Amor no Arco-Íris: Celebrar o São Valentim em igualdade
O Dia de São Valentim é uma data que nos convida a reflectir sobre a beleza e complexidade do amor, e como este sentimento universal é vivido de formas tão diversas. Na comunidade LGBTQIA+, esta celebração pode carregar significados ainda mais profundos, sendo muitas vezes um acto de resistência e afirmação em tempos de preconceito e discriminação. Como psicóloga, observo diariamente como o amor, quando vivido de forma plena e sem barreiras, pode transformar vidas, trazendo um sentimento de pertença e segurança que é essencial para o bem-estar emocional.
Nos últimos anos, temos assistido a uma maior visibilidade das relações LGBTQIA+ nos media e nas redes sociais, o que é um sinal positivo de progresso. Filmes, séries e campanhas publicitárias têm dado destaque a estas relações, permitindo que o amor queer seja representado de forma natural e positiva. Ainda assim, não podemos ignorar que há espaços, tanto a nível nacional como global, onde este progresso encontra resistência. Notícias recentes de retrocessos em direitos LGBTQIA+ em alguns países demonstram que o caminho para a igualdade está longe de estar completo. Isto reforça a importância de celebrar o amor em todas as suas formas, mostrando que a diversidade é uma riqueza e não uma ameaça.
Filmes, séries e campanhas publicitárias têm dado destaque a estas relações, permitindo que o amor queer seja representado de forma natural e positiva. Ainda assim, não podemos ignorar que há espaços, tanto a nível nacional como global, onde este progresso encontra resistência.
Ainda hoje, muitos casais LGBTQIA+ enfrentam desafios emocionais e sociais que os casais heteronormativos raramente encontram. A discriminação, por vezes subtil, manifesta-se em olhares desconfortáveis, comentários preconceituosos ou mesmo a exclusão em espaços familiares. Isto tem um impacto profundo na saúde mental, contribuindo para sentimentos de ansiedade e medo. Como psicóloga, sei o quanto a validação é essencial para combater estas adversidades. Quando os indivíduos se sentem aceites e amados, conseguem desenvolver uma auto-estima mais saudável e uma maior resiliência para enfrentar os desafios.
Por outro lado, também é importante falar sobre as conquistas. Casamentos e uniões civis entre pessoas do mesmo sexo são hoje uma realidade em Portugal, e isso é um motivo de celebração. Mas, para muitos, o casamento é apenas um ponto de partida. Há toda uma luta pela aceitação plena, onde o amor não precise ser justificado ou explicado, mas apenas vivido. Este São Valentim pode ser um momento de reflexão para todos nós, independentemente da nossa orientação sexual. É uma oportunidade para celebrarmos o amor, seja ele qual for, e para nos questionarmos: o que podemos fazer, como indivíduos e como sociedade, para garantir que todos se sintam livres para amar?
Uma das respostas passa pela representação. Quando vemos histórias de amor LGBTQIA+ retratadas em filmes ou na literatura, sentimo-nos parte de um todo maior, onde as nossas experiências e sentimentos também são reconhecidos.
Representações positivas ajudam a normalizar estas relações e têm um impacto directo na forma como nos vemos e somos vistos pelos outros. Como profissional de saúde mental, encorajo a criação de espaços seguros para que estas histórias sejam contadas e celebradas, promovendo assim uma maior empatia e compreensão.
Por fim, acredito que celebrar o amor é também um acto político. Cada casal LGBTQIA+ que sai à rua de mãos dadas, que celebra as suas datas especiais ou que simplesmente se permite existir em plenitude está a desafiar um sistema que muitas vezes ainda os quer invisíveis. Que este São Valentim seja um momento de coragem e de alegria, onde cada um de nós possa reafirmar que o amor é para todos e que, no arco-íris da vida, todas as cores têm o seu lugar.
Letícia David, Psicóloga