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As Inomináveis: O porquê de não falar do que não merece ser falado

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A história da discriminação e do preconceito é algo complexa e nem sempre se apoia numa base de invisibilidade. Muitas vezes a própria arte e a literatura acabavam por criar discriminação, advertidamente ou inadvertidamente, através por exemplo da perpetuação de estereótipos e caricaturas e de representações negativas e moralizantes.

Os livros quer ficcionais quer não ficcionais que perpetuam essa mesma discriminação não são de hoje. Podemos remontar por exemplo aos anos antes de 1982, quando a homossexualidade ainda era considerada doença, e ver algumas publicações da época. Ou podemos até percorrer as prateleiras de livrarias e bibliotecas actuais, com livros publicados na actualidade, e ver que essas obras continuam a existir e não são poucas. 

Não é difícil publicar um livro nos dias que correm. É claro que continuam a existir muitos excelentes livros de excelentes autores que são justamente publicados – e que felizmente, são uma maioria. Mas a verdade é que basta ter algum dinheiro ou um nome conhecido, alguns bons contactos e uma opinião capaz de causar escândalo para, em menos de um piscar de olhos, ter uma obra publicada numa editora que até aí parecia confiável. A facilidade de publicar um livro nos dias actuais amplia ainda mais o alcance das representações pejorativas.

E a verdade é que isso não seria sequer de salientar, se a opinião contida nessas obras não tentasse de alguma forma imiscuir-se e prejudicar liberdades de outrem. E aqui saliento o tentar. Porque um livro, por muito escandaloso ou grosseiro que seja, não consegue só por si prejudicar uma comunidade inteira. Ele apenas tem o poder que lhe é dado por quem o lê. 

Os debates entre os leitores sobre essas questões são fundamentais para aumentar a conscientização e promover uma mudança positiva na indústria literária. É responsabilidade de todos nós como consumidores de cultura e arte apoiar obras que desafiam estereótipos e promovem a diversidade e a inclusão. Da mesma maneira, é responsabilidade de todos nós não aumentar ainda mais a conversa, as vendas e o debate em torno de obras que visam prejudicar liberdades, ostracizar e denegrir a comunidade e perpetuar estereótipos e preconceitos. Chamemos a essas obras, por agora, as Inomináveis. 

O marketing negativo é, ainda assim, marketing. E a bem da verdade o marketing negativo no que toca a obras literárias e artísticas pode ser mesmo mais eficiente que o positivo. Se determinado livro está a causar escândalo, seja por que motivo for, as pessoas vão ter mais curiosidade em ler. E vão comprar, o que vai fazer disparar as vendas, colocá-lo no top e dar-lhe ainda mais destaque. 

A ascensão das Inomináveis na indústria literária é um fenómeno preocupante, uma vez que alimenta ideias prejudiciais, fortalece estereótipos e preconceitos e ostraciza grupos inteiros. São obras que encontram terreno fértil num mercado editorial que muitas vezes prioriza a polémica e o lucro em detrimento da qualidade e da responsabilidade social.

A ascensão das Inomináveis na indústria literária é um fenómeno preocupante, uma vez que alimenta ideias prejudiciais, fortalece estereótipos e preconceitos e ostraciza grupos inteiros. São obras que encontram terreno fértil num mercado editorial que muitas vezes prioriza a polémica e o lucro em detrimento da qualidade e da responsabilidade social.

À primeira vista podemos achar que nada podemos fazer contra essas obras. Mas a verdade é que podemos. Podemos não lhes dar importância. Porque o poder das Inomináveis reside na resposta do público. É crucial que os leitores assumam um papel ativo na promoção de uma cultura literária mais inclusiva e diversificada. Isso significa não apenas apoiar e promover obras que desafiam os estereótipos e celebram a diversidade, mas também recusar-se a dar visibilidade e credibilidade às Inomináveis.

Em última análise, a luta contra as Inomináveis não é apenas uma questão de preferência pessoal ou de sensibilidade individual; é uma questão de justiça social e responsabilidade colectiva. Todos nós temos o poder de moldar o cenário cultural e literário, e é imperativo que usemos esse poder para promover a igualdade, a diversidade e o respeito mútuo.


Anabela Risso

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