Como Madonna se tornou um ícone LGBTQI? (publicação de capítulo integral)
No mês em que vem actuar a Lisboa, falamos da biografia ilustrada da Rainha da Pop.
A Madonna cantora, símbolo erótico, activista contra o VIH, ou ícone LGBTQI. A Madonna ambiciosa e atrevida, mas também polémica, criticada, insultada e demonizada. De uma pequena vila no Michigan para o topo do pop mundial, esta é a história em livro de um dos mais colossais talentos que a história da música nos ofereceu. Da autoria de Los Prieto Flores (Natalia Flores e Borja Prieto) e ilustrações de Isa Muguruza o livro já se encontra à venda em todos os locais habituais.
O dezanove.pt em parceria com a Iguana, uma chancela da Pinguin RandomHouse Grupo Editorial, publica na íntegra o capítulo dedicado a Madonna como ícone LGBTQI. Podes lê-lo aqui:
Ícone LGBTI
Procurasse-o ou não, Madonna transformou-se num ícone LGBTI. Aos dezasseis anos, a nossa diva penetrou na cena gay pela mão de Christopher Flynn. Para esta jovem, oriunda de uma família rigidamente católica e do contexto de uma Detroit economicamente deprimida e com problemas raciais, este acontecimento inaugurou a descoberta de um novo mundo. Ali, no bar gay Menjo’s, a cantora dançava e misturava-se a um ambiente sem preconceitos, que encontraria mais tarde em clubes de Nova Iorque como o Roxy ou o Danceteria.
Em 1989, o videoclipe Express Yourself transformou a canção num hino para a comunidade LGBTI. «Expressa-te, respeita-te», clamava Madonna ao ritmo da música.
Como já afirmámos, a canção Vogue (1990) constitui um marco. Madonna fica fascinada ao ver a casa Xtravaganza a atuar num clube e convoca dois dos seus bailarinos para coreografarem, participarem no vídeo e juntarem-se ao Blond Ambition Tour. Dessa digressão sai o documentário Na Cama com Madonna, que mostrava a vida dos bastidores do tour e que levou ao estrelato os seus bailarinos. No filme, vemos dois deles a beijarem-se, um marco na história da comunidade gay. A sua importância reside não apenas no facto de as pessoas verem os bailarinos e quererem ser como eles, dançar como eles e viver como eles, mas também de muitíssimas pessoas em todo o mundo terem visto então, pela primeira vez, dois homens a beijarem-se. Os bailarinos de Madonna converteram-se em heróis para a comunidade gay e a diva, vestida com um fato de Jean Paul-Gaultier com cones nos peitos, era a sua deusa, aquela que lhes dera voz e visibilidade.
Mas não seria o único beijo a escandalizar o mundo. Anos mais tarde, nos MTV Video Music Awards, a cantora beijaria Britney Spears e Christina Aguilera na boca.
Nesses mesmos prémios, uns anos antes, em 1999, a cantora coroara um desfile no qual várias drag queens ostentavam alguns dos looks míticos da rainha: o seu vestido de Like a Virgin, o look gótico de Frozen, ou o do estilo cabaret de Open Your Heart.
Em 2008, Madonna enfureceu o governo russo durante um concerto em São Petersburgo, no qual defendeu os direitos da comunidade homossexual, duramente afetada por uma lei que estava prestes a entrar em vigor e que punia a propaganda da homossexualidade. Madonna ergueu a sua voz pela comunidade gay e, como represália, recebeu uma multa equivalente a um milhão de euros que se vangloriou de não ter pagado.
Quer fosse no álbum Erotica ou no livro Sex, Madonna apareceu sempre a desfrutar da sua sexualidade sem tabus, convidando os outros a viverem a deles livremente e defendendo o direito de cada pessoa a experienciar o amor e o sexo como bem entender.
Como diz Lucas «Fauno» Gutiérrez, ativista, escritor e performer argentino, «Madonna trouxe para o mainstream os modos de criar vínculos marginais à heteronorma e até mesmo às representações mais conservadoras. Maricas, exibicionistas, dissidentes e tantos outros, encontrámos nela a visibilização do que somos e do que fazemos. É horrível crescermos a procurar-nos em tantos espaços e constatarmos que “não existimos”. E Madonna, com todas as suas contradições e questões a objetar, levou à cena muito do que nos foi negado.»
Ilustração: Isa Muguruza