Autarca de Torremolinos considera que o travestismo não é adequado para crianças e decide proibi-lo. Travestis rumam à cidade para protestar
Torremolinos é conhecida por ser uma estância balnear muito procurada pelas suas praias e é também um destino gay friendly de referência. Mas durante os últimos dias as razões para aparecer nos jornais são bem diferentes. Pedro Fernández Montes, o Presidente da Câmara da cidade espanhola, decidiu proibir actuações de transformismo durante um espectáculo de solidariedade.
O espectáculo de transformismo ia ter lugar esta sexta-feira, dia 25, e estava a ser organizado pela associação espanhola de defesa dos direitos LGBT Colega-Torremolinos.
As autoridades locais justificam a proibição com a localização do evento, previsto para ocorrer numa praça pública com um parque infantil a três metros de distância onde se costumam estar crianças. A associação LGBT fala em “clara discriminação”.
O evento “Orgulho Solidário”, onde o espectáculo de transformismo ia ser integrado, consistia em entregar alimentos nos refeitórios sociais das cidades de Málaga e Torremolinos, “num ambiente festivo e lúdico” fez saber a associação LGBT.
Embora numa primeira fase a iniciativa tenha sido autorizada, a proibição do espectáculo de transformismo foi decidida porque a Câmara Municipal “não vê como adequado este tipo de espectáculos” e não deseja transformar a Plaza de la Nogalera numa nova Chueca. A praça da cidade andaluza é descrita pela câmara como “uma zona residencial, "sem nenhuma conotação sexual”. "Torremolinos sempre se esforçou para respeitar a presença massiva de homossexuais de uma maneira harmoniosa e natural". A cidade não quer entrar em discriminações. Nem positivas nem negativas".
Um porta voz da associação COLEGAS retorquiu que "simplesmente se tratam de artistas transformistas e drag queens, e não de espectáculos de sexo ao vivo".
Entretanto, as reacções da comunidade LGB e especialmente T espanhola não se fizeram esperar. Grupos de pessoas estão a organizar excursões em autocarro a que deram o nome “Caravana de Travestis” e estão a usar as redes sociais para alavancar o assunto. Procurar pelas hastag #caravanadetravestis (Instagram), #todassomostravestis e #caravanadrag (Twitter) ou no Facebook por “Caravana de Travestis a Torremolinos” trazem resultados de várias mensagens de apoio. Todos se solidarizam e querem vestir a pele da iconográfica Priscila no Deserto, filme que aborda a longa viagem pelo deserto para realizar um espectáculo de travestismo. Um dos apoios, afirmam os activistas LGBT locais, é da própria Conchita Wurst que gravou uma mensagem vídeo.
Esta é uma proibição que gerou tudo menos silêncio num dia que é considerado o Internacional do Transformismo. E o apelo da comunidade LGBT é só um: “não te deixes censurar, traveste-te e vem daí!”
Esta não é a primeira vez na história recente de Espanha que uma manifestação adopta a forma original de uma excursão rumo a uma cidade, para protestar contra a homofobia. Em 2011, em Badajoz, as declarações de teor considerado homofóbico do então presidente da Câmara levaram a uma "invasão" da cidade e que se tem vindo a repetir anualmente de forma festiva de modo a não esquecer a discriminação a que os LGBT são sujeitos.