António Botto, o primeiro poeta assumidamente homossexual do país
Chora a amante esquecida,
Chora quem vai barra fora;
– Quem não chorou nesta vida
Se o próprio mar também chora?
António Botto
António Tomás Botto nascido a 17 de Agosto de 1897 no concelho de Abrantes, foi mais do que um simples poeta: foi um ícone da segunda geração modernista portuguesa, precursor do verso livre em Portugal desafiando as convenções tradicionais da poesia à época e o primeiro poeta assumidamente homossexual do país. Contemporâneo e amigo de personalidades proeminentes como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Raul Leal, Botto deixou a sua marca no panorama histórico e literário português.
Publicou Trovas em 1917, Cantigas da Saudade em 1918 e Cantares em 1919 e estabeleceu-se como uma voz única na literatura. No entanto foi com a obra Canções em 1921 que Botto se viu no centro da polémica.
A natureza homoerótica de seus poemas levou à apreensão da segunda edição de Canções em 1922, devido ao escândalo causado na sociedade religiosa e conservadora da época. Mas foi em 1923 que o escândalo atingiu o seu ápice, quando um grupo de estudantes publicou um Manifesto dirigido aos “poderes constituídos” e a “todos os homens honrados de Portugal” contra Botto. Fernando Pessoa viria depois a público, manifestar-se contra a opinião destes estudantes e destacando a importância da liberdade de expressão na arte.
Apesar da controvérsia, Botto continuou a escrever e publicar. Deixou-nos obras como Pequenas Esculturas em 1925, Olimpíadas em 1927 e Dandismo em 1928, entre outras, e colaborou com várias revistas e jornais, como “Athena”, “A Águia”, a “Contemporânea”, a “Presença”.
António Botto acabou por partir para o Brasil, onde viria a falecer após ser atropelado em 1959.
Anabela Risso