Biografia de Patrícia Ribeiro entra na 2ª edição também no Brasil
Nascida em Lisboa, Patrícia Ribeiro é a primeira cantora transexual portuguesa e relata toda sua experiência e vivência numa biografia. O livro intitulado “Ontem Homem, Hoje Mulher”, traz mais de cem páginas da história de luta, desafios, preconceito e muita determinação de uma mulher que habitava no corpo de um homem.
Após o Carnaval, a cantora rumará ao Brasil para apresentar a obra, fazer participações musicais e gravar um videoclipe. Patrícia declarou que faz questão de participar nesse momento: “Além de estar com saudades do Brasil, esse país que sou apaixonada e que me recebe sempre muito carinho, não poderia deixar de participar desse momento mágico, que é a chegada de mais exemplares da minha história. Espero que leiam. Que gostem e, acima de tudo, que incentive e ajude muitas outras pessoas que se identificam com o que vivi.” comenta Patrícia Ribeiro.
O dezanove.pt partilha com os leitores a sinopse do livro:
“João Décio Ferreira, médico, um dos maiores especialistas nas cirurgias de mudança de sexo interessou-se, imediatamente, pelo caso do rapaz com figura de menina. Patrícia ainda era Nuno mas, quem a visse, via uma mulher. Loura, de olhar expressivo e um sorriso de garota, aprisionado num corpo errado. Só que, até conseguir libertar-se do corpo que a aprisionava, a cantora passou por um longo calvário. Primeiro, ainda criança, debateu-se com as questões de identidade. Brincava com bonecas e era essa a alcunha que tinha na escola. Chorava, no silêncio do quarto.
A dada altura, cada vez com maior consciência de que algo se passava, Patrícia juntava moedas que depois trocava por roupa de rapariga e maquilhagem. Era na feira, e nas lojas dos 300, que se ataviava de acessórios femininos. Vestia-se e maquilhava-se à socapa. Escondia tudo entre as outras roupas, no armário. Usar as pinturas da mãe, quando as suas acabavam, acabou por denunciá-la. Seguiram-se as discussões em casa. A luta por uma libertação que tardava em acontecer e ser compreendida.
Saiu de casa no final da adolescência. Acabou por se prostituir, para sobreviver. Tinha que pagar contas. Mas a música sempre foi o seu objectivo, desde que, ainda menino, se inscreveu e passou nos castings para o Grupo de Jovens Cantores de Lisboa Dirigidos por Ana Faria. Chegou a lançar um CD, aos 19 anos, como Ricky, um cantor popular que não vingou. A tragédia da prostituição continuava a abater-se sobre os seus dias, tornando-os negros. Ao mesmo tempo, começou a tentar tornar-se cada vez mais feminina. Passou por várias cirurgias plásticas e correu riscos graves ao aplicar, de forma clandestina, silicone industrial. Regressou, há semanas, do Brasil, onde o cirurgião plástico de vedetas de novela, Luíz Paulo Barbosa, lhe reconstruiu o rosto, livrando-lhe a expressão dos danos do silicone industrial.
Antes da mudança de sexo foi acompanhada, ao longo de dois anos, em psicólogos e médicos, no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, e em simultâneo, no Hospital da Universidade de Coimbra. Viveu a dureza de um longo processo, que para ela começara na infância, desde que se conhece como gente. A avó, Antonina, foi, e será sempre, o seu maior pilar. A voz do outro lado da linha quando a sua menina sofre. E muito.
Os seus amores sempre foram complicados e, por vezes, com contornos violentos. Só a música, finalmente com reconhecimento do público - já conta com um disco de ouro no currículo - a alegra. Sempre. E a voz reconfortante da avó, a mulher mais importante da sua vida.”
Paulo Monteiro