecido. Isso fazia-me duvidar de que o terror todo tivesse sido real.

 

Petição Online pede afastamento do movimento LGBT

As autoras da queixa crime lançaram uma petição online, já subscrita por 200 pessoas , em que exigem acções concretas como o afastamento de Paula Antunes das iniciativas LGBT a que está ligada: Caleidoscópio LGBT e Marchas do Orgulho LGBT do Porto, Braga e Coimbra.

As ex-namoradas de Paula Antunes justificam a exposição pública dos casos “não por despeito ou vingança, mas porque não queremos que outras pessoas passem por aquilo que passamos nas mãos desta pessoa” e exigem a retirada de Paula Antunes das marchas do Orgulho LGBT porque estes devem ser ambientes seguros: "Um agressor não se pode esconder por trás de Marchas e causas que lutam contra a violência doméstica/de género/LGBT e pelos direitos humanos.”

 

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Paula Antunes refuta todas as acusações e pede que não se condene ninguém sem provas

Em declarações concedidas ao dezanove.pt, Paula Antunes afirma categoricamente: “Estas acusações são falsas”. A activista considera que está “em curso um comunicado e uma tentativa de difamação pública” contra a sua pessoa.

Paula Antunes explica que a situação agora conhecida possa ter sido causada pelo fim do relacionamentos que teve iniciativa de terminar  “mesmo contra a vontade delas.”

Também Paula Antunes faz saber que recorreu às autoridades: “Fui aconselhada quer legalmente, quer pelo Gabinete de Apoio à Vítima, quer pela PSP, quer pela APAV, locais onde estou a ser acompanhada, a não responder a quaisquer ataques e provocações da(s) pessoa(s) envolvidas, uma vez que me foi dito que faz parte do objectivo deste tipo de pessoas usar a indignação de ser injustamente acusada para me fazer ter qualquer reacção que possa ser usada contra mim. Por essa razão não me defenderei publicamente neste momento, não responderei às horríveis acusações. Esperarei pelo desenrolar da justiça. Já accionei os mecanismos legais, as queixas-crime nas instituições oficiais.”

A activista do Caleidoscópio LGBT e das Marchas do Orgulho LGBT de Braga, Coimbra e Porto lança um apelo “não cometam uma injustiça, não condenem alguém sem provas, isto é o que vos querem levar a fazer. O tempo e o Ministério Público se encarregarão de mostrar a verdade dos factos, e condenar estas pessoas pelo que estão a fazer.”

Em relação à sua continuidade dentro do activismo LGBT português, Paula Antunes mostra-se irredutível: “Farei o que sempre fiz, individualmente e com as dezenas de pessoas com quem trabalho no Caleidoscópio LGBT e nas restantes organizações de que faço parte: lutar com todas as minhas forças contra as injustiças, as vinganças e as agressões.

Paula Antunes considera-se agora uma vítima, tal como as que tem defendido ao longo dos últimos anos: “Infelizmente sou agora também uma vítima” e remata “Espero sinceramente que compreendam o que está em causa e não deixem que a vingança e o desejo de destruição de uma vida vos contamine a assertividade.”

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