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Cinco hinos evocativos da Luta LGBT+, empoderamento feminino e anti-racismo

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Conhece aqui cinco hinos evocativos da Luta LGBT+, empoderamento feminino e anti-racismo:

 

“I’M COMING OUT” - Diana Ross (1980)

Eu quero que o mundo saiba, preciso deixar transparecer.”

Nile Rodgers, co-autor e co-produtor da música, declarou ter-se inspirado para escrever a canção depois de ter visitado uma discoteca californiana onde testemunhou várias Drag Queens vestidas como Diana Ross, que naquele tempo já era um ícone para a comunidade LGBTQIA+. “Há uma nova versão de mim, e eu só tinha de vivê-la.”

 “I’m Coming Out” é um verdadeiro hino LGBT nascido nos anos 80 que fala sobre o momento de sair do armário e viver a sua identidade em pleno. Diana Ross era na década um dos nomes mais sonantes das pistas de dança e o medo da crítica ameaçou o lançamento da música. Quando se apercebeu que a música falava sobre assumir a identidade LGBT a diva teve medo da reprovação da social, mas foi convencida por Nile (e ainda bem) a colocar o hit cá fora. “Chegou a hora de sair desta concha, eu preciso gritar que me estou a assumir” 

33 anos após o seu lançamento a faixa continua a ser um hino clássico da comunidade queer e que continua a marcar gerações. “Estou espalhando amor não há motivos para temer. Eu só me sinto bem toda vez que eu ouço: Estou a assumir-me”.

 

“CAN’T HOLD US DOWN” - Christina Aguilera & Lil' Kim (2002)

“Respira fundo, grita bem alto, nunca puderam, nunca poderão, não podem rebaixar-nos”

Se Xtina foi uma das lendas da pop dos 2000, e Kim foi das grandes pioneiras do Rap feminino então “Can’t Hold Us Down” foi o hino feminista da década dos “duplos zeros”. Dentro de um registo mixado pelo R&B e o Dancehall Christina contra-ataca com palavras de empoderamento contra o patriarcado: “Então porque é que eu não devia ter uma opinião? Eu devia ficar calada só porque sou uma mulher?... Podes chamar-me de vulgar, só porque falo o que penso...”. Aguilera, assumidamente defensora da igualdade de género, disse várias vezes em entrevistas que as estrelas masculinas na indústria musical são respeitadas e vangloriadas por se expressarem sobre a sua vida sexual selvagem, ao contrário das mulheres que, quando decidem ter o mesmo poder de expressão são rotuladas de vadias. 

No primeiro verso foi a Eminem que a cantora quis dirigir a mensagem: “Quando uma mulher dispara de volta, de repente o grande falador não sabe como agir, então ele faz o que qualquer miudinho faria, inventando um ou dois boatos falsos”. Assertiva como sempre, Lil' Kim acrescenta o Hip-Hop da guerrilha cor-de-rosa à faixa: “Aqui há algo que eu não consigo entender, se o homem tem três mulheres então ele é um garanhão, ele pode enganá-las e usá-las sexualmente, mas se a mulher faz o mesmo então ela é uma prostituta”. Em uníssono de sororidade elas finalizam com palavras de empoderamento: “Isto é para todas as minhas irmãs pelo mundo inteiro, que tiveram um homem que não respeita o seu valor, achando que as mulheres devem ser vistas e não escutadas, então nós fazemos o quê? Gritamos bem alto!” 

 

“DONT TOUCH MY HAIR” - Solange Knowles & Sampha (2016)

Não toques no meu orgulho, eles dizem que a glória é toda minha.”

Solange não pode ser considerada apenas a irmã de Beyoncé quando transforma músicas em poesia de manifesto no seu álbum de estúdio A Seat at the Table. E é disso que se trata, é o seu lugar á mesa que reclama, quando como mulher negra nos mostra que o cabelo é uma acção política. “Não toques no meu cabelo, quando são os sentimentos que uso...” “Não toques na minha coroa, eles dizem ser a visão que encontrei” e é neste registo “Black Girl Magic Mood” que Solange passa a visão da discriminação racial contra as pessoas por usarem o seu cabelo natural. Há toda uma história que só quem a viveu pode evocá-la com tanta firmeza como a sulista faz na cancão: “Eles não entendem o que significa para mim, por onde escolhemos ir, onde estivemos que estar para saber.” Ao lado do músico britânico, Sampha, Knowles usa “Dont Touch My Hair” quase como um estado de declaração da sua posição face aquilo que é tao importante para as suas raízes. Em entrevista à BBC explicou: “A música é tanto quanto a sensação de ter toda a tua identidade desafiada diariamente, tocar fisicamente no cabelo pode ser extremamente problemático!" E é neste tipo de arte que a artista através da sua voz suave e melódica levanta o punho para defender a causa: Sabes, este cabelo é o meu melhor, levei tempo para assumi-lo, mas é meu!”

 

“FLUTUA - Johnny Hooker & Liniker” (2017)

“Ninguém vai poder querer nos dizer como amar.”

A ousadia e frontalidade de Hooker juntou-se á doce poesia controversa de Liniker e resultou no encontro de duas lendas brasileiras com uma das cancões mais representativas LGBTQIA+ da língua portuguesa. 

O segundo disco de Johnny apresenta a canção Flutua”, em colaboração com a artista Liniker. A letra retrata a vontade de independência entre um casal gay que mantêm uma relação amorosa, porém enfrentam o seu amor "vetado" devido à agressão e ao preconceito que prevalecem na sociedade.

Sensibilizar, representar e dar voz a causas importantes são os pilares desta obra que aborda temas como a religião e a família no contexto da homossexualidade: “O que vão dizer de nós? Seus pais, Deus e coisas tais, quando ouvirem rumores do nosso amor. Baby, eu já cansei de me esconder, entre olhares, sussurros com você. Somos dois homens e nada mais.”

A obra dos dois intérpretes não ficou somente no registo do manifesto contra a discriminação, no vídeo da cancão (de visualização obrigatória) é possível assistir à representatividade da comunidade surda pelos actores principais, que contracenam no clipe detalhista em tom de curta-metragem. Durante o audiovisual que sensibilizou a crítica, há uma pausa de um minuto de silêncio homenageando a causa da surdez e todas as vítimas mortais de homofobia e transfobia.

Liniker publicou cenas do making of da gravação e declarou que gravar um clipe como esse é uma vitória: “Acho que às vezes não é nem o que a dor lhe ensina, o que você tira da dor, o que a dor traz de bom, mas o que você escolhe fazer com a dor" A letra transmite a esperança “no amanhã”, na aceitação e na coragem de enfrentar o mundo: Um novo tempo há de vencer, para que a gente possa florescer. E, baby, amar, amar sem temer. Eles não vão vencer, baby, nada a dizer em vão. Antes dessa noite acabar baby, escute, é a nossa canção. E flutua.”



“Clitoris! The Musical” - Ashnikoo (2021)

“Por que o meu orgasmo é censurado na TV enquanto rapazes cis conseguem ejacular livremente”

A mixtape Demidevil (2021) serve perfeitamente como um guião para a independência feminina, e “Clitoris! The Musical” é um curto e último capítulo que, declara em tom de ridicularização os estereótipos relacionados à sexualidade, incluindo a heteronormatividade e os tabus do mundo sexual feminino. 

Ashnikoo recebeu imensas críticas nas redes sociais pela ousadia de ter lançado esta canção em forma de sátira onde confessa: “Homem heterossexual cisgénero, estou aborrecida das tuas mãos trapalhonas. Não é difícil! Esta é uma terra desconhecida, e estás tão longe do meu clitóris.” A polémica ebuliu de tal forma que a artista chegou a vir a publico dizendo: Escrevi muitas canções sobre a jornada do homem cis-hétero para encontrar o clitóris, porque, por algum motivo, é uma terra misteriosa e indescritível. Essa música é realmente o meu pequeno petisco de educação sexual. Estou apenas a tentar pagar o que aprendi.” Ash, assumidamente pansexual e género fluído, conseguiu ferir vários egos em apenas 1minuto e 36 segundos de faixa com “farpas” líricas como: “Eu tenho o dobro das terminações nevosas do que o teu pee-pee, se fizesses a porcaria da tua pesquisa seria tão mais fácil, por-favor agrada-me.” A faixa mostra o que há tanto tempo está escondido em camadas de machismo enraizado e na negação do entendimento do desejo sexual feminino: “É como um jogo arcade em que a tua mão é a garra, e o meu orgasmo um ursinho de peluche, que sempre cai.”

 

Filipe Lima