Os Estados Unidos sofreram ontem o pior assassínio em massa desde 11 de Setembro de 2001. E desta vez foi mais do que um acto de terror generalizado e indiscriminado. Foi também um crime de ódio específico, premeditado contra uma comunidade determinada.
Foi pois um ataque ao modo de vida ocidental, às liberdades que damos por garantidas em todo o mundo civilizado, um ataque aos Estados Unidos. Mas foi também um ataque destinado a destruir uma comunidade inteira. Uma intenção de extermínio da comunidade LGBT. O assassino simplesmente quis matar tantos gays e lésbicas quanto possível. Matou 50 feriu outros tantos, destruiu famílias, traumatizou milhares e milhares para sempre. Isto para nós, em toda a parte do mundo (os que tivemos a sorte de não estar em Orlando naquela hora e naquela noite) deve trazer-nos duas lições. A primeira é que podia ter sido qualquer um de nós, em Lisboa, no Porto, em Paris ou em Londres, ou em qualquer lugar. Não estamos livres de que um assassino cheio de ódio um dia irrompa no restaurante ou no bar ou na discoteca onde estivermos para destruir as nossas vidas. Mas a segunda lição é mais importante do que a primeira: enquanto houver ódio nunca estaremos seguros. Por isso importa não termos medo. Defrontar e confrontar o ódio em todas as situações. Sermos os vigilantes da nossa própria segurança. Porque o ódio alimenta-se também do nosso medo. Não podemos ter medo. Seja de um comentário agressivo numa caixa de comentários num jornal online. Seja na rua quando ouvimos uma ofensa. Seja em que situação for. Convém não esquecer que as palavras são o primeiro sinal. E que se não paramos e afrontamos essas palavras viradas contra nós um dia elas transformam-se já não em palavras mas em metralhadoras e em granadas. Tenhamos força e saibamos defender a nossa liberdade e dignidade. Tenhamos sempre orgulho em ser aquilo que somos e em defender todos aqueles que querem viver como são.
Carlos Reis, jurista.
publicado às 16:22
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3 comentários
Anónimo 14.06.2016 00:41
Este ataque do daesh não é diferente de todos os ataques anteriores. Teve apenas um objectivo: afectar a humanidade, espalhando o terror. Instalando o medo. Não apenas os homossexuais (que assumem isto como um ataque único e dirigido), mas também os cristãos, homens, mulheres, judeus, apreciadores de heavy metal, trabalhadores ou estudantes belgas, etc, etc.
Este ataque do daesh não pode ser nomeado de outra forma: é um atentado terrorista, ponto final. Nos atentados terroristas, não há categorias nem rótulos. As vítimas são todas vítimas.
O que nós devemos custar, é a indiferença das pessoas perante os ataques diários que o daesh realiza. A nossa indiferença, portanto.
Este custa-nos mais porque podíamos ser nós, que somos homossexuais... e esquecemos que todos os dias, em tantos lugares, podíamos sempre ser nós... mas nesse sentido, casos no Iraque, na Síria ou no Mar Mediterrâneo, não nos seriam tão indiferentes. Por culpa nossa e não apenas por culpa ou medo das palavras.
Carlos, explica-me o que é "o modo de vida ocidental": - Será um grupo de adolescentes que espanca, tortura e assina uma transsexual em plena cidade do Porto? - Será um taxista "tuga" a agredir uma mulher porque a "apanhou" aos beijos com outra mulher? - Será um bando de trogloditas que na festa do avante agridem um cidadão espanhol porque alegadamente estaria a fazer "sexo oral" a outro rapaz? - Serão os multiplos grupos de neonazis que se espalham e crescem pela Europa "ocidental", sobejamente conhecidos por "caçarem" e espancarem homo e transsexuais em plena luz do dia em grandes capitais Europeias? - Serão paises como a Itália, a Alemanha, a Grécia, entre outros que ainda acham que o casamento é apenas entre um homem e uma mulher? - Serão a grande maioria de países Europeus que ainda não reconhecem o direito de homossexuais adoptarem? - Serão todos os líderes religiosos da igreja catolica que ainda hoje vêem a público defender que ser homossexual é aceitavel desde que "não se pratique"?
É que o único "modo de vida ocidental" que conheço é este. E não gosto muito!