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As novas denominações LGBT+

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Durante a Idade Média denominava-se as relações entre pessoas do mesmo sexo através da palavra sodomia, e os respectivos indivíduos eram designados como sodomitas. Na Idade Moderna passou a haver a designação de fanchonice, e os respectivos indivíduos eram designados fanchonos. A partir do século XIX passou a haver a designação de homossexualidade, e de  homossexuais. Sodomia, sodomitas”, fanchonice e fanchonos”, são designações que caíram em desuso. As designações de homossexualidade e de homossexual ainda continuam a ser usadas.

Ora, actualmente existem outras designações para a homossexualidade, ou com ela relacionadas, como por exemplo : homo-erotismo, homo-afectividade, homo-sociabilidade, altersexualidade, homossexualismo, homocultura, estética camgay, queer, comunidade LGBT +, etc.  É impossível falar aqui de todas, falemos por isso das que são mais utilizadas. Uma designação que passou a ser muito utilizada a partir do século XXI,  por influência estrangeira, é a de queer (que etimologicamente significa esquisito), mas queer pode querer dizer muita coisa: excêntrico, efeminado, não praticante de relações sexuais não normativas (incluindo as sexualidades heterossexuais cisgénero), indivíduo com identidade de género diferente, indivíduo com expressão de género diferente, etc.), mas há muita critica à designação de queer, dentro da própria “comunidade homossexual”, que a considera vaga, imprecisa, e pejorativa. 

O filósofo Paulo Beatriz Preciado sublinha que o termo queer (…) “era usado para nomear a pessoa ou coisa que, por ser inútil, deformada, enganosa ou excêntrica, colocava em questão o bom funcionamento do jogo social. O "queer" era o trapaceiro, o ladrão, o bêbado, a ovelha negra [...] mas também todos aqueles que, por sua particularidade ou estranheza, não podiam ser imediatamente reconhecidos como homem ou mulher” (1), por isso ele utiliza essa designação.

Conforme sublinha outro autor, Eve Kosofsky Sedgwick "queer" tem a virtude de oferecer, no contexto da investigação académica sobre identidade de género e identidade sexual, um termo relativamente novo que conota etimologicamente um cruzamento de fronteiras, mas que não se refere a nada em particular, deixando assim a questão de suas denotações abertas à contestação e revisão” (2).

Para outras pessoas outra designação também adoptada para a homossexualidade, é a de não binário  (um indivíduo que não se considera homem nem mulher, no que diz respeito à sua identidade de género, e que tem também a ver, por vezes, com a homossexualidade). No entanto,  chamar queer a um indivíduo, ou chamar-lhe não binário, é considerado demasiado académico pela opinião pública em geral e é pouco empregue pela generalidade das pessoas em Portugal.  

A partir de um texto Eve Kosofsky Sedgwick cuja publicação original data de 1985 (3), surgiu também o conceito de homossociabilidade, principalmente na área dos estudos literários. Com esse conceito, pretende-se denominar a extensa rede de práticas sociais, entre os indivíduos que se identificam como pertencentes ao mesmo género. As relações homossociais pressupõem uma cumplicidade entre homens ou entre mulheres que é interpretada respectivamente em termos de manutenção ou resistência à dominação heteropatriarcal. Assim, os conceitos de homossociabilidade e de desejo homossocial, pretendem pôr a tónica nos laços de solidariedade e de estrita camaradagem dos homens entre si, ou das mulheres entre si, que pode envolver implicitamente sentimentos homoeróticos.

Outra designação nova é a de LGBT + , e que é actualmente muito  utilizada para denominar  Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgéneros. Sendo utilizada desde meados dos 1990, essa designação é considerada uma adaptação de LGB, utilizada desde então para substituir a designação de gay , ao fazer referência à comunidade LGBT no final dos anos 1980. Dado que a designação de gay não abrangia toda a comunidade LGBT, pois referia-se apenas aos homossexuais do sexo masculino, alguns activistas da causa LGBT procuraram uma designação em que fosse possível  incluir  as mais diversas orientações sexuais e identidades de género existentes. Portanto, a criação da designação de LGBT teve como principal objectivo promover a diversidade com base nas questões de identidade sexual e de género. Actualmente, esta designação é empregue também em Portugal para se referir a qualquer pessoa que não se enquadra como heterossexual ou cisgénero. 

Entretanto, surgiram algumas variantes ao longo dos últimos anos, tais como: LGBTQ – adicionando a letra “Q”, para incluir as pessoas que se identificam como queer; LGBTQI – adicionando a letra “I”, para incluir as pessoas que se identificam como intersexuais; LGBTQIA – adicionando a letra “A” para incluir as pessoas assexuais; LGBTQIAPN – adicionando as letras “P” e “N”, para incluir pansexuaispolissexuais e pessoas não-binárias; LGBTQIAP+ – adicionando o sinal de “+”, procura-se incluir quaisquer outras pessoas que não se sintam incluídas em nenhuma destas designações. No entanto, essas são apenas algumas variantes, pois é possível encontrar referências que utilizam designações como LGBTILGBTIQLGBTPNLGBTALGBTQA, entre outras. Assim, de modo a atender a todos, a designação a utilizar deveria ser o termo LGBTPQIA+. 

No entanto, esta designação, e até mesmo a de “LGBT +”,  têm dado origem a polémica, inclusivamente entre os homossexuais, pois consideram-nas ou demasiado extensa, ou demasiado complexas, ou ridículas, pois pretendem incluir “todas” as orientações e identidades de género numa só sigla, e dar uma designação através de letras, através de designações “abstratas”, isto é, de letras, e não através de um nome. Em Portugal, como noutros países,  emprega-se pouco a designação assim tão extensa,  pois a designação geralmente mais empregue é a de LGBT +, colocando-se o sinal de “+” à frente, de modo a incluir as outras identidades sexuais.

No entanto, há países como o Brasil, que pretendem ainda mais designações. Segundo o resumo de um recente livro que as explica e defende, “se houve um momento, longínquo, em que a mera divisão entre heterossexuais e homossexuais parecia ser diferente para distinguir as pessoas no que tange à sexualidade, hoje, nem mesmo o mais extenso dos acrónimos é o bastante para abarcar todas as identidades sexuais não normativas que emergem (4).  

Assim, este livro reúne 29 designações não normativas (vinte e nove !), a que chama “(des)identidades”, que segundo afirmam os autores, têm em comum o facto de estarem para além das identidades já consolidadas, tanto as heteronormativas como as normativas que se tornaram tradicionais, de modo a reconhecer as especificidades de cada uma das identidades sexuais não normativas.

Pretende-se assim substituir a sigla LGBT+, assim como as palavras  homossexualidade,  e queer, para alargarem o campo de vivências e de possibilidades ligadas à homossexualidade, que não envolvem necessariamente actos sexuais, de modo a incluírem também os afectos, o vínculo emocional, o romantismo, o amor,  a personalidade, a identidade de género, a expressão de género, a identidade de grupo, uma cultura, uma comunidade, e uma estética. Porém, as novas designações por vezes também são alvo de polémica, em Portugal e noutros países, mesmo entre os homossexuais, e que alguns recusam, como por exemplo a palavra homossexualismo, que tem a ver com a chamada ideologia homossexual, com a qual alguns homossexuais não se identificam,  ou que tem a ver com os indivíduos que militam em movimentos que defendem e reivindicam os direitos dos homossexuais, indivíduos esses que podem não ser homossexuais. Portanto, nem  todos os homossexuais são homossexualistas, e nem todos os homossexualistas são homossexuais.

Pretende-se assim substituir a sigla LGBT+, assim como as palavras  homossexualidade,  e queer, para alargarem o campo de vivências e de possibilidades ligadas à homossexualidade, que não envolvem necessariamente actos sexuais, de modo a incluírem também os afectos, o vínculo emocional, o romantismo, o amor,  a personalidade, a identidade de género, a expressão de género, a identidade de grupo, uma cultura, uma comunidade, e uma estética.

Essas novas designações surgem geralmente como recusa da categorização fechada e permanente da orientação sexual e dos sentimentos ou envolvimentos de um indivíduo com outro do mesmo sexo. Não cabe aqui analisar as críticas que são feitas a cada uma dessas novas designações, pois tornariam este texto demasiado extenso,  que se pretende apenas informativo.

Essas muitas e novas designações  surgem também como  alternativa para solucionarem o facto de historicamente existirem preconceitos ligados à palavra homossexualidade. Há mesmo homossexuais que, embora o sejam, recusam a palavra “homossexual”. Ora, esses preconceitos devem acabar, e a palavra homossexualidade deve ser reabilitada, como, por exemplo, o foi a palavra “judeu”, e portanto deve  ser utilizada com naturalidade, não obstante aqueles que pretendem ser denominados através das referidas letras. 

 

1 -   In : Paul Beatriz Preciado, "Queer: historia de una palabra", Parole de Queer 1 (blog), Popova, 2021. Ver também : "Queer Music and Theory", Transposição, nº 3, 2013, p 3.

2 -  In : Eve Kosofsky Sedgwick, Epistemologia do Armário, Berkeley, Ed. University of California Press, 2008;, p. 35.

3 -  Eve Kosofsky Sedgeick,  Between Men: English Literature and Male Homosocial Desire. Nova York, Ed. Columbia University Press, sd.

4 -  Moisés Lino e Silva; Guillermo Vega Sanabria, Glossário de (des) identidades sexuais, São Paulo, Ed. EDUBFA, 2023, texto de apresentação do livro.

 

Foto: https://depositphotos.com/pt/

Victor Correia

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