Catarina e a mãe não podem ser “deixadas para trás”
“Deixados para trás” é o nome dado a uma série de reportagens, levadas a cabo pela TVI, que retratam a forma como a pandemia mudou a vida de muitas pessoas, a vários níveis. No passado dia 24 de Março uma das histórias partilhadas foi a de Fernanda e a da sua filha Catarina, que vivem nos escombros de um prédio inacabado há dois anos.
Fernanda tinha várias rendas em atraso, perdeu o emprego e foi despejada. Actualmente encontra-se com a filha em Lagos, mas vivem sem um tecto condigno e um chão condigno. Hoje, há pedras que caem do próprio prédio e arriscam a sua própria vida. Antes, ambas sofreram de violência doméstica durante vários anos. Apesar de tudo, Fernanda conseguiu colocar termo à situação abusiva em que viviam e reencontrar um novo companheiro. Devido à situação de fragilidade económica e, somando-se, agora, as complicações decorrentes da pandemia provocada pelo SARS-CoV-2, esta família não consegue sair da situação de extrema pobreza e de perigo.
Quando foi ao Porto acompanhar a filha a uma consulta de transição, Fernanda lembra-se de dizer “Deus queira que nunca chegue a uma vida destas” quando viu pessoas a dormir na rua e na situação em que hoje se encontra, mas a verdade é que chegou. Trabalho não encontra e actualmente vive de um subsídio de apoio social que durará durante mais alguns meses, depois não sabe como será. E como já se percebeu não vivemos apenas uma crise pandémica, mas uma crise social.
Catarina, a sua filha, tem o 9º ano e quer ser psicóloga. Refere que se não fosse o apoio da mãe, não conseguiria fazer “nem metade da sua transição [de género]”. Sente-se grata e afirma que a ajudará no que conseguir. Catarina recorda o momentos de angústia que viveu antes de contar à mãe a sua identidade. “Tinha medo de que ela me abandonasse”. Fernanda apoiou Catarina desde início, demonstrando total compreensão e sobretudo muito amor pela filha. “Não te vou abandonar, filha, vou-te apoiar até ao fim!”
Actualmente, a jovem espera por uma cirurgia, sem data marcada, para terminar a transição. Cabe voltar a dizer o óbvio: também a pandemia atrasou todo o processo. Uma situação que também é urgente resolver.
Mãe e filha aguardam, assim, por um lugar numa habitação social. Até lá vão (sobre)vivendo do pouco dinheiro que têm e da ajuda de algumas pessoas, nomeadamente do irmão mais velho de Catarina.
Vê esta reportagem a partir de 1h10m30s no Jornal das 8 da TVI.
Sara Lemos
Se vives ou conheces alguém que esteja numa situação de fragilidade económica, deixamos alguns contactos que poderão ser úteis:
AMPLOS - Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género
APAV - Associação Portuguese de Apoio à Vítima - Rede Nacional de Gabinetes
API - Acção Pela Identidade
API – Associação Plano i (Matosinhos)
Casa Qui - Associação de solidariedade social pela inclusão e bem-estar da população LGBT
ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero
Linha LGBT - Linha Telefónica de Apoio e Informação LGBT
Opus Diversidades – Defesa e promoção dos Direitos Humanos da comunidade LGBTI+
Panteras Rosa - Frente de Combate à LesBiGayTransfobia
rede ex aequo - Associação de jovens LGBTI e apoiantes: geral@rea.pt
ReNascer -Serviço de Saúde Mental
SOS Voz Amiga - um serviço de ajuda pontual em situações agudas de sofrimento causadas pela Solidão, Ansiedade, Depressão e Risco de Suicídio: 21 354 45 45, 91 280 26 69 ou 96 352 46 60. (entre as 16 e as 24h00)